Uma crônica sobre Minas, para amenizar o sofrimento.
Foto: Instituto Innhotim, MG
Março/2014
Valdir Barreto Rios
Sois belas, sois Minas, sois
um só Gerais de transformações divinamente geográficas que corta, marca e
demarca de forma enigmática o mapa, dando vida e corpo, formando um relevo de
pele e tons, com esta essência cultural brasileira única.
Das montanhas não se devem
tentar decifrar seus enigmas, pois são embaraçadas, ondas de praias que na
falta de um mar, por longas planícies o velho Chico se desenhou, num despencar das
úmidas gotas jorradas do alto, onde segue sempre rasgando a terra em múrmuros, tracejando
cerrado e caatinga.
Não se sabe se a porta pra seu
interior está na visão, emoção, razão ou apenas desce escoando em forma de velozes
cachoeiras, tão perigosas que faz valer o grito de alerta dos riscos
incalculáveis, tal qual é, navegar e desvendar o velho Chico sem antes o reverenciá-lo.
Das suas garrafais letras, ressurgem
os rabiscos que por tuas lágrimas vezes tristes, vezes alegres, preenchem os
espaços das sinuosas curvas dos teus rios, formando um grande tapete turvo que
formam leitos, que muitos gostariam de se deliciar em solo de cidades
ribeirinhas.
Ah! como seria bom, poder
matar a sede, abrandar o fogo, ou pelo menos aliviar desejos intrépidos
escondidos que queimam sem incendiar.
Observa-se dentro destas tuas
frondosas matas virgens, mesmo explorada ou não, o vigor da tua força, sempre suspensas
a bailar, sem destino, como lençol em varal acobertado por tuas exuberantes
serras, estão as tralhas do viajante em hipnose, logo vê-se, imóvel e atônito
de forma que já não consegue avançar ao destino pretendido.
As grutas como parte feminina
“intocadas” estão, aos bons olhos do passageiro solitário, que em sua sina,
apenas acena pela janela da Maria Fumaça, donde vem o assovio do vento
acorrentado pelas imagens das altas nuvens, que se embaraçam ao lambido da
fumaça emitida a cada esforço no subir da serra.
Na estação com a chuva fina e
o vento forte, o violeiro abraça a viola, entoa sua canção em um timbre
afinado, que mais parece ser forjada a fogo e brasa de um polido fogão de lenha.
Assim, encanta-se a menina, sorria o testemunho dos anos que também observa a
inocência nos braços, que não sabe se é quesível, pois ecoa também uma cantiga
de ninar.
Na pequena fresta de uma porta
entreaberta, iluminada pelo ardente sol de verão, numa velha cabana de sapé, em
cima de uma cama de vara, está o velho cobertor de lã à espera do corpo que ao
sentir o frio da noite certamente se abrigará ao teto e ao calor humano do anjo
protetor.
Avistam-se sombras de um velho
ipê, que de tão roxo suas flores se confundem a cor do batom, que delineou a
geometria e a face dos arco-íris matizados por uma fé inigualável que faz
ampliar procissões nas ladeiras a busca das Igrejas, ou em caminhos reais a
procura da tão rara jóia.
Nas veredas e vales de
Salinas, te embriagas pelo arder da bebida extraída da moagem da cana, porque,
através dela, tomas coragem de passar a ponte que mesmo quebrada, será este
sempre, o único caminho para teu refúgio.
Desta forma retoma a
realidade, só agora entendendo que atrás das preciosidades, os viajantes buscam
tanto ouro em Ouro Preto, que até esquecem dos diamantes deixados em
Diamantina.
Não te aquietes, mas contenta-te,
a firma-se em qualquer solo mineiro, Canastra, Jequitinhonha ou Sertão. Seja
qualquer cidade ribeirinha, de preferência Januária pela caninha ou sua
história, levada aos longínquos rincões pelo velho vapor, que suave deslizam
nas águas do Velho Chico.
Lembra-te sempre destas terras
de grutas e gerais, onde tudo é ouro de mina. Porque a riqueza das minas estará
sempre nas minas de Minas Gerais.
0 comentários:
Postar um comentário