O governo não assume falhas na integração dos refugiados que vieram para Portugal, nem o número de fugas registadas
Mais de 200 refugiados do total de 957 que
foram acolhidos em Portugal, ao abrigo do acordo da União Europeia (UE)
de 2015, já abandonaram o país. O número total, que o governo se recusa
a fornecer, estará perto dos 300, de acordo com informações recolhidas
pelo DN. A situação tem-se agravado nos últimos dois meses, durante os
quais quase uma centena escapou. A Comissão Europeia está atenta ao
fenómeno que não é exclusivamente português. O porta-voz da Comissão
para as Migrações disse ao DN que "foram indicadas aos Estados membros
medidas para prevenir estes movimentos".
Os
refugiados estão obrigados a permanecer nos países onde são
recolocados, perdendo todos os direitos que têm com esse estatuto e
ficando em situação de ilegalidade quando abandonam os programas de
acolhimento. Com o número de fugas a aumentar, já em outubro passado o
Ministério da Administração Interna decidiu alterar a forma de
distribuição de verbas de pagamento às instituições. Em vez de os seis
mil euros de financiamento europeu serem pagos em duas vezes (metade no
início, metade ao fim dos 18 meses do programa), passou a ser dividido
em seis tranches. "O objetivo foi o de simplificar os procedimentos,
caso os requerentes deixassem a entidade de acolhimento, evitando-se as
posteriores devoluções de verbas e o acerto de contas", justificou a
porta-voz, recusando-se, sem justificar, a facultar o número exato de
abandonos. O mesmo se passou com o gabinete do ministro-adjunto Eduardo
Cabrita, que coordena o acolhimento dos refugiados.
Até
ontem, só da parte de três das principais entidades de acolhimento -
Conselho Português para os Refugiados (CPR), Serviço Jesuíta aos
Refugiados (SJR) e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) - eram assumidas
219 fugas, de um total de 680 que tinham recebido. São principalmente
sírios, alguns iraquianos e eritreus, que tinham vindo dos centros de
refugiados na Grécia e em Itália. Já fugiram famílias inteiras, mas
principalmente indivíduos que vieram sozinhos.
O
principal motivo que estas instituições acreditam motivar esta decisão é
o facto de se querem juntar às famílias, em parte recolocadas em países
do norte da Europa e onde há comunidades instaladas destas comunidades.
Mas também há críticas aos meios proporcionados pelas entidades
estatais para a integração destas pessoas, como a demora no ensino do
português (ver reportagem ao lado), o excesso de burocracias e o atraso
na concessão dos documentos de residência necessários. "O grande desafio
que se coloca é conseguir uma articulação entre os vários serviços
nacionais. Há boas intenções mas não há operacionalidade a nível da
administração central para dar respostas céleres", sublinha João Afonso,
vereador da CML com o pelouro dos Direitos Sociais, que coordena o
Programa Municipal de Acolhimento dos Refugiados.
Na
perspetiva da Segurança, estas fugas em escalada também preocupam as
polícias. Por um lado, estes refugiados ficam ilegais na UE, mas
principalmente porque estas pessoas, que sofreram os horrores da guerra,
muitas delas as dramáticas travessias de barco do mediterrâneo, estão
vulneráveis, e a sua frustração com a forma como são recebidas ou são
obrigadas a ir para países que não querem, pode torná-las alvos de redes
criminosas e terroristas.
André Costa,
diretor do JRS, que recebeu e "perdeu" o maior número de refugiados
acredita que estes "não saem em confronto" com Portugal, "saem porque,
simplesmente, o seu projeto de vida sempre foi o norte da Europa". A sua
experiência diz que estes refugiados que fogem "não sentem hostilidade
pelo nosso país. Sentem-se perdidos. Não têm uma comunidade que os ajude
a enraizar-se o que, possivelmente, também não é facilitado pela
estratégia de descentralização que foi definida, distribuindo-os por
vários pontos do país". Este responsável está convencido que "há
incentivos exteriores para estes abandonos, possivelmente redes
organizadas".
A Comissão Europeia
lembra que estes refugiados "não têm o direito de residir ou trabalhar
em outro país que não seja o de acolhimento" e que os estados-membros
"devem informar de imediato" a Comissão destas fugas. "Os países devem
informar bem os refugiados d
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