A análise, feita com análises de DNA de 110 sequências de genéticas do vírus encontrado em dez países, constitui o maior banco de dados sobre o zika. (VEJA.com/VEJA/VEJA)
Um grupo internacional de cientistas mapeou diferentes amostras do
vírus zika e descobriu como aconteceu sua
dispersão pelas Américas. De acordo com três estudos, publicados nesta quarta-feira na revista
Nature , o zika já circulava no nordeste do Brasil entre o fim de 2013 e o início de 2014, cerca um ano antes que as primeiras infecções fossem confirmadas, em março de 2015. Do país, ele partiu para países como Colômbia, Honduras, Porto Rico, ilhas do Caribe e Estados Unidos.
A análise, feita com análises de DNA de 110 sequências de genéticas do vírus encontrado em dez países, mostra que o microrganismo estava presente nos países cerca de quatro meses a um ano antes de as primeiras infeções serem detectadas. O estudo constitui o maior banco de dados sobre o zika, essencial para combater o vírus que infectou mais de 200.000 pessoas apenas no Brasil.
Para analisar a “migração” do zika, cientistas de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Brasil, Universidade Harvard e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, coletaram amostras do vírus e compararam seus genomas. Quando um vírus se espalha, ele acumula pequenas mutações em seu genoma e a comparação de diferentes amostras torna possível rastrear por onde passou.
No Brasil, os pesquisadores viajaram por 82 municípios de cinco regiões do Nordeste para coletar amostras de 1.300 pessoas. Os cientistas descobriram que o vírus que circulou no Brasil veio da Polinésia, como já apontavam indícios recolhidos por cientistas brasileiros. Todas as infecções detectadas no continente americano descendem desse vírus “ancestral” que chegou ao Nordeste entre 2013 e 2014. Na segunda metade de 2014, o vírus chegou a cidades do Sudeste, como o Rio de Janeiro e São Paulo e seguiu também para outros países da América Latina. De acordo com as análises, o zika possivelmente entrou nos Estados Unidos pela Flórida, em 2016, vindo do Caribe. Autoridades americanas confirmaram a primeira transmissão no país em julho do mesmo ano.
Os resultados foram publicados pouco tempo depois que a
Organização Mundial de Saúde (OMS) e o
governo brasileiro decretaram o fim da emergência para zika. Segundo os pesquisadores, o sequenciamento e análise do zika é um trabalho desafiador, já que o vírus se se apresenta em níveis muito reduzidos no sangue dos pacientes e costuma desaparecer rapidamente. Dessa maneira, havia pouquíssimo material a ser estudado antes da epidemia, deixando os cientistas com pouca base para compreender a evolução e transmissão do microrganismo.
“Sabíamos que era importante compreender as populações virais por trás da epidemia, o que nos motivou a superar os desafios de sequenciar o zika. Como os dados gerados por nós captam a diversidade geográfica do vírus nas Américas, eles oferecem uma oportunidade para traçar como e quando o vírus se espalhou” afirmou Hayden Metsky, do MIT, um dos co-autores de uma das análises, em comunicado. “Esses resultados irão também dar bases para o desenvolvimento de testes diagnósticos moleculares mais eficazes, bem como melhores ferramentas de supervisão de saúde pública.”
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