Regime testado em ratos restringe alimentação ao consumo de 800 a 1100 calorias durante cinco dias e consegue eliminar sintomas do diabetes.
Uma nova dieta com pequenos ciclos de jejum consegue fazer o pâncreas
afetado pelo diabetes recuperar suas funções, afirmam pesquisadores
americanos. Experimentos com cobaias mostraram que quando o órgão - que
ajuda a controlar a taxa de açúcar no organismo - se regenerou, os
sintomas da doença desapareceram.
O estudo, feito por um grupo da Universidade do Sul da Califórnia, foi publicado na revista científica "Cell".
Segundo os cientistas, a dieta consegue "reiniciar" o corpo e a
descoberta é "potencialmente animadora" porque pode converter-se num
novo tratamento do diabetes.
Eles afirmam, no entanto, que as pessoas não devem experimentar a dieta sem acompanhamento médico.
No experimento, ratos foram submetidos a um "regime que simula o jejum", explicam os pesquisadores.
Durante cinco dias, as cobaias receberam alimentos com poucas calorias,
poucas proteínas, pobres em carboidratos e ricos em gordura insaturada
como azeite de oliva, óleo de milho e de canola, castanha do Pará,
amêndoa, salmão, sementes de linhaça e abacate, entre outros.
É um regime parecido com uma dieta vegetariana à base de nozes e sopas - mas com 800 a 1.100 calorias diárias.
Depois, as cobaias passaram 25 dias comendo de tudo, sem restrições.
Estudos anteriores já haviam indicado que esta dieta pode também retardar o ritmo do envelhecimento.
Reprogramação
Os ratos submetidos ao experimentos apresentaram regeneração em um tipo especial de célula no pâncreas: as células beta.
São elas que detectam o açúcar no sangue e, se este nível estiver muito
alto, liberam insulina, o hormônio que pode controlá-lo.
"Nossa conclusão é de que ao levarmos os ratos a um estado extremo e
trazê-los de volta - ou seja, ao deixá-los famintos e depois
alimentá-los novamente - as células no pâncreas são levadas a uma
reprogramação, que recupera parte do órgão que não estava mais
funcionando", disse Valter Longo, um dos participantes do estudo.
O testes com ratos tiveram bons resultados tanto para diabetes do tipo 1 como para o tipo 2.
O tipo 1, ou diabetes mellitus, é caracaterizado pela destruição
parcial ou total das células beta do pâncreas, que resulta na
incapacidade progressiva de o organismo produzir insulina.
Este tipo aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser
diagnosticado em adultos também. É sempre tratado com insulina,
medicamentos, dieta e atividades físicas para ajudar a controlar o nível
de glicose no sangue.
Já o tipo 2 se manifesta mais frequentemente em adultos, e está
associado principalmente a um estilo de vida que faz com que o organismo
não consiga usar adequadamente a insulina que produz ou deixe de
produzir insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia.
Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o tipo 2, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes.
Dependendo da gravidade, a doença pode ser controlada com atividade
física e planejamento alimentar. Em outros casos, exige o uso de
insulina e outros medicamentos.
"Em termos médicos, estas descobertas são potencialmente muito
importantes porque mostramos - em modelos com ratos - que se pode usar a
dieta para reverter os sintomas da diabete", diz Longo.
"Em termos científicos, as descobertas talvez sejam ainda mais
importantes porque mostramos a dieta pode servir para reprogramar as
células sem que se tenha de fazer nenhuma alteração genética nelas."
Como é a dieta?
O repórter Peter Bowes, da BBC, participou de uma experiência com o Dr.
Valter Longo. "Durante cada ciclo de cinco dias de jejum eu comia um
quarto da quantidade que as pessoas consomem em média e perdi entre dois
e quatro quilos", explica.
"Antes de fazer o ciclo seguinte de jejum, os 25 dias em que comi
normalmente devolveram o meu peso original. Mas nem todas as
consequências da dieta sumiram tão rapidamente."
A pressão sanguínea de Bowes baixou, assim como o hormônio IGF-1, que está relacionado a alguns tipos de câncer.
"As refeições muito pequenas que eu fiz durante os cinco dias de jejum
não tinham nada de gourmet, mas eu ficava feliz de ter algo para comer",
relembra.
Para saber se a dieta pode ajudar também o ser humano, os cientistas a
aplicaram em 71 pessoas durante três meses e constataram melhora do
nível de açúcar no sangue delas.
No entanto, Valter Longo diz que as pessoas não devem se apressar em
adotar o novo regime. "Não é uma boa ideia tentar isso em casa. A dieta é
muito mais sofisticada do que se imagina."
Ele adverte que as pessoas podem "ter problemas" de saúde se fizerem o regime sem supervisão médica.
Segundo Emily Burns, da organização britânica Diabetes UK, a notícia é
"potencialmente muito boa, mas precisamos ver se os resultados são
verdadeiros para os seres humanos antes de sabermos o que significam
para os diabéticos".
"Pacientes com diabetes dos tipos 1 e 2 vão se beneficiariam
imensamente de tratamentos que possam reparar ou regenerar as células
produtoras de insulina no pâncreas", afirma.
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