As reflexões sugeridas pela Olimpíada Internacional de Matemática (IMO 2017), que está sendo realizada pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro.
21 jul 2017, 18h29 - Publicado em 21 jul 2017, 10h33
“Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”. Com esta frase, Machado de Assis concluiu o seu romance Quincas Borba.
A Olimpíada Internacional de Matemática (IMO 2017), ora em curso no Rio de Janeiro, sugere pelo menos três reflexões. Primeiro, cabe lembrar que Matemática é importante. No nível mais elementar, requer saber que o sinal de igualdade (=) se refere a uma equação em que as quantidades de cada lado se equivalem. Quantos brasileiros sabem disso e de suas implicações? Para exercer a cidadania no século XXI, precisamos dominar muitas competências matemáticas, que vão da capacidade de contar, fazer estimativas, calcular porcentagens, interpretar gráficos, avaliar se um determinado estudo se refere a uma correlação ou a uma causalidade. O que se cobra no Pisa é essencialmente o que todos precisam saber.
Isso leva ao segundo ponto: o quanto os brasileiros sabem disso, aos 15 anos de idade? Muito pouco – menos de 3% dos brasileiros alcançam nota suficiente para estar no nível 4 do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) em matemática – nível que reflete os conteúdos mínimos necessários para serem considerados cidadãos matematicamente corretos. Dadas as atuais políticas educacionais em curso, não há previsão de que isso irá mudar nas próximas décadas.
Mas falemos de coisas boas. Olimpíadas são oportunidade de celebrar os campeões, de premiar o esforço, a dedicação – e não simplesmente o talento das pessoas. A Olimpíada Brasileira de Matemática funciona como uma “fase eliminatória” para a Olimpíada Internacional. Um brilhante estudo da recém-doutoranda Diana Moreira contradiz o “bruxo das Laranjeiras” (Machado de Assis).
Na Olimpíada Brasileira de Matemática, são distribuídos prêmios aos 4% melhores alunos das séries finais do ensino fundamental e do ensino médio, com base nos resultados da Fase II do certame – que reúne os 5% melhores da Fase I. Esses prêmios têm efeitos fantásticos: os alunos premiados continuam a melhorar o seu desempenho. Mas tem muito mais: seus colegas de escola também melhoram significativamente seus resultados em anos posteriores. Importante: o prêmio é só um reconhecimento, não há dinheiro envolvido.
Há batatas para todos – as batatas que um ganha também alimentam os outros. Aos poucos, os economistas vão descobrindo e revelando o que a humanidade já sabe há milênios, e a psicologia já confirmou há pelo menos 70 anos. O termo “efeito vicário” é usado para explicar esses fenômenos: prêmios e punições ao que uma pessoa faz levam os outros a tirarem lições e modelar o seu caráter e o seu comportamento.
Há duas lições importantes. Primeiro, é muito bom reconhecer, valorizar, celebrar e premiar o bom resultado. Segundo, para melhorar, precisamos conviver com pessoas melhores do que nós e reconhecer que são melhores. Dessa forma, haverá mais vencedores e mais batatas para todos.
http://veja.abril.com.br/blog/educacao-em-evidencia/olimpiada-internacional-de-matematica-ao-vencedor-as-batatas/
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