Minas Noticias
O campo dos estudos literários adota uma metodologia de pesquisa bibliográfica
Mergulhar no mundo da poesia é uma
tarefa prazerosa assumida por muitos pesquisadores da área de Letras.
São estudiosos que se envolvem com textos e autores em busca da beleza
abstrata que existe nas obras literárias. Algumas pesquisas são voltadas
para análises das entranhas dos poemas, os aspectos formais, rítmicos e
possibilidades de significação. Outras investigações se interessam
pelos processos de edição e há trabalhos nos quais o texto serve como
pretexto para debates culturais e sociais. Esta semana é comemorado o
Dia Nacional da Poesia, em homenagem ao baiano Castro Alves, por isso
conversamos com cientistas das letras para compreender o trabalho.
O pesquisador Rafael Fava Belúzio
acredita que estudando a tradição literária escreve melhor os próprios
textos. Da iniciação científica ao mestrado, pesquisou a Lira dos vinte anos
(publicado na década de 50 do século 19), a principal obra de poemas de
Álvares de Azevedo. O resultado das pesquisas está no livro lançado por
Belúzio, Uma lira de duas cordas. Para o doutorado, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele prepara a tese sobre a poesia de Paulo Leminski.
“Estudar poesia me motiva a estudar poesia. É um fim em si mesmo. O amor pela coisa em si. Essa é a causa mais importante para mim, mas existem outras também. Como pagar as contas. Embora haja pouco reconhecimento econômico, estudar poesia é uma maneira de ganhar dinheiro. Um modo complicado de o fazer, por sinal”, explica.
A professora do Centro Federal de
Educação Tecnológica (CEFET-MG), Andrea Soares Santos, dedicou os anos
de estudo do mestrado e doutorado à obra do poeta Haroldo de Campos.
Para ela, o gênero poesia passa uma impressão de ser mais difícil ou
menos acessível, o que torna a tarefa da pesquisa desafiadora. “A arte
da escrita é muito identificada como poesia, historicamente, e isso dá
status ao pesquisador. Pessoalmente, estudo pelo gosto, por adorar
alguns poetas”, conta.
De modo geral, o campo dos estudos
literários adota uma metodologia de pesquisa bibliográfica. O cientista
levanta um corpus de textos de interesse e trabalha criando seu próprio
senso interpretativo da obra. Eventualmente a pesquisa pode envolver um
trabalho de campo, além de entrevista ou coleta de dados com os poetas.
Belúzio, por exemplo, durante o mestrado, leu os poemas de Álvares de
Azevedo, os textos críticos sobre a obra e teorias sobre poesia para
desenvolver uma hipótese inovadora de interpretação. Para a professora
Andrea Santos, o pesquisador de poesia também precisa gostar de estudar
linguagem. “A prosa atrai pelo conteúdo e pelo contexto. A poesia é
absoluta, por isso o problema da linguagem fica mais imperativo. Isso
acaba determinando a metodologia de pesquisa”, explica.
Quem é este cientista das letras?
De acordo com Belúzio, o pesquisador de
poesia é aquele que pensa o belo construído em textos literários, mas
também reflete problemas de ordens políticas, éticas, religiosas,
linguísticas e históricas. “Pesquisar poesia é abrir novos caminhos de
leitura e interpretação. Uma forma de conhecer os versos, mas não apenas
eles. Aprender sobre o homem e o mundo”, conclui.
A professora Andrea Santos
também enxerga a leitura da poesia como uma forma de enriquecer nossa
leitura sobre a vida. Ela é engenheira de formação e teve experiências
na área das ciências exatas, por isso explica algumas diferenças:
“A sociedade tem uma concepção de ciência muito voltada a questões pragmáticas. Como eu fui da engenharia, eu sei o que é fazer uma pesquisa de ordem pragmática, mas isso não excluir o estudo bibliográfico, a escrita e o pensamento. Às vezes a pesquisa na área de Letras soa como gratuita, sem fins práticos, mas acho que a reflexão sobre os fenômenos da cultura é essencial para as pessoas entenderem o mundo que vivem”.
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