Alto Alegre - Resta pouco do antigo povoado e suas varias lendas
31 dez 2018 14:35 Valdir Rios Eng. Ambiental e Radialista
No domingo (23), durante período natalino o evento foi diferenciado para alguns membros do ColorirVárzeadaRoça.
Em busca de aventura esta turma realizou uma excursão em antigas fazendas e áreas da caatinga onde provavelmente há retalhos da história do cangaço no município.
Motivados por aventuras e lendas da época de infância a equipe se baseou em estudos realizados por historiadores. O caminho foi percorrido no intuito de resgatar a memória e buscar uma forma de preservar estes espaços.
O roteiro
Imagem satélite do roteiro realizado Fonte:EARTH (2018).
Os locais visitados foram a Fazenda Euzébio, ruínas da Fazenda de Zé de Baia, Alamarim, Antiga Fazenda de PIANO, Riacho do Jataí/açude de Dona Joana, além do antigo Povoado do Alto Alegre O RESULTADO
Este foi o primeiro roteiro feito por membros do grupo colorir. Existe ainda outros a serem realizados porém a equipe busca contatos com os historiadores e testemunhos da história para prospectar o segundo roteiro. Devem ser inserido às fazendas próximo a antiga capela e cemitério do Carrapato (hoje embaixo da águas da barragem do Jacuípe).
As rotas estão sendo realizadas com base em relatos que ligam estes locais a prováveis cenários da passagem de cangaceiros pertencentes ao grupo de Lampião no ano de 1933.
Vale salientar que este é um trabalho realizado por cidadãos comuns (voluntários). Para melhores resultados devem ser requisitados profissionais competentes a esta área. Por ser de grande importância para a população o resgate e a preservação da sua historia afim de manter sua identidade. Entendemos que a presença do município através do Departamento de Cultura torna-se indispensável.
31 dez 2018 14:35 Valdir Rios Eng. Ambiental e Radialista
Nesta segunda parte construímos um relato com base em memorias antigas retratadas por pessoas da época. Alguns depoimentos atuais e pesquisa bibliográfica e blogs.
Foto atual da Capela do Alto Alegre
FAZENDA EUZÉBIO
Fazenda Euzébio
A Fazenda Euzébio atualmente é propriedade de Everaldino Rios, continua tendo grande importância no desenvolvimento do município.
Sua sede atual foi construída próxima a lagoa que leva o mesmo nome (Euzébio).
Dentro da bacia do Riacho do Jatai, a lagoa do Euzébio, constitui um reservatório natural capacidade hídrica considerável, abastecendo por décadas toda a região durante longos períodos de estiagem. Dai o interesse dos ilustres personagens desta e outras historias, fazerem este trajeto na linha do Riacho do Jatai e o Rio Jacuípe.
Lagoa Euzébio
Um dos seus proprietários com maior destaque foi o ex-prefeito de Mairi, Sr. Carlos de Oliveira Nunes um pioneiro da educação na localidade, tendo este construído escola para filhos de seus empregados e moradores circunvizinhos.
O ex-prefeito possuía influência na região e passa com isso a demonstrar força e poder em varias decisões importantes que mudaram a história do recém criado município de Várzea a Roça dando formatação à estradas, campo de futebol, pavimentação, abatedouro e escolas, sendo o mais forte exemplo a localização da BA 130, que inicialmente em seu projeto, passaria distante do povoado.
O poder até hoje pode ser representado de certa fórmula por um símbolo encontrado em uma parte do telhado da antiga fazenda, seja elemento que denotava certa hierarquia de poder a eira ou beira (elementos que deu sentido a frase sem eira nem beira).
A verdadeira historia da fazenda e seu envolvimento com os cangaceiros ocorrem desde ...(ver mais).
(aguarde).
LOCAL DA ANTIGA FAZENDA E BODEGA DE ZÉ DE BAIA
Ruínas da antiga fazenda
A fazenda e Bodega de Zé de Baia eram pontos estratégicos para quem busca caminhos que interligasse o norte da Bahia (Juazeiro) a outras regiões como Chapada Diamantina via cidade Ruy Barbosa (antiga Orobó), segunda relato de Justiniano Sales. Seu Proprietário Zé de Baia era influente e considerado pessoa culta e exemplar sendo talvez na região alguns dos poucos que conheciam São Paulo.
Estrada que liga Várzea da Roça a ao Rio Jacuípe
Defronte a fazenda há dois locais importantes: A Lagoa de Zé de Baia (parte dela pertence a Antonio Coruja) e a famosa ladeira de Judite onde no topo encontra-se um cruzamento importante, já que interligava a vários locais estratégicos (esquerda Jatai/em frente Rio Jacuípe e estrada de Juazeiro da Bahia e a direita Chapada.
A lagoa era conhecida pelas águas claras e saborosa acumuladas em seus tanques cavados a trabalho braçal e puxados em arraste de couro de boi, que devido o barro conservava por longos período de seca;
A ladeira de Judite além de interligar localidades importantes para a época, sua rotina era ilustrada por varias histórias de assombração.
"Uma delas se dava conta de que havia constantemente alguém que roubava as camas de ouricuri deixada ao terreiro para secagem. Quando viva, dona Judite afirmava que resolveu ficar de tocaia e altas horas surgiu uma mulher que pegava estes ouricuri, ela com muita coragem munida de um porrete e acompanhada de cachorros partiu em direção a mulher, imediatamente a suspeita sai caminhando. Tentando acompanha-la, dona Judite seguia em certa velocidade até perceber que o corpo daquela pessoa só era completa da cabeça até os joelhos (sem os pés) e em noite de lua clara adentrou na mata sem ser seguida pelos cachorros que a esta altura encontrava-se encolhidos próximo a ela".
"Contava tio Anísio em uma certa vez quando veio do povoado de Várzea da Roça retornando para sua casa por volta dàs 19:00h, percebeu alguém a sua frente que caminhava muito depressa mesmo aumentando suas passadas largas, a distância sempre se mantinha. Assim ele imaginou que ao subir a ladeira e na abertura da cancela ele alcançaria a pessoa e assim, saberia quem era o personagem desconhecido. Para sua surpresa a cancela continuou fechada e o caminheiro passou ao seu meio como não houvesse nenhum obstáculo tendo em seguida desaparecido por entre as samambaias e copas das árvores
Onde hoje resta apenas dois pés de ouricuri, haviam um grande quantitativo desta palmeira que margeava toda ladeira e exatamente neste pontos conta-se que sempre se via incêndio porém ao se aproximar, tudo estava normal sem nenhum sinal de fogo.
FAZENDA ALAMARIM
Pertencente atualmente a Sidnei Sales Rios e Seu pai Nilo Sales, esta fazenda já remonta várias histórias desde da época dos seus fundadores.
Dizem que Rosendo Cedraz, por ter problema com a família no município da região de Morro do Chapéu, migrou para esta região deixando por lá suas propriedades abandonadas.
Buscando terras férteis e com água de imediato adquiriu grandes áreas, que segundo Jonga Sales Rios (filho) suas propriedades saiam desde às margens do Jacuípe até o ponto onde hoje passa BA 130 fazendo divisa como Avô de Janjão. Este fato era confirmado por Justiniano Sales filho de João Sales Rios.
O ponto para construir a sede da velha fazenda foi devido a disponibilidade com água, já que esta possui uma lagoa na parte dos fundos, a direita da antiga sede, nasce um riacho onde existe uma pequena represa e mais a esquerda do outro lado da estrada onde hoje é de Paulo Araujo (Paulinho Sambador), existia uma vertente de água a qual foi construída uma cacimba próximo ao velho pé de umbuzeiro (que ainda resiste ao tempo).
Rosendo Cedraz era conhecido pela sua ignorância e também pelo domínio da arte de ferreiro, tendo ele feito toda parte de fechadura, dobradiças da velha fazenda, algo que meu avô João Sales Rios mostrava com orgulho antigas chaves e fechaduras enormes que guardava em seu tempo de vida.
A fama de bruto de Rosendo Cedraz se estendeu pela região que quando alguém se excedia em uma conversa já dizia olha Rosendo Cedraz!
Curiosidade
A xibata
O nome ressoa estranho para quem não é do município, mas, em Várzea
da Roça é comum porque este é o nome que neste município se dar ao bolo de Manuê,
Pé de Moleque (recôncavo), Bolo de Folha (Vale do Jequitinhonha) e, simplificando
na realidade é um bolo de massa feito na palha de bananeira que pode sair em
duas versões milho ou puba, a mesma carimã (massa de mandioca fermentada).
Este saboroso bolo passa a ter outro apelido nesta região com base na
relação de sobrevivência entre sertanejo e cangaceiros.
História contada pela minha vó, Velha Maria e Tia Nenzinha mãe de
Carlinda:
Na década30 (ano de 32 a 33) existia por medo
uma relação dos cangaceiros com a fazenda que em troca de respeito era
oferecido animais pra alimento ou guloseimas prontas (doces, bala de mel,
bolos, biscoitos), mel etc. Porém, a fome desses cangaceiros era insaciável,
havia necessidade de armazenar alimentos para suas constantes peregrinação pelo
solo seco da caatinga.
Estes bolos de manauê como era chamado, eram produzidos em grandes
quantidades e, para guardar longe do risco de perder tudo para os indesejáveis
visitantes, depois de prontos eram armazenados em potes de barros e enterrado
dentro da mata, em pontos que somente um membro da família soubesse. Então
quando as visitas apareciam, sobrava pouca comida para a família, estes se
abasteciam com estes doces.
Para disfarçar da cabroeira o doce de massa na palha de banana passou a
se chamar de Xibata (uma espécie de código secreto), quando alguma das crianças
pediam comida eles já tinham o código secreto e desta forma repetiam
"vou li dar é xibata" (xibata é chicote de bater animais de
cela), assim disfarçadamente saiam um a um acompanhado por alguém que conhecia
o local para dar comida (xibata) às crianças sem ter risco de sofrer
repreensão dos cangaceiros ou ter todo seu alimento levado.
Era comum se fazer clareiras em alguns pontos da mata para plantio de
algumas lavouras rápidas de modo camuflado evitando o conhecimento do grupo.
Imagens xibata (bolo de massa na palha):
Foto: Mariza Pacheco (2018)
Outro dia um amigo (Cumpadre Dasso) encontrou as benditas xibatas em nova versão (pamonha de carimã), na feira da Nova Dias D'avila e pediu a vendedora que embalasse 10 xibatas pra levar, de pronto ela mandou que se respeitasse (rsrsr).
FAZENDA BOA VISTA (morada do Senhor PIANO)
Esta fazenda sempre foi assunto entre os moradores da região, já que
segundo relatos seu proprietário (Sr. Piano), possuía o domínio de muitas artes junto a natureza desde saber se o ano ia ser bom de safra, interação com
animais silvestres, rezas antigas e curas através de raízes/cascas de árvores.
O que mais despertava a curiosidade e o respeito por este personagem era as ‘pantunias’
(termo da época para quem tinha algo fora do comum), era o poder de se
transformar em animais, árvores e até madeira e outros objetos além de ‘invurtar’
(ficar invisível).
São vários os relatos desde Jonga meu avô, Tia Nenzinha, meu pai Muliquinho e
minha mãe dona Guinha. O principalmente testemunha era meu tio Zezinho
(José francisco) um dos únicos a visitá-lo com frequência. Dado ao meu
interesse tirava horas pra relatar varias destas façanhas inclusive uma delas
que ocorreu com ele.
O Sr. José Francisco de Souza, Tio Zezinho como era conhecido gostava tanto de
conversar que ganhou o apelido de "Zezim Badalim" referência ao
badalo de chocalho que não para de tocar.
"José
Francisco de Souza era filho de Antônio Francisco de Souza e Maria Carolina de
Oliveira Rios nascido 17/04/ 1917 na fazenda Capoeira do Milho.
Seus
avós Paternos: Antônio Possidônio de Souza e Maria do Patrocínio de Jesus e Avós
Maternos: Joaquim Morais de Oliveira Rios e Anna Carolina de Oliveira
Irmão
de Maria sua vó conhecida como Fia, João Francisco de Souza (João Penquinha) Antônio
Francisco (Conhecido como Antônio Cabo Branco) João Francisco Rios (conhecido
como João da Preta). Irmão também de Joaquim da Capoeira do Milho, de Margarida,
Joana Souza, Maria a mãe de Dê".
RIACHO DO JATAI E AÇUDE DE JOANA
Um dos efluentes do Jacuípe, o Riacho do Jataí sempre contribuiu com
água para abastecimento em seus poços e alimentação animal às suas margens,
sendo os últimos pontos a que se recorriam até que fosse o Rio Jacuípe único
local a obter água.
No Jacuípe os pontos mais conhecidos era a passagem do povoado do
Maracujá, ponto onde ficava a olaria de Tiaguim, poço do Pau Ferro ou Poço do Cavalo um dos
locais mais bonitos do Rio Jacuípe (hoje coberto pelas águas da barragem do
Jacuípe).
Curiosidade
Seu Tiaguim era um grande fabricante e vendedor de telha de barro
queimada (artesanal) só que não vendia fiado de forma nenhuma e, seu Jargão já
era conhecido, quando alguém perguntava se tinha telha, assim era sua resposta
"tem dinheiro tem teia, se num tem dinheiro não tem teia".
Açude de Joana
Dentro das matas virgens e arbustos da caatinga surgiam este local como
um oásis e nestes cantos sempre havia fartura de alimentos (caças) e água.
Este local foi construído um açude através do DNOCS pelo então prefeito da época
Carlos Nunes. Este grande projeto para a época, atraiu várias famílias
para o local, virando um polo produtor de louças de barro que era vendido
nas missas e nas feiras da região.
A família tradicional de maior destaque foi a de Dona Joana e Cicero que
ganharam o apelido de Joana e Cicero do Açude devido o local.
FAZENDA ALTO ALEGRE
Neste ponto ocorreu talvez uma das penúltimas passagens do grupo remanescente do Bando de Lampião antes do fim do grupo. Dentre eles os mais marcantes Azulão, Zabelê e Canjica, e uma cangaceira de nome Maria que foram mortos na Lagoa do Lino e o cangaceiro Arvoredo que conseguiu escapar do combate na Lagoa do Limo no Povoado de Maracujá.
Pessoas daquela época contavam que este grupo respeitavam a figura de
PIANO, pelo seu domínio das artes místicas e uma Curandeira com apelido
de Fulosinha que morava no Povoado do Alto Alegre que enfrentava o bando.
O historiador Vicente Figueredo (2014) afirma que depois de cometer crime
contra pai e filho em uma fazenda denominada Morrinhos, os mesmos cangaceiros
espancaram uma curandeira tomado de raiva por desobediência ao
grupo.
O feito cometido pelo bando a curandeira, teria sido pago com suas vidas
na referida Lagoa do Limo como resultado de um trabalho feito (mandinga) o qual
deixou o grupo desnorteado.
Não se pode ainda afirmar ser a curandeira Fulosinha a mesma curadeira referida
na causa mortis dos cangaceiros.
Trecho retirado de pesquisa feita VICENTE FIGUEREDO - Historiador. Fonte: QUILOMBO DAS PALAVRAS (2014)
A passagem dos referidos cangaceiros registrada no povoado de Morrinhos.
Buscaremos recorrer aos moradores do local que trazem consigo memorias daquela
época, principalmente Lau e seu França
Em breve traremos histórias
e causos contatos pelo Sr. José Francisco (Tio Zezinho) onde ele retrata
verdadeira aventura de Piano e suas “malinage” como ele gostava de afirmar.
REGISTRO FOTOGRÁFICO DA 1ª ROTA: FAZENDA EUZÉBIO
FAZENDA ALAMARIM
ANTIGA FAZENDA DE PIANO (lendas)
(atual fazenda de Lucia de Hermilino)