Segundo o
estudo, a chance de haver uma redução de 1,5 grau na temperatura –
objetivo firmado pelo Acordo de Paris – é de apenas 1%
Por
Fábio de Castro, do Estadão Conteúdo
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31 jul 2017, 20h04 - Publicado em 31 jul 2017, 14h07
Terra: as novas projeções
estatísticas mostram que existe 90% chance de a temperatura aumentar
entre 2 e 4,9 graus em 100 anos (Nasa/Reprodução)
São Paulo – Um novo estudo mostra que é de
apenas 5% a probabilidade de manter o aquecimento global, até o fim do
século, dentro de um limite de 2 graus Celsius.
Segundo os autores, é de 1% a chance de cumprir a meta estabelecida pelo
Acordo de Paris, de manter as temperaturas médias abaixo de 1,5 grau Celsius nesse período.
Um aumento de 2 graus Celsius da temperatura média do
planeta é o limite para um “ponto sem retorno” a partir do qual as
catástrofes climáticas poderiam se tornar incontroláveis, de acordo com
muito climatologistas.
O novo estudo, publicado hoje na revista Nature Climate
Change, aponta que são de 90% as chances do aumento das temperaturas
médias, no século 21, para um valor entre 2 e 4,9 graus Celsius.
“Nossa análise mostra que o objetivo de 2 graus Celsius é o
melhor cenário possível. É alcançável, mas apenas com um esforço maciço e
sustentado em todas as frentes pelos próximos 80 anos”, disse o autor
principal do estudo, Adrian Raftery, professor de estatística e
sociologia da Universidade de Washington (Estados Unidos).
“Nossa análise é compatível com estimativas anteriores, mas
mostra que as projeções mais otimistas são muito improváveis. Estamos
mais próximos da margem do que pensamos”, disse Raftery.
O relatório mais recente do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) estabeleceu as taxas
futuras de aquecimento com base em quatro cenários de emissões de
carbono.
Os cenários variam desde o mais pessimista, no qual as
emissões continuariam na mesma tendência atual, até o mais otimista, no
qual haveria um esforço global sério de transição para uma economia sem
combustíveis fósseis.
“O IPCC deixou bem claro que esses cenários não são
previsões. O grande problema com os cenários é que você não sabe até que
ponto eles são prováveis, nem se eles cobrem toda a gama de
possibilidades, ou se são apenas um punhado de exemplos.
Cientificamente, esse tipo de abordagem não foi totalmente
satisfatória”, disse Raftery.
O novo estudo tem foco em três fatores que sustentam os
cenários para emissões futuras: população mundial total, produto interno
bruto per capita e “intensidade de carbono”, que é a quantidade de
carbono emitida para cada dólar de atividade econômica.
Utilizando projeções estatísticas para cada um desses três
fatores, com base nos dados dos últimos 50 anos em todos os países, o
estudo mostra um valor médio de aquecimento de 3,2 graus Celsius até
2100 e uma chance de 90% de que o aquecimento neste século fique entre 2
e 4,9 graus Celsius.
“Os países lutaram pela meta de 1,5 grau Celsius por causa
dos severos impactos em seus meios de subsistência no caso de excedermos
esse limite. De fato, os danos causados por temperaturas extremas,
seca, clima extremo e aumento do nível do mar será muito mais severo se
permitirmos uma temperatura de 2 graus Celsius ou mais. Nossos
resultados mostram que será preciso realizar uma mudança abrupta de
curso para atingirmos essas metas”, disse outro dos autores da pesquisa,
Dargan Frierson, professor de ciências atmosféricas na Universidade de
Washington.
Um outro estudo coordenado por Raftery em 2014, sob
encomenda da Organização das Nações Unidas, utilizou ferramentas
estatísticas para mostrar que a população mundial dificilmente se
estabilizará no século 21.
O planeta deverá chegar a 11 bilhões de habitantes em 2100.
Intensidade de carbono
Raftery imaginou que o crescimento populacional causaria um
grande impacto no aumento das projeções de aquecimento global, mas ficou
surpreso ao descobrir, no novo estudo, que o impacto populacional não é
tão grande.
Segundo ele, a explicação para isso é que o maior
crescimento populacional ocorrerá em países da África, que usam poucos
combustíveis fósseis.
Segundo Raftery, o fator mais importante para o futuro
aquecimento global é a intensidade de carbono – a quantidade de carbono
emitida para cada dólar de atividade econômica.
Esse valor caiu nas últimas décadas, porque os países
aumentaram a eficiência e estabeleceram padrões para redução de emissões
de carbono, segundo o pesquisador.
A velocidade da queda desse número nas próximas décadas será
crucial para determinar o aquecimento global, de acordo com Raftery.
O estudo mostrou uma ampla gama de possíveis valores de
intensidade de carbono nas próximas décadas, dependendo do progresso
tecnológico e do compromisso dos países para implementar mudanças.
“De maneira geral, as metas expressas no Acordo de Paris são
ambiciosas, mas realistas. A má notícia é que elas provavelmente serão
insuficientes para atingir o objetivo de manter o aquecimento abaixo de
1,5 grau Celsius”, afirmou Raftery.
http://exame.abril.com.br/ciencia/planeta-vai-esquentar-mais-de-2-graus-neste-seculo-diz-estudo/