Desde 1950, 8,3 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas no mundo. Cada pessoa utiliza em média 60 quilos do material por ano. Parte disso vai parar nos mares e entra na cadeia alimentar.
Por Deutsche Welle
Do ponto de vista histórico, o plástico é um fenômeno muito novo. Em
1950, a produção global total do material foi de pouco mais de 2
toneladas. Em 2015, ou seja, apenas 65 anos depois, a produção foi de
448 milhões de toneladas.
Atualmente, utilizamos uma média global de aproximadamente 60 quilos de
plástico por ano por pessoa. Nas regiões mais industrializadas –
América do Norte, Europa Ocidental e Japão – a média é de mais de 100
quilos per capita.
Em um novo estudo, pesquisadores estimaram que cerca de 8,3 bilhões de
toneladas de plástico foram fabricadas a partir de petróleo bruto desde
1950. Desse total, cerca de 30% permanecem em uso – em lares, carros ou
fábricas. Outros 10% foram queimados.
Isso significa que 60% da quantidade total de plástico produzido até o
momento leva uma existência obscura, seja em lixões ou descartado ao
acaso. Globalmente, isso significa que existem cerca de 650 quilos de
lixo plástico inutilizados.
Frequentemente esse plástico descartado vai parar nos oceanos. A União
Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) estima que 2% da
produção total de plásticos acaba nas águas oceânicas.
Uma vez nos mares, o plástico permanece ali por anos, já que não é
biodegradável ou digerível. Normalmente, ele se fragmenta em pedaços
cada vez menores. Alguns deles são engolidos por organismos marinhos,
entrando em cadeias alimentares – algo prejudicial tanto para
ecossistemas marinhos quanto para as pessoas que comem peixe.
"Estamos caminhando em direção a um planeta plástico", disse o
pesquisador da Universidade da Califórnia, Roland Geyer, coautor do novo
estudo. Ele acrescenta que o crescimento global na produção de
plásticos é "extraordinário e não dá sinais de que vá abrandar no curto
prazo".
Os pesquisadores estimam que, se as tendências atuais continuarem, até
2050 haverá cerca de 12 bilhões de toneladas de lixo plástico no mundo.
Fontes de microplásticos
Os microplásticos são partículas de plástico com um tamanho na faixa de
micrômetros ou nanômetros (0.0001 a 0.0000001 centímetro). Abrasão e
decomposição de resíduos plásticos no mar são fontes de microplásticos.
Outra é a abrasão de plásticos em terra.
A maioria dos microplásticos é liberada por tecidos sintéticos, como
fiapos. Cerca de 60% das roupas contêm fibras sintéticas, e essa
proporção deverá aumentar, em parte porque as fibras sintéticas são
baratas de se produzir.
Isso significa uma quantidade enorme de fiapos de plástico no mundo
todo. De acordo com um estudo atual da União Europeia (UE), somente na
Europa, as máquinas de lavar despejam cerca de 30 mil toneladas de
fibras sintéticas no sistema de esgoto a cada ano. E algumas acabam no
mar.
Tintas usadas para a marcação de rodovias e para evitar que os navios
apodreçam também contribuem para o acúmulo de microplásticos nos
oceanos. Pequenos pedaços de plástico desgastado de pneus e marcações
rodoviárias são transportados pelo vento e pela água para córregos e
riachos. Eventualmente, parte deles termina no mar.
Ingestão de plático
A menos que haja uma mudança, dentro das próximas três décadas a massa
total de lixo plástico nos oceanos pode ser maior do que a de peixes. Os
microplásticos são muito pequenos para serem vistos a olho nu.
Mexilhões, vermes marinhos e peixes absorvem alguns desses pequenos
fragmentos ao se alimentarem.
Uma vez que o plástico não pode ser digerido, ele se acumula nesses
pequenos organismos, e quando predadores se alimentam deles, também
ingerem o plástico. Assim como outros poluentes, os microplásticos ficam
mais concentrados no topo da cadeia alimentar.
Estudos mostram que a ingestão de microplásticos pode ter efeitos
adversos em vários animais marinhos. Esses efeitos incluem: chances
reduzidas de reprodução; crescimento e locomoção mais lentos; bem como
uma maior tendência à inflamação e maior mortalidade.
Cientistas ainda não sabem ao certo quais toxinas químicas são
transferidas de plásticos para o meio ambiente ou para a carne de
organismos marinhos. A pesquisa sobre os impactos ambientais e
biológicos dos microplásticos marinhos continua engatinhando. O que se
sabe é que uma pequena quantidade de microplástico é inevitavelmente
absorvida por seres humanos quando comemos peixes ou crustáceos. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) emitiu uma
declaração dizendo que os microplásticos não são considerados atualmente
um risco significativo para a saúde humana. Ao mesmo tempo, no entanto,
reconhece que poucos dados estão disponíveis e que mais pesquisas são
necessárias.
Problema na agenda internacional
A poluição oceânica está agora na agenda internacional. No início de
junho, em Nova York, a Conferência dos Oceanos da ONU tentou encorajar
países-membros a apresentarem projetos e programas para proteger a saúde
dos ecossistemas oceânicos.
O G20, grupo das maiores economias do mundo, também colocou a poluição
oceânica em sua agenda com um plano de ação conjunta para reduzir o lixo
marinho, também acordado em junho. Significaria isso que o problema
está a caminho de ser resolvido?
"Se é para a Terra continuar sendo o planeta azul, temos que parar de
sufocar os oceanos com lixo", disse a ministra alemã do Meio Ambiente,
Barbara Hendricks.
"A dimensão da inundação global de lixo se tornou inconcebivelmente
enorme. Então, estou muito feliz com o acordo do G20 sobre um plano de
ação conjunta", comemorou. "Isso leva faz a proteção de nossos oceanos
dar um grande passo adiante em termos de consciência global."
Grupos ambientais apontaram o acordo como um bom começo. No entanto, o
plano de ação do G20 não presta atenção suficiente às causas, dizem
alguns.
"Os governos procuram respostas demais na reciclagem, mas deveriam ir
até a raiz do problema: embalagens e produtos plásticos desnecessários
não devem sequer ser produzidos", diz Thilo Maack, biólogo marinho que
trabalha para o Greenpeace na Alemanha.
Maack reconhece, contudo, que a reutilização e a reciclagem de produtos
plásticos também são importantes. Na opinião dele, uma medida-chave
para controlar o crescente fluxo de lixo plástico seriam instrumentos
econômicos que incluem os custos ambientais no preço final.
"Se esses custos forem inseridos no preço final de produtos plásticos
desde o início, o plástico será usado mais moderadamente, reutilizado e
mais reciclado. E alternativas mais ecológicas [como embalagens
biodegradáveis] se tornariam mais baratas em comparação", afirma o
biólogo.
"Se esses custos forem inseridos no preço final de produtos plásticos
desde o início, o plástico será usado mais moderadamente, reutilizado e
mais reciclado. E alternativas mais ecológicas [como embalagens
biodegradáveis] se tornariam mais baratas em comparação", afirma o
biólogo.
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