Perseidas podem ser observadas em regiões com pouca luz artificial, de madrugada, entre 17 de julho e 24 de agosto
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-07-17/chuva-de-estrelas-entrando-na-atmosfera-a-mais-de-210000-quilometros-por-hora.html As Perseidas observadas de uma região montanhosa.
Começa nesta
sexta-feira um acontecimento astronômico anual
que afetará a Terra e a Lua e se prolongará por mais de um mês. Até 24 de
agosto, cairá a chuva de estrelas cadentes conhecida
como Perseidas, que se
materializa, para o olho humano, em luzes fugazes que atravessam o céu. Estes
brilhos são provocados por pequenos meteoroides (partículas com tamanho
inferior a um grão de areia) que entram na atmosfera a mais de 210.000
quilômetros por hora. “Isto é equivalente a percorrer a Península Ibérica de
norte a sul em menos de 20 segundos”, compara José María Madiedo, especialista
no assunto e pesquisador do Instituto Astrofísico da Andaluzia
(IAA-CSIC).
Este fenômeno
ocorre porque a Terra cruza anualmente os restos da cauda de um cometa,
chamado 109P/Swift-Tuttle, que
completa uma órbita ao redor do Sol a cada 133 anos aproximadamente. Quando se
aproxima do Sol, o cometa se aquece,
emite jorros de gás e pequenas partículas sólidas que terminam na nossa
atmosfera. “A uma velocidade dessas, o choque com a atmosfera é tão brusco que
a temperatura dessas partículas aumenta em até 5.000 graus Celsius numa fração
de segundo, por isso se desintegram emitindo um clarão. Isto ocorre entre os
100 e 80 quilômetros sobre o nível do solo”, conta Madiedo.
Os restos não se
aproximam de outros planetas e não há
nada de nocivo que se desprenda deles. O que estas partículas fazem é
acrescentar minerais à camada alta da atmosfera chamada ionosfera, já que são
compostas de materiais voláteis congelados e metais como o ferro, o cálcio, o
sódio e o magnésio. Madiedo explica que “conforme a Terra vai entrando nessa
nuvem de meteoroides que o cometa deixa à sua passagem, o número de partículas
vai sendo cada vez maior, por isso a atividade das Perseidas vai aumentando até
alcançar um máximo”. Neste ano, nas noites de 12 para 13 de agosto acontecerá
seu ponto culminante no hemisfério sul.
As chaves para
contemplar o céu e perceber essas partículas parecem simples, pois as estrelas
cadentes podem aparecer em qualquer lugar. David Galadí, astrônomo no Observatório de Calar Alto (Centro
Astronômico Hispano-Alemão), recomenda afastar-se da poluição luminosa, em uma
zona rural, por exemplo, com tempo e paciência. “É preciso ir com a ideia de que,
na melhor das hipóteses, você vai ver dois meteoros a cada minuto”, afirma. O
especialista reconhece que a ideia é chamativa porque se trata de ver partes de
outros corpos celestes caírem, mas recorda que é um espetáculo “tranquilo” e
“discreto”. O observatório, em épocas de acontecimentos como estes, tende a se
centrar no interesse da sociedade e em encontrar um equilíbrio para não gerar
decepção. “Temos que recordar que é um espetáculo natural e que não pode
competir com o que nos oferecem os meio audiovisuais atuais”, insiste Galadí.
Em
comparação com o ano anterior, esta chuva de meteoritos poderá ser vista com
mais clareza, já que a lua,
em quarto minguante, não brilhará tanto. Em 2018, as condições foram ideais,
segundo os dois especialistas, pois a lua nova não ofuscava. Em 2019,
entretanto, a chuva de meteoritos caiu na lua cheia, e as estrelas cadentes
mais fracas não puderam ser vistas. Esta chuva de meteoritos recebe o nome de
Perseidas porque, ao se prolongar para trás sua trajetória aparente no céu,
parece que as partículas procedem de um ponto na abóbada celeste na constelação
de Perseu. Em muitos países da Europa, o fenômeno também é conhecido como Lágrimas de São
Lourenço por acontecer no dia 10 de agosto, quando a Igreja
Católica celebra o dia do mártir São Lourenço de Huesca, um dos sete primeiros
diáconos da Igreja, responsável por pelos bens do clero e distribuição de
esmolas aos pobres.
Interesse científico e social
O
que acontece com a Terra não
é o que mais interessa à comunidade científica, pois as Perseidas já foram
muito estudadas durante décadas. Mas o caso da
lua é diferente. Como explica Madiedo, ela não tem uma
atmosfera que a proteja, por isso os meteoroides colidem diretamente contra o
solo lunar, a altíssima velocidade, e se destroem de forma brusca. “Nessa
colisão se forma uma nova cratera e se desprende um breve brilho de luz que o
olho humano não pode perceber diretamente, mas que pode ser detectado da Terra
com a ajuda de telescópios. O estudo destes brilhos nos permite obter dados
muito relevantes sobre as colisões que ocorrem contra a Lua e contra outros
objetos do Sistema Solar,
incluindo a Terra”, detalha. Definitivamente, quanto mais detecções houver,
maior a precisão estatística, e assim se pode conhecer de forma mais acurada os
modelos de impacto.
Para Galadí, observar o céu é um remédio
imprescindível nestes tempos. “É crucial recuperar o contato com a paisagem
natural e mais ainda se a combinarmos com o estímulo à cultura científica”,
opina. Na sua opinião, vivenciar chuvas de meteoritos é uma oportunidade,
acessível e barata, para recuperar a sensação do vínculo entre o cotidiano e o
universal.