Crônica: Com base em fatos reais de presidio.
11 maio 15:44H
Autor: Valdir Rios
Eng. Ambiental e Radialista.
(71) 99168-5797
Peça: Canção dos condenados em Portugal Autores: IVAN ANTONIO e ZURIEL RIOS Foto: JOSÉ CALDEIRA |
O sol amarelado no horizonte aos poucos se
escondia. Os raios por detrás de coqueiros e arvores frutíferas existentes
naquele lugar de solidão humana eram cenas comum. Talvez o enclausuramento
quebrasse o encanto, já que poucos sorrisos e olhares voltado ao poente era
manifestado por seus habitantes. Assim, aquelas cenas nostálgicas seriam resultado
do cotidiano próprio ao ambiente.
Era dia 06 de maio, final de tarde da quinta-feira,
exatamente 16:45 horas, de longe me chama atenção “JKS“, (detento de um sistema
prisional), dava seu último suspiro dentro daquele sistema, onde atrás de altos
muros e grades passava parte de sua vida como infrator.
Refiro-me à último suspiro, com base na
fala entusiasta do agora ex-presidiário, ao atravessar o primeiro portão.
Depois de tirar 3 anos de cana, como ele
mesmo relata, ”JKS” atravessa o primeiro portão. Por detrás da tela de arame
vazada, agora em liberdade se depara com sua primeira imagem da rua, ele se utiliza
de todo aquele seu corpo esquelético para erguer mãos aos céus: “Graças a DEUS,
agora vou poder ver minha filha, nunca mais vão me ver aqui”.
O velho “Rasta” seu amigo/irmão como ele
mesmo o define, veio buscar-lhe. Não esperava outras pessoas, talvez entre
tantos dessabores causado a sociedade e o que restou da família (já que só
tinha de mais velho: alguns poucos tios e primos) seria apenas aquele amigo mais
uma vez testemunho e parte de sua história.
A quem e qual recado “JKS” queria passar
na ultimas palavras de sua fala “nunca mais vão me ver aqui”. Estaria ele
disposto a reintegra-se a vida social, respeitando os ditames e regras
estabelecidas? o(s) não(s) que há de vir com seu curriculum de ex-presidiario? “JKS”
se superaria?
Pensei
em Lombroso. Que dicotomia poderia trazer para melhor
definir o jovem?
Dada a influência deste famoso médico psiquiatra e sua teoria sobre “o homem delinquente”, sem muitos disfarces com o prejulgamento estabelecido em cada um de nós,
tratei de descrever silenciosamente a personalidade de “JKS” pelo seu biótipo.
Feito todas as analises percebi que seria fácil o ex-detento ganhar um
novo emprego e oportunidade em seu meio social.
Sua boa aparência o distanciava do homem delinquente descrito por
Lombroso. Logo aquele jovem não deveria está ali, teria a justiça se equivocado
ao condena-lo? Ou realmente a metodologia de Lombroso tinha graves erros, sendo
contestável até os dias atuais.
A passagem por serviços laborais distintos dentro do presidio, o fez
padeiro, cozinheiro e quem sabe até podendo se arriscar de alquimista, já que
sua ultima passagem foi como manipulador de cores, em uma pequena fábrica de
tintas instalada dentro do presidio.
Se nada der certo, quem sabe de último arriscaria um emprego em algum sítio
como caseiro, ou ajudante pois acreditava ser possível desenvolver outro dote
adquirido nas hortas coletivas, quando plantava hortaliças e cuidava de
galinhas na prisão.
O certo é que sua filha já não o visitaria naquele local, ele agora dono
da sua liberdade poderia acompanhar de perto o crescimento de sua pequena e
dar-lhe uma vida dígna já que ele não a teve.
No curto trecho entre o presidio e o ponto de ônibus, várias vezes “JKS”
erguia as mãos e vibrava, lembrei-me quando aos 18 anos recebi o diploma de
magistério. Seus passos longos e apressados pelas vielas esburacadas do pequeno
povoado, experimentavam o sabor da liberdade, mesmo que preso ainda tivesse ao
seu passado.
Se tudo aquilo fosse uma cena de novela, acompanharia até o ultimo capítulo,
aguardando aquele final feliz normal a estes enredos. Se o mocinho ao final
perecesse seria decepcionante.
Como tudo é real, resta acreditar na capacidade humana de auto
recuperação, na força que o amor pela filha poderá exercer em “JKS” e, na
sociedade disposta a restabelecer vínculos com alguém que por motivo outros desrespeitou
as ordens sociais.
Talvez “oportunidade” seja o elemento basilar na vida das pessoas e atue
como linha divisória do tempo e do próprio “ser”. A “oportunidade” será capaz
de definir escolhas e rumo, levando o indivíduo a direcionar-se ao bem ou ao mal.
Fora as convicções ou padrões estabelecidos por Lombroso, crê é o que
nos resta, afinal a vida sempre nos surpreende.
Desde a infância nas histórias replicadas e guardadas por estes longos
anos de existência, ouvi e aprendi que o bem triunfa sobre o mal (pelo menos
deveria).
Tomara ser aquela criança o elo que ligará seu jovem pai a liberdade
para todo sempre. Se assim ocorrer poderei dizer Hasta la vista amigo.
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O nome do personagem "JKS" é fantasia qualquer similaridade será coincidência.