Dois terços dos pagamentos da Previdência são de um salário mínimo ou menos, e não há como salvar os pobres da reforma. Mas se não fosse a corrupção, daria.
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5 maio 2017, 14h41
- Atualizado em 6 maio 2017, 16h38
De onde sairia o dinheiro? Não é simples. 68% dos pagamentos
da Previdência são de um salário mínimo ou menos. Não há como salvar os
mais pobres da reforma e cobrir o rombo ao mesmo tempo. Mas tem um
detalhe: não fosse a corrupção, daria. Só a diferença entre o orçamento
inicial e o atual de 19 obras ligadas à Lava Jato já dá R$ 162 bilhões
(R$ 135 bi projetados contra R$ 297 consumidos de fato, segundo um
levantamento feito pelo UOL em 2016). Isso é quase todo o déficit da
Previdência projetado para este ano – e R$ 20 bilhões a mais que o rombo
do ano passado. Não significa que seja tudo superfaturamento, claro.
Além de obras ficarem mesmo mais caras com o tempo, boa parte do
superfaturamento de praxe já está embutido no orçamento inicial. Não
estou comparando perdas que rolaram por mais de uma década com um
déficit anual, que, se nada for feito, só vai crescer ano a ano.
Não. A questão não é essa. O ponto é que esse cálculo dá uma
medida do volume de dinheiro público que chafurda no lamaçal da
corrução – e estamos falando só de 19 obras. Somando isso à avalanche de
dinheiro desperdiçado em emprétimos irresponsáveis via BNDES e isenções
fiscais sem pé nem cabeça, temos aí um rombo trilionário. A ausência de
tal rombo talvez não impedisse a necessidade de uma reforma na
Previdência, mas certamente deixaria mais portas abertas para evitar
medidas abusivas – e deixar um grande naco da população mais pobre sem
aposentadoria, ou qualquer tipo de assistência financeira na velhice, é,
sim, abusivo. No fundo, quem está pagando a conta pela farra da
corrupção e da incompetência são eles mesmos: os que acordam às 5h da
manhã para pegar ônibus lotado em troca de salários que não chegam até o
fim do mês, que dirá até o fim da vida. São eles os grandes fiadores da
bandalheira.
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