A reconstrução da aparência do ancestral das flores, que surgiu há pelo menos 140 milhões de anos, fornece mais uma peça na árvore genealógica das plantas
1 ago 2017, 15h24
Delicada, composta de
conjuntos sobrepostos de três pétalas curvas e com órgãos femininos e
masculinos na mesma estrutura. Essas são as principais características
das primeiras flores a surgir na Terra, entre 250 e 140 milhões de anos atrás, segundo uma pesquisa divulgada nesta terça-feira na revista Nature Communications.
Uma equipe de cientistas conseguiu reconstruir digitalmente o aspecto
que o ancestral de todas as flores teria, a partir de uma análise dos
traços mais primitivos de grande parte das suas descendentes atuais.
“Não sabemos quase nada sobre como as flores evoluíram
desde a sua origem e, no entanto, isso é extremamente importante para o
papel ecológico que as plantas desempenham hoje na Terra”, disse o
biólogo evolutivo Hervé Sauquet, da Universidade Paris-Sud, na França,
em entrevista ao The Guardian. Os cientistas acreditam que a nova
descoberta é um passo a mais para desvendar a evolução completa das
angiospermas (plantas que dão flores), um mistério que afligiu até o
famoso naturalista Charles Darwin, pai da teoria evolutiva.
As angiospermas correspondem a cerca de
90% das 3.000 espécies de plantas vivendo atualmente na Terra. Ainda
assim, o fóssil mais antigo já encontrado desses vegetais que florescem é
relativamente jovem – uma planta aquática de 130 milhões de anos –, o
que dificulta o trabalho dos cientistas para desvendar como seria a
estrutura do ancestral comum a todos eles.
O que Sauquet e sua equipe fizeram,
então, foi construir uma árvore genealógica das angiospermas baseada em
dados de 792 espécies, mapeando todas as características estruturais das
flores dessas plantas. Rastreando os traços em comum a cada ponto de
ramificação – e repetindo o processo com outras árvores genealógicas,
construídas com base em outros métodos, para garantir que os resultados
se mantinham – os pesquisadores conseguiram reunir as características
consideradas mais primitivas, que dariam forma à reconstrução da flor
ancestral.
O resultado foi uma flor delicada, com
pétalas e sépalas arranjadas em vários círculos concêntricos que se
assemelham a anéis sobrepostos, na forma de espirais. Durante a
evolução, explica Sauquet, as flores foram perdendo alguns desses anéis.
“Para chegar as flores atuais é muito simples, basta livrar-se de
algumas espirais”, disse. Segundo ele, apenas um conjunto de sépalas
para proteção e um de pétalas para atrair polinizadores são necessários,
sendo o excesso dessas estruturas um desperdício dos recursos da planta
e um obstáculo para abelhas ou outros insetos chegarem até o pólen.
Além disso, como a maioria das
angiospermas vivas hoje em dia, a flor ancestral possui tanto a
estrutura reprodutiva feminina quanto masculina, o que facilita a
polinização e, consequentemente, a reprodução.
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