Estudo analisa atividade física de 111 países graças aos passos contados por celulares
Estados Unidos, México e Brasil são as nações ocidentais mais ociosas. Ao menos é o que diz um estudo da Universidade Stanford (EUA). Os espanhóis, por exemplo, estão bem melhor colocados. Enquanto eles aparecem em quinto lugar em um mapa mundial de atividade física com uma média de 5.936 passos ao dia, os brasileiros tem uma "pontuação" de 4.289. A Espanha, aliás, fica atrás apenas dos chineses, japoneses, russos e ucranianos. O mapa, obtido graças a um aplicativo que conta os passos instalados no celular, permitiu que os autores descobrissem que nos países onde há mais variação entre os habitantes (desigualdade de atividade) há também mais obesidade.
Os pesquisadores aproveitaram o fato de que a maior parte da população adulta dos países mais desenvolvidos (e cerca de 50% dos menos) tem um smartphone para criar um inovador mapa mundial da atividade física. O aplicativo que faz esse trabalho conta os passos (pedômetro) medindo a distância percorrida ao usar sensores de movimento. Se o usuário insere detalhes como idade, sexo, peso, altura e dados sobre a dieta, o programa determina o índice de massa corporal (IMC) e estima as calorias queimadas a cada passo.
Para formular o mapa, os cientistas de Stanford contaram com todas essas informações de mais de 717.000 pessoas de 111 países, reunidas durante 95 dias, num total de 68 milhões de dias de atividade física. A primeira variável que utilizaram foi a média aritmética dos passos percorridos por dia em cada país. A classificação dos mais ativos é liderada pelos chineses e, dentro da China, os habitantes de Hong Kong são os humanos (com celular) que mais caminham do planeta, com 6.880 passos. Atrás deles vêm os ucranianos, japoneses e russos, com os espanhóis na quinta posição.
No extremo mais ocioso do mapa aparecem os países do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita e Catar, e do Sudeste Asiático, como Filipinas e Malásia. Os menos ativos são os habitantes da Indonésia, com quase a metade dos passos dados pelos chineses: 3.513. Para encontrar um país da América Latina, é preciso ir ao posto 34, onde estão os mexicanos (4.692 passos) e ao 40, onde aparece o Brasil (4.289). Venezuelanos, argentinos e colombianos tampouco se mexem muito.
O mapa pode ser reorganizado segundo vários critérios, como a atividade física por gênero, por idade ou em função do IMC declarado. Como nem todos caminham na mesma quantidade, contudo, também é possível organizar o mapa com outra variável que os autores chamam de “desigualdade na atividade física”. Ou seja, a variação de atividade dentro de cada país. A ideia é a mesma que a de outras desigualdades, como a da distribuição de renda: trata-se de um bom indicador da maior ou menor desigualdade existente em certo país. Neste caso, da maior ou menor prevalência de obesidade.
“Se vemos como algumas pessoas de um determinado país são ricas em atividade e outras pobres em atividade, a distância entre elas é um forte indicador dos níveis de obesidade nessa sociedade”, diz em nota o professor de Stanford Scott Delp, coautor do estudo. Ao redesenhar o mapa com esse índice de desigualdade de atividade, os chineses são os mais igualitários, ou seja, menos obesos. Os japoneses resistem na sexta posição, mas os russos e ucranianos são deslocados pelos suecos e sul-coreanos. Os espanhóis caem para o décimo lugar. Talvez mais interessante é o que acontece no final da lista. Os países árabes ocupam os últimos postos, mas acompanhados de vários grandes países de ascendência britânica. Canadá, Austrália, Nova Zelândia e EUA estão entre os 10 menos ativos e mais obesos.
O índice de desigualdade de atividade revela outro dado: o peso do gênero no mapa. “Quando a desigualdade de atividade é maior, a atividade das mulheres cai muito mais que a dos homens, o que significa que a conexão com a obesidade pode afetar as mulheres em maior grau”, explica o pesquisador Jurij Leskovec, também coautor do estudo. De fato, ao pintar o mapa combinando gênero e desigualdade de atividade, entre os mais igualitários aparecem os países nórdicos e, entre os menos, os árabes e os EUA.
LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Embora os dados sobre obesidade revelados pelos celulares em geral coincidam com os da Organização Mundial da Saúde (OMS), os cientistas reconhecem que pode haver vieses no trabalho afetando os resultados.
Em primeiro lugar, apesar de terem contado com informações de cidadãos de 111 países, eles reduziram a lista para os 46 dos quais tinham dados sobre ao menos 1.000 pessoas. Outra limitação é inerente ao estudo: o aplicativo usado para a contagem dos passos (Argus, de Azumio) não é um item de série dos celulares. Precisa ser instalado. E é provável que os interessados num app como esse estejam predispostos a realizar mais atividade física. Além disso, a conexão entre a obesidade e a atividade física vai além das caminhadas. As pessoas que nadam ou andam de bicicleta, por exemplo, ficaram de fora.
Mas talvez o maior problema é que, embora o aplicativo fosse disponível para celulares Android, os pesquisadores restringiram o estudo aos aparelhos iPhone – o que poderia comprometer a validade estatística da amostra.
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