Documentário Samba de Cacete - Alvorada Quilombola
foi realizado a partir do edital
Curta Afirmativo,
promovido pelo MinC em 2014 (Foto:
Reprodução)
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As imagens da tradição de origem quilombola dos batuques do tambor que aliviam a lida cotidiana dos negros na Amazônia foram premiadas no Festival Internacional Du Film Pan Africain, paralelo à premiação francesa de Cannes. Escolhido pelo júri como melhor documentário de curta-metragem, o filme Samba de Cacete - Alvorada Quilombola foi realizado a partir do edital Curta Afirmativo, promovido pelo Ministério da Cultura em 2014, por meio da Secretaria do Audiovisual (SAv) e da Fundação Cultural Palmares.
O curta-metragem Nada, realizado pela edição de 2012 do mesmo edital, também esteve em Cannes. A produção foi selecionada para a Quinzena dos Realizadores de 2017, tradicional evento paralelo organizado pelo Sindicato dos Diretores da França.
O reconhecimento das produções nacionais viabilizadas com apoio de
políticas públicas do MinC foi ressaltado pela secretária do
Audiovisual, Mariana Ribas. "Nossa política foi a de descentralizar
investimentos e buscar revitalizar as cadeias produtivas regionais por
meio do protagonismo de novos talentos", destacou.
O projeto Samba de Cacete - Alvorada Quilombola
recebeu R$ 99 mil do MinC. O cineasta André dos Santos, a partir de uma
pesquisa arqueológica, conheceu a tradição do samba de cacete e decidiu
filmar a comunidade quilombola chamada de Igarapé Preto, no município
de Oeiras do Pará. Já o curta-metragem Nada, do diretor mineiro
Gabriel Martins, foi aprovado pelo MinC em 2012 para receber R$ 91 mil.
A produção traz no elenco MC Clara Lima, rapper em ascensão na cena
brasileira e finalista no Duelo de MCs Nacional em 2016.
Política afirmativa
Para o presidente da Fundação Cultural Palmares, instituição vinculada
ao Ministério da Cultura, os editais começaram a dar oportunidades a
novos artistas e cineastas afro-brasileiros. "Queremos levar essa
oportunidade a talentos afro na produção audiovisual nacional, que por
muito tempo ficaram esquecidos", afirmou.
A preocupação é corroborada pelo diretor de Samba do Cacete,
André dos Santos. "O que me chamou atenção é que se trata de uma
tradição afro-brasileira, trazida pelos escravos, e me preocupava também
porque é algo que está muito na oralidade, não tem muita coisa escrita
sobre o assunto. E para a salvaguarda, para ficar registrado para as
próximas gerações, decidimos realizar o documentário. É uma manifestação
única com elementos daquela região que pouca gente conhece, o grande
público merece conhecer. Outra coisa interessante é que o samba de
cacete, apesar de ser samba, que é bem brasileiro, não é reconhecido
como patrimônio, ao contrário dos sambas do Rio de Janeiro e do
Recôncavo Baiano", comenta o diretor.
Personagens do documentário, os mestres Domingos Machados e Leôncio
Machado contam que o samba de cacete era uma festa de fugitivos que
entravam nas matas. "Eles trabalhavam muito e, para aliviar, inventaram
essas danças. O samba não gosta de força, não. É controle. Se você bater
muito exagerado (no tambor), incha sua mão mesmo. Mas depois que começa
a enxergar um pouquinho de estrela na vista, não tem mais negócio de
dor na mão, não tem mais e isso é direto", contam, sobre suas
experiências ancestrais. Atualmente, com a presença de tecnologias de
comunicação e com o fim dos mutirões, o samba pode ser visto apenas em
ocasiões festivas ou a convite, sem data específica para acontecer.
O samba de cacete tem esse nome devido aos instrumentos utilizados para
tocar os tambores, dois paus – chamados de cacetes. A dança
assemelha-se ao carimbó, porém com passos volteados e mais suaves. Já a
Alvorada Quilombola é uma expressão que possui duplo sentido: por um
lado evoca o despertar da consciência dos povos quilombolas e, por
outro, retrata o fato de que costumavam tocar o samba até de manhã,
quando saíam em mutirão para a lida na roça.
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura
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