quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
Aos 14 anos, o estudante Lucas Remoaldo Trambaiolli, 27 anos,
participou da primeira edição do Torneio de Robótica promovida pelo
FIRST LEGO League no Brasil, em 2004. Agora, em 2017, o jovem se prepara
para viajar para o Canadá em março, onde cursará parte do doutorado em
Neurociência, que ele começou na Universidade Federal do ABC, em São
Paulo. Isso, depois de concluir a graduação em Engenharia Biomédica e
mestrado em Neurociência.
Para passar de competidor a doutorando, muita coisa aconteceu na vida
dele, mas a robótica sempre esteve presente. O jovem também atuou como
juiz em várias temporadas. Só que antes de entrar na competição, Lucas
imaginava que a robótica fosse bem diferente. “Eu só enxergava duas
coisas: ficção científica ou chão de fábrica. Achava que era aquele
braço robótico que constrói o carro, por exemplo. Mas com o torneio
mostrando temáticas para a gente resolver problemas aplicando a
robótica, percebi que seguir a área tecnológica seria uma possibilidade
para ajudar as pessoas”, conta.
E ajudar as pessoas é justamente algo que faz parte da pesquisa de
Lucas no doutorado: como controlar o computador apenas com a imaginação.
“A gente tem dois focos: reabilitação motora e reabilitação
psiquiátrica. Nas duas situações é utilizada uma interface
cérebro-computador, em que o usuário tenta controlar algum estímulo na
tela apenas com a força do pensamento, digamos assim. A ideia é levar o
projeto para aplicações clínicas.
Para Lucas, a robótica influenciou toda sua carreira estudantil. “Todo
aprendizado de lógica, programação e estruturação de códigos que eu uso
hoje em dia são aprendizados da época da robótica. Foi no torneio que
comecei a pensar na tecnologia para resolver os problemas das pessoas”,
diz. Veja o vídeo produzido pela Feira Brasileira de Ciências e
Tecnologia (Febrace), que conta um pouco da trajetória acadêmica de
Lucas Trambaiolli.
ESFORÇO RECOMPENSADO – Enquanto Lucas Trambaiolli está
prestes a ir para o Canadá, dois estudantes do Serviço Social da
Indústria (SESI) Vila Canaã, em Goiânia, João Victor Quintanilha, 17
anos, e João Barbosa, 18 anos, também estão com um pé no exterior. Eles
participaram da temporada 2015/2016 do Torneio de Robótica, que tinha
como desafio a busca de soluções para o lixo. A ideia deles foi um
travesseiro com copos descartáveis. O projeto deu tão certo que a equipe
deles foi convidada para apresentar o trabalho no Cientista Beta,
evento com projetos de alunos de todo o Brasil, realizado na sede do
Google, em São Paulo.
“Graças ao projeto, nós ganhamos uma bolsa, com tudo pago, para
conhecer algumas universidades dos Estados Unidos. Ficamos 18 dias nas
universidades Bluefield College e Saint Bonaventure University. Fizemos
essa viagem em janeiro deste ano, onde apresentamos o projeto do
travesseiro”, conta.
Os dois voltaram dos Estados Unidos com uma proposta tentadora. Se
forem aprovados no TOEFL (teste que avalia a capacidade de usar e
compreender a língua inglesa), eles podem ganhar uma outra bolsa, com
tudo pago, para fazer um curso de graduação em uma das universidades
visitadas em janeiro. “É uma experiência incrível. É muito legal ver que
nosso esforço durante os três anos do ensino médio está valendo a pena.
São projetos que agregam não apenas ao nosso currículo, mas nos ajudam
como pessoa”, diz João Barbosa.
DO GIZ AO LEGO - Lucas Remoaldo Trambaiolli, João
Victor Quintanilha e João Barbosa são apenas alguns exemplos de
estudantes que se apaixonaram pela robótica e, a partir desse modelo de
ensino, foram estimulados a a buscar mais conhecimento. Com desafios
cada vez mais envolventes e colocando os alunos para pesquisar soluções
inovadoras, a robótica educacional é uma importante aliada do ensino nas
escolas.
“A robótica torna o aprendizado mais divertido, porque é a partir da
prática que o aluno constrói o próprio conhecimento. Ele acaba se
interessando mais. Isso desenvolve a criatividade e o raciocínio
lógico”, afirma o doutor em Ciência da Computação pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor do Departamento de Ciência da
Computação, Douglas Marcharet.
Para ele, quanto mais cedo as crianças e adolescentes tiverem contato
com a robótica, melhor. Na avaliação de Marcharet, esse aprendizado
influencia a carreira profissional, impactando lá na frente, já que a
ciência e a tecnologia são fundamentais para o desenvolvimento econômico
e social de um país. A proposta, segundo o professor, é mostrar que a
robótica não é algo difícil.
Os robôs de Lego também estão presentes nas aulas de Introdução à
Robótica minstradas pelo professor na UFMG. Há, inclusive, uma
competição entre os alunos do curso que inclui a programação e montagem
de máquinas autônomas. No ano passado, os robôs tinham como objetivo
combater o mosquito aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre
chikungunya e do zika vírus.
O professor reconhece que os torneios organizados pelo SESI são um
incentivo importante por parte do setor industrial. “O aluno olha e
consegue reconhecer que ao estudar a robótica ele pode aplicar esse
conhecimento dentro da indústria, pensando até mesmo no emprego. Porque
justamente o que desmotiva alguns estudantes é onde ele vai aplicar o
que ele está aprendendo. Então, ele associa a robótica com a utilização
na vida profissional”, argumenta.
ROBÔS PARA A INDÚSTRIA – “A robótica antecipa a
realidade que essas crianças e adolescentes vão encontrar no mercado de
trabalho”, afirma o gerente da Divisão de Robótica para a América Latina
da Comau, Felipe Rodrigues Madeira. A Comau é uma fabricante de robôs
automobolísticos e para outras áreas industriais, com uma filial em
Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Para Felipe, a robótica educacional vai além da prática com os robôs de
Lego. “Além do aprendizado com os desafios, todos serão melhores
profissionais com os valores que aprendem nas competições de robótica
do SESI, como o trabalho em equipe”, afirma. Em cada torneio, as equipes
são avaliadas, dentro de outras coisas, pelo desempenho em conjunto do
grupo. Eles aprendem que na vida profissional também vai ser assim.
Exatamente por isso, Felipe considera que esses meninos e meninos que
convivem com a robótica são os profissionais que a indústria vai
contratar amanhã. “Os maiores destaques vão seguir essa carreira e serão
os profissionais que as empresas como a Comau e outras vão ter
interesse em ter nos seus quadros. Ainda que não seja necessariamente na
robótica, mas em áreas técnicas ou engenharias”, explica.
A Comau também participa desse processo de ensino-aprendizagem. É que
robôs produzidos pela empresa já podem ser encontrados em laboratórios
da UFMG e Universidade FUMEC, em Belo Horizonte, no Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI), de Betim (MG), na Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), entre outras instituições. As máquinas são
utilizadas para treinamento dos alunos.
No cenário atual, segundo Felipe, há uma carência de engenheiros no
Brasil. Ele afirma que não é tão simples para uma empresa como a Comau
se estabelecer no país e encontrar um quadro de técnicos qualificados.
Nessas horas, ele conta que, por obrigação, e não por vontade, é preciso
trazer profissionais do exterior.
“Um engenheiro bem formado na graduação e com valores diferenciados,
apreendidos nos torneios de Robótica do SESI, será um profissional mais
interessante. O robô atrai mão-de-obra qualificada e há vagas. O Brasil
está muito longe da média de robôs por empregado quando comparado a
outros países. Temos uma necessidade, que só vai crescer, de
profissionais de robótica”, finaliza.
TORNEIO DE ROBÓTICA – Desde 2013, o Serviço Social da
Indústria (SESI) é o organizador oficial do Torneio de Robótica FIRST
Lego League. A cada temporada, estudantes de 9 a 16 anos, de escolas
pública e particulares, são desafiados a apresentar soluções inovadoras
para determinados temas. Na temporada 2016/2017, o desafio Animal Allies
incentiva os alunos a pesquisar sobre a relação entre homens e animais,
de que maneira um interfere ou pode ajudar a vida do outro.
Durante a competição, cada equipe precisa apresentar um projeto de
pesquisa com uma solução inovadora para o tema, além de planejar,
projetar e construir robôs com peças Lego. Esse mesmo robozinho terá de
cumprir missões na mesa da competição, em partidas de até dois minutos e
meio. E, finalmente, cada grupo de estudantes precisa mostra que sabe
trabalhar em equipe. É assim que os times são avaliados.
A etapa regional da competição começou em novembro do ano passado. As
melhores equipes participam do Torneio Nacional de Robótica, entre os
dias 17 e 19 de março, em Brasília. Quer saber tudo sobre o Torneio de
Robótica? Acesse o site oficial da competição!
Fonte: Portal da Indústria
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