Meio Ambiente & Desenvolvimento Humano

sábado, 11 de maio de 2019

Hasta la vista amigo


Crônica: Com base em fatos reais de presidio. 

11 maio 15:44H

Autor: Valdir Rios 
Eng. Ambiental e Radialista.
(71) 99168-5797


Peça: Canção dos condenados em Portugal   Autores: IVAN ANTONIO e ZURIEL RIOS     Foto: JOSÉ CALDEIRA            


O sol amarelado no horizonte aos poucos se escondia. Os raios por detrás de coqueiros e arvores frutíferas existentes naquele lugar de solidão humana eram cenas comum. Talvez o enclausuramento quebrasse o encanto, já que poucos sorrisos e olhares voltado ao poente era manifestado por seus habitantes. Assim, aquelas cenas nostálgicas seriam resultado do cotidiano próprio ao ambiente.

Era dia 06 de maio, final de tarde da quinta-feira, exatamente 16:45 horas, de longe me chama atenção “JKS“, (detento de um sistema prisional), dava seu último suspiro dentro daquele sistema, onde atrás de altos muros e grades passava parte de sua vida como infrator.
Refiro-me à último suspiro, com base na fala entusiasta do agora ex-presidiário, ao atravessar o primeiro portão.

Depois de tirar 3 anos de cana, como ele mesmo relata, ”JKS” atravessa o primeiro portão. Por detrás da tela de arame vazada, agora em liberdade se depara com sua primeira imagem da rua, ele se utiliza de todo aquele seu corpo esquelético para erguer mãos aos céus: “Graças a DEUS, agora vou poder ver minha filha, nunca mais vão me ver aqui”.  

O velho “Rasta” seu amigo/irmão como ele mesmo o define, veio buscar-lhe. Não esperava outras pessoas, talvez entre tantos dessabores causado a sociedade e o que restou da família (já que só tinha de mais velho: alguns poucos tios e primos) seria apenas aquele amigo mais uma vez testemunho e parte de sua história.

A quem e qual recado “JKS” queria passar na ultimas palavras de sua fala “nunca mais vão me ver aqui”. Estaria ele disposto a reintegra-se a vida social, respeitando os ditames e regras estabelecidas? o(s) não(s) que há de vir com seu curriculum de ex-presidiario? “JKS” se superaria?

Pensei em Lombroso. Que dicotomia poderia trazer para melhor definir o jovem?
Dada a influência deste famoso médico psiquiatra e sua teoria sobre “o homem delinquente”, sem muitos disfarces com o prejulgamento estabelecido em cada um de nós, tratei de descrever silenciosamente a personalidade de “JKS” pelo seu biótipo.

Feito todas as analises percebi que seria fácil o ex-detento ganhar um novo emprego e oportunidade em seu meio social.

Sua boa aparência o distanciava do homem delinquente descrito por Lombroso. Logo aquele jovem não deveria está ali, teria a justiça se equivocado ao condena-lo? Ou realmente a metodologia de Lombroso tinha graves erros, sendo contestável até os dias atuais.

A passagem por serviços laborais distintos dentro do presidio, o fez padeiro, cozinheiro e quem sabe até podendo se arriscar de alquimista, já que sua ultima passagem foi como manipulador de cores, em uma pequena fábrica de tintas instalada dentro do presidio.

Se nada der certo, quem sabe de último arriscaria um emprego em algum sítio como caseiro, ou ajudante pois acreditava ser possível desenvolver outro dote adquirido nas hortas coletivas, quando plantava hortaliças e cuidava de galinhas na prisão.

O certo é que sua filha já não o visitaria naquele local, ele agora dono da sua liberdade poderia acompanhar de perto o crescimento de sua pequena e dar-lhe uma vida dígna já que ele não a teve.

No curto trecho entre o presidio e o ponto de ônibus, várias vezes “JKS” erguia as mãos e vibrava, lembrei-me quando aos 18 anos recebi o diploma de magistério. Seus passos longos e apressados pelas vielas esburacadas do pequeno povoado, experimentavam o sabor da liberdade, mesmo que preso ainda tivesse ao seu passado.

Se tudo aquilo fosse uma cena de novela, acompanharia até o ultimo capítulo, aguardando aquele final feliz normal a estes enredos. Se o mocinho ao final perecesse seria decepcionante.

Como tudo é real, resta acreditar na capacidade humana de auto recuperação, na força que o amor pela filha poderá exercer em “JKS” e, na sociedade disposta a restabelecer vínculos com alguém que por motivo outros desrespeitou as ordens sociais.

Talvez “oportunidade” seja o elemento basilar na vida das pessoas e atue como linha divisória do tempo e do próprio “ser”. A “oportunidade” será capaz de definir escolhas e rumo, levando o indivíduo a direcionar-se ao bem ou ao mal.

Fora as convicções ou padrões estabelecidos por Lombroso, crê é o que nos resta, afinal a vida sempre nos surpreende.

Desde a infância nas histórias replicadas e guardadas por estes longos anos de existência, ouvi e aprendi que o bem triunfa sobre o mal (pelo menos deveria).

Tomara ser aquela criança o elo que ligará seu jovem pai a liberdade para todo sempre. Se assim ocorrer poderei dizer Hasta la vista amigo.

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O nome do personagem "JKS" é fantasia qualquer similaridade será coincidência.

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VIDHA LINUS

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