Meio Ambiente & Desenvolvimento Humano

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Bolsa Verde estimula reflorestamento

Na Reserva Extrativista Delta do Parnaíba, 22% das famílias recebem o benefício como contrapartida à preservação ambiental.

Sexta, 16 Junho 2017 00:00

RENATA MELIGA (texto) e GILBERTO SOARES (fotos)
Enviados especiais ao Delta do Parnaíba
Gilberto Soares/MMA                                Plantio na comunidade de Canárias



Quase três mil famílias da Reserva Extrativista Marinha Delta do Parnaíba, localizada entre os estados do Maranhão e Piauí, vivem da pesca artesanal e, especialmente, da cata de caranguejo. Dessas famílias, 639 (22%) recebem recursos do Programa Bolsa Verde, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), como um estímulo à preservação do ecossistema.

O Bolsa Verde apoia a superação da pobreza em unidades de conservação de uso sustentável, concedendo R$ 300, a cada três meses, a famílias em situação de extrema pobreza que desenvolvem atividades de conservação.

De acordo com gerente de projeto do Departamento de Extrativismo do MMA Leonardo Pacheco, resultado do monitoramento da cobertura vegetal nas áreas atingidas pelo Bolsa Verde, realizado pelo ministério, em parceria com a Universidade Federal de Lavras (MG), aponta que houve regeneração da vegetação nessas regiões.

Pacheco explica que ao longo dos anos, a partir do momento em que as pessoas residentes nas unidades de conservação passam a receber recursos do programa, é possível observar que a área desmatada é menor. “Ainda não podemos afirmar, contudo, que a diminuição da área antrópica está diretamente relacionada com a atuação dos beneficiários do Bolsa Verde. Estamos dando início a estudos que possam fazer essa relação, mas os números nos dão uma boa perspectiva nesse sentido”, esclareceu Leonardo.

Com uma área de 27 mil hectares, a reserva extrativista está inserida nos municípios de Araioses e Água Doce, no Maranhão, e Ilha Grande, no Piauí. Além da pesca e da cata do caranguejo, os moradores das comunidades praticam outras atividades tradicionais como a cata de mariscos, retirada do pó da carnaúba, aproveitamento de frutas, agricultura familiar e artesanato.

CANÁRIAS

Há 16 anos, Maria da Conceição Araújo Silva (foto abaixo), 29 anos, vive na comunidade de Canárias, uma das cinco que fazem parte da Resex. Pescadora profissional, ela é beneficiária do Programa Bolsa Verde e acredita que a conservação do meio ambiente tem relação direta com a subsistência da sua família. “O programa foi uma grande melhoria aqui para a comunidade. Ele mudou muito minha vida. Além de ajudar na questão financeira, contribui para o nosso conhecimento em relação à importância de preservar o meio ambiente. Se você não preservar, como é que você vai ter um futuro melhor para os seus próprios filhos? ”, questionou a pescadora.



Também para garantir o futuro de seus descendentes, a pescadora Maria Iracélia Lima de Carvalho, 31 anos, se engajou na questão ambiental. Iracélia é uma das beneficiárias do programa que está à frente do mutirão de plantio de mangue na região. No último evento, realizado em maio deste ano, ela mobilizou e incentivou toda a população a participar da atividade. Segundo Iracélia, embora a região seja muito rica em biodiversidade, a população vive de maneira bastante humilde. “Com a chegada do Bolsa Verde, as pessoas começaram a se preocupar mais com a questão da natureza. O programa nos trouxe benefícios econômicos e mais consciência ambiental para a população”.

Maria Iracélia acrescentou, ainda, que o plantio e a preocupação com o meio ambiente são extremamente importantes. “O que nós estamos fazendo aqui irá refletir diretamente na vida dos nossos filhos no futuro. O mangue protege o camarão, o caranguejo. É do mangue que tiramos o nosso sustento”, enfatizou. Para a pescadora, é muito bom poder contribuir para a natureza. “Espero que essa experiência possa ser passada de pai para filho e que possamos todos proteger nossa ilha”, concluiu.
Nascida em Canárias, Lucineide Alves Marques (foto abaixo), 40 anos, também tem a consciência de que proteger a biodiversidade é de extrema importância para a garantia de seu sustento. “Acho que nós devemos proteger mais a natureza. Queremos melhorar para termos os peixes sempre em nossa ilha. Os peixes se reproduzem no mangue e desmatando o mangue nós é que saímos prejudicadas”, lembrou.



FORTALECIMENTO 

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é o órgão responsável pela gestão das unidades de conservação federais. Segundo a gestora da Resex, Tatiana Rehder, a “comunidade de Canarias passa por um processo de fortalecimento comunitário e que, aos poucos está sendo feita uma construção coletiva de ações na região.

“Estamos reestabelecendo a confiança e propiciando atividades que já apontam para o fortalecimento das associações locais. É o início de um processo de organização e os primeiros passos para a gestão da pesca. Sobre a pesca, várias oficinas foram realizadas com os pescadores para a discussão e construção coletiva de como melhorar a estabelecer regras sobre as pescarias. O primeiro passo foi e continua sendo, o fortalecimento comunitário”, disse.
 
PLANTIO

Em visita recente à Reserva Extrativista Marinha de Delta do Parnaíba, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, se comprometeu a dar prioridade na elaboração do plano de manejo e a estudar a ampliação da área da Resex. Na ocasião, o ministro participou da ação para recuperação de área de manguezal degrada na Ilha das Canárias. Cerca de dois mil pés de siriba (espécie comum em mangues) foram plantados nos limites da Resex.

Acesse fotos

A atividade faz parte de uma iniciativa da própria comunidade e conta com apoio do ICMBio, da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e das organizações não governamentais Comissão Ilha Ativa e Rare.

Ao participar do plantio das mudas, o ministro Sarney filho explicou que, nas localidades onde o Programa Bolsa Verde foi implantado, o desmatamento é menor do que em áreas em que ele ainda não existe. “Aqui mesmo, na Resex do Delta do Parnaíba, todo programa de plantio do manguezal foi feito por beneficiários do Bolsa Verde, principalmente por mulheres. O Bolsa não é um programa meramente social, é um programa ambiental e está diretamente ligado a unidades de conservação de sustentabilidade”, disse.

Assista ao depoimento do ministro Sarney Filho

O idealizador do projeto, Francisco das Chagas Rodrigues (foto abaixo), integrante do Grupo de Assessoramento Técnico do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal (PAN Manguezal), explicou que a proposta surgiu após observar várias áreas na região que estavam sem vegetação nativa, degradadas.



Rodrigues teve a ideia de convidar mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Verde para ajudá-lo a reflorestar essas áreas. “É isso que temos feito. Esta é a terceira atividade de plantio, mas gostaria de contar com pessoas de toda a comunidade e não apenas dos beneficiários do Bolsa Verde. Mas, enquanto houver áreas degradadas e gente disposta a plantar, continuarei a lutar”, contou.

DELTA

O Delta do Paranaíba, único delta em mar aberto das Américas, localizado entre os estados do Maranhão e Piauí, além de ser um santuário de reprodução e alimentação de peixes, caranguejos, mariscos, lagostas e camarões, compõe uma vasta área de grande produtividade e exuberância natural. Composto por mais de 75 ilhas, está inserido em duas unidades de conservação: Resex Marinha Delta do Paranaíba e da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba.

Os manguezais, praias e estuários deste território garantem a reprodução e alimentação da vida marinha, desempenhando papel fundamental no equilíbrio ecológico da região.

Aproximadamente dez mil famílias, tanto da Resex quanto do entorno, vivem da pesca artesanal até os dias de hoje na região do Delta, utilizando técnicas tradicionais, o que justificou a criação da Resex Marinha Delta do Parnaíba.

Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA): (61) 2028-1227
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