Antibiótico é para os fracos.
Uma pesquisa da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália,
descobriu como as libélulas usam uma cama de pregos microscópica
instalada nas próprias asas para matar bactérias – e
entender os requintes de crueldade desse mecanismo de defesa biológico
pode ajudar a nanotecnologia a aperfeiçoar uma versão sintética muito
útil para o ser humano. Requinte de crueldade, no
caso, é o fato de que esses pequenos pregos, chamados “nanopilares”, não
matam as bactérias simplesmente furando suas membranas – a
opção que parece mais óbvia, e que era a favorita dos cientistas até
agora. A culpa, na verdade, é dos próprios microrganismos,
que liberam substâncias adesivas antes de tocar na superfície assassina
– e acabam grudados ali como figurinhas em um álbum. Quando eles tentam
sair, a força da cola puxa para o lado oposto, e suas membranas rasgam,
deixando o conteúdo da célula vazar. A outra opção, claro, é a bactéria não tentar escapar e ficar colada na armadilha para sempre – o que a mantém viva, mas imóvel.
A cena do crime. (Oloyede et al.)
O problema é que as bactérias usadas para o teste, da espécie E. coli, produzem mais substâncias poliméricas extracelulares (EPS) — nome técnico do “adesivo” — por natureza. Por causa disso, no artigo,
os pesquisadores alertam que ainda não é possível saber se outras
bactérias, com menos secreção, morreriam da mesma maneira ou seriam
simplesmente perfuradas. Outra questão que o estudo
levanta é que os nanopilares das asas de libélula tem tamanhos
irregulares. Superfícies similares produzidas em laboratório para
experimentos tem todos os “pregos” uniformes, o que pode mudar o
comportamento dos seres unicelulares em contato com elas. Seja como for,
esse tipo de material tem potencial para ser o álcool gel do futuro.
Adeus, germes!
Nogués-Bravo, ao lado de um mamute no
Museu de História Natural da Dinamarca snm.ku.dk
Há duzentos anos, a simples ideia de que uma espécie animal
pudesse se extinguir era completamente revolucionária. “Não posso
deixar de acreditar que o mamute ainda existe. A aniquilação de qualquer
espécie carece de exemplos em qualquer parte da natureza que
observarmos”, escrevia em 1796 o paleontologista (e terceiro presidente
dos EUA) Thomas Jefferson. O pai da Declaração de Independência
tinha muitos motivos para pensar que, sem dúvida, a natureza era capaz
de se manter em equilíbrio apesar da pressão que os humanos pudessem
exercer em determinado ecossistema. Hoje, boa parte das notícias que
temos sobre biodiversidade
dão conta de novas espécies em perigo ou já em extinção em vários
rincões do planeta. Mas para determinar o estado de saúde da
biodiversidade da Terra
em seu conjunto, cada vez mais é necessário o uso de novos instrumentos
que permitam chegar ao diagnóstico. A isso se dedica o macroecologista
David Nogués Bravo, que desenvolveu uma nova ferramenta, “como um novo
tipo de telescópio” para observar a diversidade genética
dos animais. “São os blocos da vida que nos ajudam a nos adaptar às
mudanças. Se existem blocos que nos ajudam com as mudanças climáticas,
temos mais possibilidades de sobreviver”, explica Nogués (Zaragoza,
1975), da Universidade de Copenhague, que publicou seus resultados na matéria que chegou à capa da revista Science. A principal observação proporcionada por este telescópio
é que nós, humanos, estamos acabando com a força genética dos animais.
Já sabíamos que arrasamos espécies e ecossistemas, mas também estamos
empobrecendo sua herança genética, o que os torna ainda mais
vulneráveis.
Um de seus primeiros trabalhos de relevância foi, exatamente, sobre a
extinção dos mamutes, um estudo que mostrava como a mudança climática
deixou esses primos peludos dos elefantes
por um fio exatamente quando chegaram os humanos a seus ecossistemas
para lhes dar “o golpe de misericórdia”. Trata-se de um exemplo tão
profético quanto útil para entender como serão as extinções presentes e futuras que estamos provocando.
“Fazemos modelos sobre o futuro, mas não temos uma máquina do tempo
para validar se estes modelos têm sentido ou não. E por isso começamos a
trabalhar sobre o passado”, explica este macroecologista, professor
titular do Museu de História Natural da Dinamarca, um lugar em que “a
ciência é um pilar básico”, o que lhe permite ter projetos de grande
porte que envolvem geneticistas, paleontologistas, ecologistas, biólogos
e cientistas sociais. Em seu grupo de macroecologia, de um total de
oitenta pesquisadores cerca de vinte são economistas e sociólogos “porque temos que entender como os processos econômicos e sociais estão ligados às dinâmicas naturais”, explica.
Somos a espécie que melhor compete na história do planeta. E quando
você compete muito, muito bem, desloca e acaba extinguindo as outras
Durante um projeto de apoio ao desenvolvimento, Nogués teve uma experiência reveladora, em um mercado em Durban (África do Sul),
no qual se faziam poções e se comercializava impunemente pedaços de
animais mortos, muitos deles em risco de extinção —“um dos grandes
problemas com os mamíferos na África”. E, vendo o trabalho de seus
colegas de museu dedicados ao estudo dos insetos sociais, chegou a uma
conclusão: os humanos são o parasita da Terra.
Pergunta.Começamos a sexta grande extinção de espécies da história do planeta, equiparável à que sofreram os dinossauros. Nós, os humanos, somos o novo meteoro? Resposta. O que temos certeza é que os níveis de
extinção que estamos vendo nos últimos 500 anos são um fato único na
história do planeta, que se assemelha a esses outros cinco grandes
períodos de extinção. É importante dizer que nós como humanos estamos
tendo um impacto muito rápido e direto na extinção de centenas de
espécies. Somos a espécie que melhor compete na história do planeta. E
quando você compete muito, muito bem, pode ser bom para sua espécie, mas
você desloca e acaba extinguindo as outras. Somos uma espécie com uma
capacidade para atrair e sugar energia de nosso planeta
em escala global como possivelmente nunca houve antes. Temos a
capacidade de modificar o ambiente, fazendo com que muitas espécies não
consigam sobreviver com este novo competidor. Para a história do planeta
somos uma espécie muito recente, temos 200.000 anos, mas fomos capazes
de competir com as outras até o extremo de ter um controle global sobre a
biosfera. Nos próximos 50 anos vamos ver desaparecer muitas espécies de
primatas para
sempre. De 1.300 espécies de invertebrados marinhos, 25% estão ameaçados
de extinção; de 7.800 de invertebrados de água doce, 34%. Foram
extintas quase 350 espécies de vertebrados nos últimos cinco séculos. Às
vezes temos problemas para visualizar: isso está acontecendo, não é
algo que os cientistas estão predizendo. Assistimos a extinções locais
de forma contínua. Estamos em tempo de resolver muitos desses problemas,
mas para parar essa dinâmica é preciso tomar medidas radicais,
drásticas e que sejam rápidas. P. Por isso o sr. dizia recentemente em um artigo que somos um parasita?
Continuamos sem saber quantos milhões de espécies existem no planeta;
sabemos com certeza que muitas se extinguem antes mesmo de podermos
descrevê-las
R. Isso me veio à cabeça porque meus colegas do primeiro andar estiveram no Brasil
observando um fungo que parasita as formigas, metendo-se em sua cabeça,
e transformando-as em zumbi. Assim conseguem controlá-las por completo
em seu próprio benefício até que as formigas morrem. Desde a origem de
nossa espécie até o Neolítico éramos caçadores-coletores e vivíamos em
relação de comensalismo com nosso planeta: obtínhamos benefícios da
natureza, mas sem causar um impacto significativo. Mas a partir da
Revolução Industrial ocorre uma aceleração exponencial de nossa
capacidade de obter energia e de transformar ecossistemas. E nessa fase
de nossa história de amor e ódio com o planeta é que vem o exemplo da formiga.
Pode soar muito radical, porque o planeta continuará existindo com ou
sem os humanos. Mas estamos dirigindo-o, como se fôssemos a cabine de
controle, e estamos levando-o para uma zona que não garante nossa
própria sobrevivência. Já há estudos que destacam que estamos perto de alcançar níveis insustentáveis para nossa própria sobrevivência. Ser o parasita da Terra nos leva à autodestruição.
P. Isso lembra mais a fábula do escorpião, que não consegue evitar picar a rã que o transporta, mesmo prevendo a própria morte.
R. A biodiversidade é importante em si. Mas se você
quiser pensar de uma forma egoísta, dependemos de inúmeros aspectos do
que a natureza nos dá. A mudança climática
está afetando a capacidade de cultivar plantas, mas também os animais
que polinizam para sobreviver: desde os colibris que polinizam o café na
Jamaica até as abelhas que são responsáveis por centenas e centenas de produtos que encontramos em nossos supermercados. As abelhas estão indo para um declive
acelerado em muitos lugares do planeta a ponto de em algumas regiões da
China as plantas não terem abelhas para polinizá-las. Tiveram de
colocar pessoas para polinizar as árvores à mão. Os recursos que obtemos
da natureza dependem de manter a diversidade de animais e plantas. Como
espécie, nossa sociedade depende desses serviços que nos dão os
ecossistemas.
P. Como a macroecologia pode ajudar? R. Ajuda a estudar em grandes escalas. Em vez de
analisar uma espécie em um único ecossistema, estudamos a distribuição
da vida em escalas continentais e globais. Podemos fazer uma analogia:
há astrônomos olhando uma só estrela ou planeta e nós fazemos um mapa de
toda a galáxia. Tudo está conectado, os problemas são globais, e ver a
natureza sob essa perspectiva permite entender melhor quais são as
dinâmicas que nos rodeiam. Em nossa disciplina se impõe a pesquisa
multidisciplinar, com experiências em grande escala. Agora temos
ecologistas fazendo experiências ao redor de todo o planeta ao mesmo
tempo. Está se tornando uma ciência global na hora de analisar a
resposta à mudança climática. Continuamos sem saber quantos milhões de
espécies há no planeta; sabemos com certeza que há muitas que se
extinguem até antes que possamos descrever. Precisamos convencer quem
financia a pesquisa básica que se não conhecermos a diversidade não
poderemos conservá-la.
P. Nesse contexto aparece seu estudo na Science, uma nova ferramenta para estudar a biodiversidade sob outra ótica.
A melhor maneira de proteger a biodiversidade nos países do Terceiro
Mundo é ajudar a melhorar o modo de vida das comunidades locais
R. Sabemos há anos que há grande diversidade de
espécies e diversidade de ecossistemas nos trópicos, mas há um padrão
global que seguíamos sem conhecer: o da diversidade genética. Pedi um
projeto de mais de um milhão de euros para responder a essa pergunta que
parece simples, mas têm implicações bem grandes na hora de proteger a
biodiversidade e responder às ameaças no futuro. Este primeiro mapa é um
pouco como ter construído um novo telescópio que nos permite
olhar a galáxia completa. Até agora havia estudos em escalas mais
locais: Nova Zelândia, Espanha, Brasil... Mas toda essa informação não
tinha sido colocada junta: conseguimos colocar a informação geográfica
de 30% de todas as sequências que já se publicaram para mamíferos e
anfíbios. Nos próximos anos, espero que passemos a 80% ou 90% em meu
grupo de pesquisa.
P. Esse estudo também revelou o “mapa da ignorância”. R. Uma das principais ideias é que nos demos conta
de que o que não sabemos continua sendo muito mais do que o que sabemos.
Percebemos que as áreas do mundo que são mais biologicamente diversas
são as que conhecemos menos, os trópicos. Sabemos que há centenas de
milhares de espécies, mas há muito pouca informação sobre essas arcas de
biodiversidade.
P. O estudo fala do efeito do Antropoceno. Como se nota a marca humana na diversidade genética?
Uma das grandes ambições da macroecologia é descobrir as leis básicas que explicam a evolução da vida em nosso planeta
R. Nosso trabalho mostra que o padrão global da
diversidade genética do planeta foi modificado por impactos de origem
humana. As regiões do planeta usadas por humanos de forma mais intensa
nos últimos 2.000 anos têm níveis de diversidade genética muito baixos,
muito menores do que o que lhes correspondia por sua posição geográfica
no globo. Nós, humanos, estamos destruindo muitas populações; não vemos
um padrão natural, mas uma marca humana global direta sobre a
diversidade genética.
P. Por que é importante conhecer a diversidade genética? R. São os blocos da vida que nos ajudam a nos
adaptar às mudanças. Se temos blocos que nos ajudam com as mudanças no
clima, temos mais possibilidade de sobreviver. Por isso muitas espécies
com baixos níveis de diversidade genética estão muito mais expostas a
sofrer impactos e extinção.
P. Como a destruímos? R. Uma espécie é constituída por diferentes
populações. Por exemplo, pensemos nos lobos europeus. Os que existem na
Espanha, na Itália, no leste da Europa... Cada população tem uma
arquitetura genética diferente das outras. Se começamos a extinguir ou
reduzir de forma radical muitas dessas populações que são geneticamente
diferentes, vamos eliminando o que chamamos de genótipo. Dessa forma
estamos fazendo com que muitas espécies estejam perdendo grandes níveis
de diversidade genética.
P. Como se resolve essa convivência com os humanos?
Somos a espécie que melhor compete na história do planeta. E quando
você compete muito, muito bem, desloca e acaba extinguindo as outras
R. É uma situação complicada. As populações humanas
estão crescendo a um ritmo muito acelerado e as pessoas precisam comer,
por isso se desmata para plantar. A questão é que as pessoas nesses
lugares estão em condições de pobreza alarmantes. Precisam conseguir
comida e vender recursos para poder viver. Tudo isso está misturado a
grandes interesses econômicos estrangeiros, a governos locais ou
estrangeiros com interesses próprios, que não incluem a preservação da
natureza entre seus principais objetivos. A melhor maneira de proteger a
biodiversidade nos países do Terceiro Mundo é ajudar as comunidades
locais a melhorar seu modo de vida porque, quando não há recursos, a
defesa da biodiversidade fica em segundo plano. Temos de encontrar
maneiras de ajudar o desenvolvimento econômico sustentável das
populações que vivem ao redor dos grandes centros de biodiversidade de
nosso planeta, seria uma das melhores formas de promover a preservação.
P. Qual vai ser o grande sucesso da macroecologia no futuro? R. Descobrir as leis da natureza. Os físicos são
muito bons quando falam das leis da física. Mas, na ecologia, os
especialistas têm sido mais reticentes ao tratar das grandes leis que
regem a natureza. Acredito que, nisso, a macroecologia é muito menos
modesta: em nosso campo, uma das grandes ambições é descobrir as leis
básicas que explicam a evolução da vida em nosso planeta: onde estão as
coisas hoje e onde vão estar, se estiverem, daqui a cem anos. Sem essas
leis não poderemos prever corretamente qual será o futuro da biosfera
dentro de cem anos.
Panorama da doença entre adolescentes e adultos jovens foi lançado nesta sexta.
Por G1
O câncer foi, no período de 2009 a 2013, a principal causa de morte por
doença na faixa etária de 15 a 29 anos, e a segunda causa geral neste
grupo no Brasil, atrás apenas de “causas externas” (acidentes e mortes
violentas de diferentes tipos), segundo um panorama da doença em
adolescentes e adultos jovens lançado nesta sexta-feira (10) pelo
Instituto Nacional do Câncer (Inca) e o Ministério da Saúde (MS).
No período de 5 anos, houve 17,5 mil mortes por câncer entre os
brasileiros de 15 a 29 anos (5% do total de mortes). O trabalho aponta
que a taxa média de mortalidade por câncer de adolescentes e adultos
jovens foi de 67 por 1 milhão. Segundo o ministério, a boa notícia é que
a taxa está estável nos últimos anos.
A publicação aponta ainda que a média de pessoas de 15 a 29 anos que
tiveram câncer foi de 236 casos/milhão. A taxa é bem superior à
verificada em crianças de 0 a 14 anos, que é de 127/milhão, mas inferior
às dos principais tipos de câncer em adultos. O câncer em adolescentes e
adultos jovens, assim como em crianças, é classificado como algo
“raro”.
Os tumores mais frequentes em adolescentes e adultos jovens são os
carcinomas (34%), linfomas (12%) e tumores de pele (9%), indica o
panorama do Inca.
As regiões mais frequentes dos carcinomas em adolescentes e adultos
jovens são no trato geniturinário (taxa de incidência de 24,83 por 1
milhão), tireoide (14,18 por 1 milhão), mama (12,46 por 1 milhão) e
cabeça e pescoço (4,57 por 1 milhão).
O câncer de colo do útero é o de maior incidência em mulheres nesta
faixa de 15 a 29 anos. O desenvolvimento da doença está ligado à
infecção pelo HPV, transmitido na relação sexual. A publicação usa
informações de 25 Registros de Câncer de Base Populacional, o Sistema de
Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde e os 271 Registros
Hospitalares de Câncer.