Recorde será batido pelas sul-coreanas, à frente das francesas, japonesas e espanholas
Pilar Fernández, de 101 anos, na garagem da sua casa em Ambas (Espanha). ANDREA COMAS / REUTERS
Bem recentemente, no começo do novo milênio, muitos pesquisadores acreditavam que a expectativa de vida da população nunca superaria os 90 anos, relembra Majid Ezzati, professor de saúde pública do Imperial College de Londres. Mas aqueles especialistas se enganaram. A expectativa de vida ao nascer das mulheres sul-coreanas alcançará em 2030 a marca de 90,8 anos, segundo as previsões de uma equipe científica liderada pelo próprio Ezzati. Será a primeira vez que a barreira dos 90 anos será superada. E as mulheres da França (88,6 anos), Japão (88,4) e Espanha (88,07) ocupariam o segundo, terceiro e quarto lugar nesta classificação do tempo médio de vida.O estudo analisa 35 países industrializados para os quais há boas séries de dados. A expectativa de vida ao nascer aumentará em todos eles com relação a 2010. No caso das mulheres, destaca-se a elevação de 6,6 anos na Coreia do Sul e 4,4 anos em Portugal. No México, subiria 4,05 anos. Na Espanha, 3,24. Nos Estados Unidos, apenas 2,1, chegando a 83,32 anos, uma diferença de mais sete anos em relação às sul-coreanas.
As estimativas de Ezzati, baseadas em modelos estatísticos usados com sucesso na previsão meteorológica, são uma boa notícia e ao mesmo tempo um sinal de alarme. Os atuais sistemas de saúde e previdência não estão preparados para esse envelhecimento incontrolável da população, segundo os autores do estudo, publica nesta quarta-feira na revista médica The Lancet.
A expectativa de vida das espanholas subiria 3,24 anos em duas décadas, frente a uma elevação de 4,81 anos entre os homens
Entre os homens, destaca-se na comparação com 2010 a elevação de 7,5 anos na Hungria e 7 na Coreia do Sul. Na Espanha, subirá 4,81 anos; no México, 3. Os Estados Unidos se destacam outra vez por seus dados ruins: aumento de apenas 2,99 anos, chegando a 79,5, quase cinco a menos que os homens sul-coreanos.
Ezzati acredita que seus resultados são uma advertência aos políticos na era da austeridade. “Os países com bons dados de longevidade são aqueles que investem em saúde e assistência médica ao longo de todo o ciclo de vida, desde a infância, e são os que têm sistemas mais equitativos”, disse ele ao EL PAÍS.
O estudo na The Lancet mostra que os EUA teriam em 2030 a menor expectativa de vida ao nascer entre os países ricos, semelhante a nações de renda média, como México e Croácia. Os EUA apresentam o maior índice de mortalidade infantil e materna, o maior índice de homicídios e o maior índice de massa corporal entre todos os países ricos, conforme ressaltam os autores.
“Os EUA são também o único país da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) sem cobertura sanitária universal, e têm o maior índice de necessidades sanitárias não atendidas, por causa dos custos econômicos”, recordam os cientistas. A Coreia do Sul, ao contrário, deu esse salto sem precedentes porque aproveitou seu crescimento econômico para melhorar a alimentação infantil e oferecer acesso universal aos serviços de saúde, segundo os pesquisadores.
“Precisamos pensar em fortalecer os sistemas de
saúde e assistência social. É o contrário do que vem sendo feito na era
da austeridade.”
O demógrafo mexicano Hiram Beltrán-Sánchez considera a nova projeção “realista”, embora esperasse inclusive “uma estagnação” na expectativa de vida dos EUA, onde ele trabalha na Universidade da Califórnia em Los Angeles. Além disso, recorda, dentro do país há desigualdades enormes. A expectativa de vida ao nascer de um homem negro em 2014 era de apenas 72,5 anos, segundo as estatísticas oficiais dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA.
Beltrán-Sánchez, fundador da base de dados da mortalidade na América Latina, destaca também que a desigualdade entre mulheres e homens vem caindo nos países industrializados. Tradicionalmente, os homens fumaram mais, beberam mais álcool e protagonizaram mais acidentes de trânsito, por isso em média viviam menos. Agora, os estilos de vida se assemelham mais. “Muitas pessoas acreditam que as mulheres estão capacitadas para viver mais, mas não é assim”, explica o demógrafo.
Disponível: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/21/ciencia/1487702763_640231.html
0 comentários:
Postar um comentário