Conversas emocionais são mais abordadas com as meninas, já com os meninos os pais tendem a brincadeiras físicas e assuntos relacionados a competição
26 maio 2017, 17h47 - Atualizado em 26 maio 2017, 18h39
A ciência acaba de comprovar o que a maioria dos irmãos que têm irmãs já sabiam: os pais tratam melhor as filhas do que os filhos. De acordo com um estudo publicado recentemente no periódico científico Behavioral Neuroscience, pais tendem a ser mais carinhosos, atenciosos e a utilizar uma linguagem mais emocional quando conversam com as filhas. Enquanto com os filhos, a predominância é de palavras relacionadas a competição. Além disso, a tristeza, por exemplo, foi um tópico muito mais abordado em conversas com as meninas do que com os meninos.
A pesquisa
Para chegar a essa conclusão, a equipe de pesquisa da Universidade Emory, nos Estados Unidos, analisou um grupo de 52 pais homens com filhos pequenos de ambos os sexos, com idade entre um e três anos de idade, durante um período de 48 horas. Eles gravaram trechos de conversas entre os pais e as crianças para identificar como eles interagiam entre si, quais palavras utilizavam e como se comportavam. Os pais também passaram por exames cerebrais enquanto observavam imagens de seus filhos, de crianças desconhecidas e de adultos desconhecidos felizes, tristes e com expressões neutras.
Resultados
No artigo, os pesquisadores apontaram que os pais gastavam cerca de 60% mais tempo respondendo atentamente às suas filhas, em comparação com os filhos. Eles também passaram cinco vezes mais tempo cantando e assobiando para as meninas, falando mais abertamente sobre emoções, incluindo tristeza, do que com os meninos. Por outro lado, brincadeiras que envolviam maior envolvimento físico eram mais estimuladas com os garotos.
A linguagem utilizada também foi diferente. Com as filhas, os pais tendiam a utilizar uma linguagem emocional, com palavras comparativas e que identificam partes do corpo, como “lonely”, “belly” e “better” (respectivamente “sozinha”, “barriga” e “melhor que”, em português). Enquanto isso, com os meninos, os pais utilizaram palavras analíticas, relacionadas à competição, poder e conquistas, como “pride”, “win” e “best” (respectivamente “orgulho”, “vencer” e “melhor”, em português).
Diferenças de gênero
Para os pesquisadores, os resultados não surpreenderam. Trabalhos anteriores, na maioria realizados com as mães, mostraram as mesmas diferenças de tratamento para meninos e meninas. Em um estudo, as mães tendiam a utilizar linguagem mais emotiva com as pequenas do que com os pequenos. Quando contavam histórias relacionadas às meninas, havia mais riqueza de detalhes emocionais em comparação às histórias dos meninos.
A novidade do estudo atual foram os exames cerebrais realizados nos pais. Os testes mostraram que a forma como os pais processam suas interações com as garotas é diferente da forma como se relacionam com os garotos. Quando observaram as fotos de seus filhos, regiões do cérebro associadas ao processamento de emoções, recompensa e valores reagia mais com as expressões felizes das meninas. Enquanto isso, a reação dos pais com os meninos era maior quando observavam expressões neutras.
Como educar
O motivo para essa diferença, no entanto, ainda não é claro. Uma das hipóteses é que os pais estariam escolhendo diferentes formas de educar emocionalmente seus filhos. Segundo Jennifer Mascaro, autora da pesquisa, utilizar brincadeiras físicas que imitam ações agressivas para se comunicar com os garotos exige uma leitura precisa de pistas sociais para determinar quando brincadeiras de luta estão indo longe demais, se estão machucando física ou psicologicamente. Isso exige avaliar o estado emocional da criança e determinar quando os sentimentos passam do limite de diversão para medo ou raiva.
Muitos partem do princípio de que meninos e meninas têm necessidades diferentes, mas isso não é verdade. “Assumindo que todos os pais deveriam brincar com os rapazes e não com as meninas, ou que os pais devem prestar atenção aos sentimentos das meninas, mais do que os sentimentos dos meninos, pode acabar criando ou aprofundando as diferenças de gênero nas crianças”, disse Lisa Dinella, pesquisadora de gênero na Universidade Monmouth, ao The Guardian.
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