Novo estudo demonstra que, milhões de anos antes dos humanos, as formigas controlavam o ambiente para cultivar alimentos, mesmo em condições desfavoráveis
Da redação VEJA/ABRIL
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12 abr 2017, 19h46
- Atualizado em 12 abr 2017, 19h52
A formiga saúva é um dos tipos de espécies agricultoras que vivem no Brasil (VEJA.com/Folhapress/Folhapress) |
Há 30 milhões de anos, as formigas revolucionaram a agricultura para lutar contra a seca. Elas começaram a plantar seus próprios alimentos
– fungos, no caso – em ambientes onde a umidade era baixa e a comida
não crescia em estado selvagem. Tudo isso muito antes de os humanos desenvolverem suas próprias técnicas de plantio, o que, segundo as estimativas, aconteceu cerca de 19.000 anos atrás. Em um estudo publicado nesta quarta-feira na revista científica britânica Proceedings of the Royal Society B, um grupo de pesquisadores indica que os pequenos insetos
já possuíam uma agricultura sofisticada o suficiente para criar
extensas plantações de fungos nos habitats secos da América do Sul.
“Essas sociedades sofisticadas de
formigas agricultoras vêm praticando agricultura sustentável em escala
industrial há milhões de anos”, disse em comunicado Ted Schultz, do
Museu Nacional de História Natural Smithsonian nos Estados Unidos,
coautor do estudo. “Estudar a sua dinâmica e como as suas relações com
os fungos evoluíram pode oferecer lições importantes para os nossos
próprios desafios com as nossas práticas agrícolas. As formigas
estabeleceram uma forma de agricultura que fornece toda a nutrição
necessária para suas sociedades usando uma única cultura que é
resistente a doenças, pragas e secas em uma escala e nível de eficiência
que rivalizam com a agricultura humana.”
O cultivo feito por grandes colônias
desses insetos nas úmidas florestas tropicais do Brasil e do Panamá já
era conhecido pelos pesquisadores, embora representassem uma forma de
agricultura mais primitiva. Agora, os cientistas descobriram que, mesmo
em ambientes de pouca umidade, as formigas desenvolveram uma forma de
cultivo sofisticada, capaz de levar esses fungos às regiões secas da
América do Sul. Muito antes dos humanos, esses animais conseguiram
utilizar suas técnicas para plantar alimentos em regiões nas quais o
cultivo seria naturalmente inviável. Além disso, segundo os
pesquisadores, elas “domesticaram” os fungos, aprendendo a
fertilizá-los, livrá-los de parasitas, controlar seu crescimento e
manter as condições ideais para o cultivo.
A equipe de cientistas analisou o DNA de
119 espécies de formigas, das quais 78 praticavam agricultura e outras
41 não. Com os dados em mãos, eles foram capazes de construir a primeira
árvore completa da evolução das formigas cortadeiras, revelando qual
era o parente não agrícola vivo mais próximo das agricultoras atuais.
Dessa forma, foi possível olhar para os antecedentes geográficos dessas
espécies, deduzindo quando, onde e sob que condições surgiram traços
particulares.
A equipe estava interessada em saber
quando as formigas começaram a praticar uma agricultura mais sofisticada
– isto é, quando algumas culturas de fungos passaram a depender da sua
relação com as formigas para sobreviver. De acordo com a árvore
genealógica montada, isso aconteceu justamente no momento em que o
planeta estava resfriando, quando áreas mais secas se tornaram
prevalentes.
Os fungos, que até então haviam evoluído
para viver em florestas úmidas, não estavam aptos a sobreviver de
maneira independente naquele clima. Por isso, assim como humanos que
vivem em um clima seco ou temperado e criam plantas tropicais em
estufas, as formigas cuidadosamente desenvolveram técnicas para manter a
umidade dentro de seus jardins de fungos. “Se está ficando um pouco
seco demais, as formigas saem, pegam água e acrescentam [à terra]”,
disse Schultz. “Se está muito úmido, elas fazem o oposto.”
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