Rio Camaçari, a veia aorta da cidade!
Nova ponte Avenida Rio Camaçari-Bairro 46 |
Valdir Rios - Eng. Ambiental e Radialista
26 maio de 2024 13h15
Os rios urbanos tem se tornado
constantes desafios a gestores e a população. Os episódios recentes do Rio
Grande do Sul deixaram ainda mais evidente a necessidade de planejar ações e
executá-las de modo a minimizar as ocorrências de desastres devido às
intervenções humanas e os fatores climáticos que tem se tornado uma ameaça sem
controle, devendo acontecer de forma ainda mais severa e danosa a cada novo
episódio.
No caso da cidade de Camaçari,
referindo-se ao rio que leva seu nome e corta toda a cidade, existem áreas de
ocorrência que mais são afetadas diretamente pelas cheias da qual sempre
necessitaram de maior atenção, tais como horto florestal e o bairro jardim
Brasília.
Os constantes alagamentos causam
prejuízos aos comerciantes e moradores, expondo a população a vários tipos de contaminantes e doenças, que podem ser contraídas nas águas e lixo, como: leptospirose,
hepatite, diarréias e diversas
enfermidades.
ALGUMAS FORMAS DE CONTROLE
Para amenizar estes colapsos ambientais,
o poder de polícia deverá ser uma das formas utilizadas para coibir casos
recorrentes: construções irregulares à margens do rio e dentro do cinturão do
polo, invasões nas áreas das lagoas onde forma a bacia do rio
e Morro da Manteiga que decorre na maioria das vezes visando especulação imobiliária e corte
irregular de madeira com fins comerciais.
O TEMPO ENSINA, MAS O APRENDIZADO É INCERTO
Tratando-se do aquecimento global e dos
eventos climáticos os gestores, empresas e sociedade, precisam de um melhor
formato em suas políticas públicas, comprometimento em suas atividades
produtivas e por último reavaliar seus hábitos de consumo em toda cadeia
produtiva desde a produção até o descarte final dos resíduos sólidos.
Os fatores históricos, o embasamento
técnico, as novas tecnologias e as leis
de proteção ambiental, devem nortear toda reforma e ou novas construções ou seja,
quaisquer intervenções ou mesmo simples reparos, devem ocorrer sob orientação e
ou acompanhamento de profissionais especializados, com o aval do ente público e
o olhar da sociedade organizada, que deve está de prontidão quando a segurança
ambiental estiver ameaçada.
O SOLO COMO FATOR PREPONDERANTE PARA
ESCOAMENTO E CONTROLE DAS CHEIAS
O Clube Arsenal, estacionamento da
feira, áreas remanescentes de dentro e fora da poligonal da Cidade do Saber
devem ser avaliadas para adequações que contemplem uma drenagem moderna
buscando eficiência no escoamento das águas pluviais de forma a permitir a absorção
das águas de chuvas para recarga do lençol freático.
Alguns exemplos:
· Estacionamento da feira:
Ø
substituição de
pavimentação asfáltica para piso drenante permitindo melhor absorção das águas
para o lençol freático;
Ø
Analise para rebaixamento
do nível do piso do estacionamento do centro comercial às margens do rio;
·
Poços de escoamento e valas drenantes em áreas
públicas;
·
Piscinões;
·
maior cobertura de espaços verde nas áreas de
influência (arborização com árvores nativas, adequadas ao projeto);
·
recuperação de mata ciliar em especial nas
lagoas nascentes;
·
recuperação da área de brejo próximo ao Bairro
Maria Meire;
·
Pequenos barramentos naturais (podem ser feito
de eucaliptos);
·
Curvamento e alargamento da calha do rio, no maior
número de pontos possiveis;
·
Construção de parques lineares ao longo do rio nas
áreas urbanas;
·
Construção do ECOPARC RIO CAMAÇARI, na poligonal
do Morro da Manteiga e anel do polo industrial.
Salienta-se, que as menções acima são apenas sugestões. Os
levantamentos e estudos técnicos é que apontarão os melhores projetos e soluções
para obter os resultados esperado.
Nascente do rio requalificada pelo município |
área de brejo a montante das lagoas e nascentes do rio |
DA ARBORIZAÇÃO URBANA
A arborização adequada, além de
contribuir com melhoria térmica, embelezamento paisagístico e autoestima da
população torna-se elemento chave em projetos urbanos como praças, canteiro,
avenidas e calçada. A vegetação além da melhoria na qualidade do ar, melhor
conforto térmico, promoção do efeito esponja, contribuirá significativamente na
retenção e estabilidade do solo.
A NOVA REALIDADE DO RIO CAMAÇARI
Assim, como demais rios urbanos, o Rio
Camaçari deve sempre está atrelado a um modelo especial de gestão hídrica, já
que praticamente todo seu leito se trata de grandes conglomerados humanos onde
riscos ao patrimônio e a vida são iminentes.
O Bairro Jardim Brasília é o calcanhar
de Aquiles, tendo sido o ponto mais vulnerável nesta relação rio X população,
anualmente ocorrem enchentes que além de causar prejuízos econômicos, deixam
danos irreparáveis à saúde física e psíquica.
A RETIRADA DOS IMÓVEIS ÀS MARGENS DO
RIO E A NOVA PONTE DOS 46 SÃO MOTIVOS SUFICIENTES PARA COMEMORAR?
Depende, quais outras ações serão
realizadas? apenas um engessamento do rio que decorre desde outras gestões?
Quais demais obras serão executadas para controlar a fluidez das águas durante
grandes precipitações? Haverá um controle a jusante para minimizar de invasões
das águas em caso de precipitações com grandes volumes? As invasões e o
desmatamento do cinturão do polo e da área de proteção permanente serão
controladas?
“Não é o que se vê ao se transitar pelo
Avenida Vereador Dílson Magalhães.”
Enfim, as intervenções estruturais
citadas (ponte e retirada das casas às margens do rio), são bastantes
significativas, o que dará alivio na pressão do escoamento no leito do rio e
permitirá maior fluidez e escoamento em caso de enchentes, assim um alivio à
população mesmo que temporário.
Vale salientar, que as soluções não
podem ser apenas pontuais e emergentes, ela deve ser contínua e vigilante. Talvez
com uma provável contabilidade ambiental, seria possível afirmar que seguimos
no zero a zero.
O MONITORAMENTO E PLANEJAMENTO A CURTO,
MÉDIO E LONGO PRAZO SÃO INDISPENSÁVEIS.
As ações devem ser permanentes e
colegiadas, principalmente entre Município, Estado e o polo industrial, sendo necessário
esta união para maior eficácia contemplando toda poligonal do cinturão do polo
e da bacia hidrográfica do Rio Camaçari
O Estado/SDE mesmo sendo o detentor de
todo o anel florestal e indiretamente através da EMBASA ser responsável pelos
poços artesianos (abastecimento de água para Camaçari) e esgotamento sanitário (que
tem seu funcionamento e eficiência questionado), tem tido um olhar distante ao
meio ambiente.
Diante da realidade evidente no Rio de
janeiro, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande
do Sul e outras partes do nosso país, se faz necessário instrumentalizar a
DEFESA CIVIL desde grandes aos pequenos municípios, fomentar pesquisas das faculdades e até grupos
que atuam neste campo, no sentido de integrar o conhecimento e uniformizar as
informações para se obter o melhor banco de dados possíveis.
ALGUMAS PROPOSTAS NOCIVAS
Recentemente houve manifestação do
governo do estado no sentido de construir uma vila olímpica em áreas próximas
ao Clube Arsenal com proposta de abocanhar parte desta área, que segundo fontes
extraoficiais o governo alega lhe pertencer. Graças ao bom senso ou motivos
alheios, a ideia não prosperou (ao menos por enquanto).
Percebe-se, que quando não há interesse
por políticas públicas, suprime-se
questões técnicas e ficam de lado os interesses coletivos. Afinal fechar os
olhos aos problemas alheios é habito comum neste nosso Brasil, os desastres
ambientais retratam bem isso.
A REALIDADE
O rio que leva o nome da cidade mesmo
sendo a veia aorta, segue sendo
impactado pelo descarte de lixo, efluentes sanitários, aterramentos, estacionamento
irregulares, construções, desmatamento e outras degradações.
Há um preço a ser pago por toda
Camaçari e a conta chegará, principalmente tratando-se de saúde pública. A própria
população contribui na formação de um habitat apropriado à proliferação de vetores
de doenças.
No ano de 2016, Camaçari viveu uma tríplice epidemia
caracterizada pela emergência da dengue e emergência da chikungunya e zika, espalhando-se
em seguida por toda Bahia e mais recentemente a dengue também deu as caras
inclusive com vítimas.
* zika (vírus identificado no município)
Fonte: G1 (2016)
PLANO DIRETOR EXCLUSIVO DO RIO CAMAÇARI
As ações pontuais desconexa da dinâmica
do rio e do seu entorno, sempre nascerá com déficit. Desta forma o RIO
CAMAÇARI, deve possuir seu próprio plano diretor que contemple um debate mais
amplo, envolvendo inclusive áreas distintas a exemplo de mobilidade, entretenimento,
turismo sustentável, saúde pública, etc.
Se faz urgente um Plano Diretor
exclusivo do Rio Camaçari, envolvendo estudos técnicos multidisciplinares que
resultem projetos, planos e execução de serviços/obras conexas a realidade
ambiental, norteado pelos preceitos e princípios da gestão pública.
DOS AGRAVANTES AMBIENTAIS
Dos polos logísticos e PLAST vem outro
sinal de alerta, pois diante de crise
econômica, empresas do setor químico fecharam suas portas sem ao certo
conhecermos os prováveis passivos ambientais. Nestes locais existem nascentes que afluem no
rio, portanto saber o que há nestas empresas e de que formam estão armazenadas
é necessário para evitar contaminações do corpo hídrico e consecutivamente à
população.
Por último não podemos esquecer os
riscos do Morro da Manteiga aos bairros adjacentes (Novo horizonte e Maria
Meire), os deslizamentos de terras são tragédias anunciadas, além do constantes
assoreamento da calha do rio com os
particulados que descem do morro.
2025 ESTÁ LOGO ALI
Para gestores que completam seu ciclo
agora em 2024, talvez um breve descanso, para quem assume o bastão, a
responsabilidade de um novo modelo para cidade com foco em sustentabilidade,
inclusive conhecendo e aplicando novas abordagens a exemplo de cidades
resilientes, cidade sustentáveis, cidades verde e cidades esponjas, etc.
Independente da nomenclatura, nesta corrida contra o tempo às atitudes tem que
ser assertivas.
Diante do aquecimento global e somente
com ações paliativas e ou corretivas, a população seguirá contando com a sorte
e a velha ajuda de São Pedro quando que a natureza vir buscar o que de fato
lhes pertence.
É verdade, temos que cuidar do meio ambiente o mais rápido possível pois os rios estão morrendo.
ResponderExcluirParabéns Valdir pelo tema, ótima matéria.
ResponderExcluirPois é depois da vi da das empresas piorou a citação
ResponderExcluirFica a fé e a esperança de que em um futuro próximo, nossos gestores desenvolva políticas públicas com o nobre objetivo de alcançar o crescimento e desenvolvimento sustentável - aquele capaz de suprir as demandas atuais sem comprometer o meio ambiente e as necessidades das gerações futuras. Nós, enquanto cidadãos, precisamos nos conscientizar e, cada vez mais, adotar práticas sustentáveis, isto é, fazer uso consciente dos recursos (com o objetivo de preservá-los), afinal, os recursos naturais não são inesgotáveis. Vamos abraçar esta causa?
ResponderExcluirParabéns vc foi direto ao ponto precisamos nos conscientizar e esperamos que os próximos gestores venham abraçar essa causa
ResponderExcluirÓtima matéria sr. Valdir! Solução tem. Claro que não vai ser de um dia para o outro. Dependemos do olhar da gestão pública, não só quando acontece tragédia. Mais tbm, antes e depois. E da educação da população que tbm tem sua grande margem de culpa.
ResponderExcluirO. Movimento SOS RIO CAMAÇARI Isso tudo nos tentamos lá atrás, 2010 mas sem população esclarecida nada acontecerá, prevalecendo como desde sempre os interesses dos tubarões e dos pseudo novos bonzinhos!
ResponderExcluirSobre o Movimento SOS RIO CAMAÇARI original leia:
https://www.camacari.ba.gov.br/conselho-discute-desenvolvimento-urbano-2/