Pesquisa de universidade escocesa detecta que contaminação pode chegar até áreas mais remotas do planeta.
Cientistas no Reino Unido detectaram "níveis extraordinários" de
poluição provocados pela atividade humana em duas das fossas oceânicas
mais profundas do planeta, de acordo com um estudo publicado nesta
segunda-feira (13) pela revista "Nature".
A pesquisa, desenvolvida pela Universidade de Aberdeen, na Escócia,
sugere que os altíssimos registros de poluição encontrados em duas
depressões marinhas, que estão localizadas a mais de 10 mil metros de
profundidade e afastadas de áreas industriais, demonstram que a poluição
antropogênica na superfície pode chegar até os cantos mais remotos do
mundo.
"Os níveis de poluição eram consideravelmente mais altos que os medidos
em regiões próximas a zonas fortemente industrializadas, o que coloca a
existência de uma bioacumulação de poluição antropogênica e aponta que
estes poluentes são onipresentes nos oceanos do mundo e em suas
profundezas", explica a equipe de pesquisa, liderado pelo especialista
Alan Jamieson.
Para seu estudo, foram analisadas amostras de crustáceos recolhidas
pelo submarino "Deep-sea Landers" na fossa das Marianas e das Kermadec,
situadas no oceano Pacífico norte e sul, respectivamente, e separadas
entre elas por cerca de 7 mil quilômetros de distância.
Os crustáceos capturados nas Kermadec e nas Marianas, em profundezas de
entre 7.227 e 10 mil metros e 7.841 e 10.250 metros, respectivamente,
tinham níveis de poluição similares ou superiores aos presentes na baía
de Suruga, uma das zonas do noroeste do Pacífico mais castigadas por a
poluição industrial.
Os pesquisadores encontraram "níveis extremamente altos" de poluentes
orgânicos persistentes (POPs, pela sigla em inglês) nos tecidos
gordurosos dos anfípodas.
Entre os POPs figuram as bifenilas policloradas (PCBs) e difenil éteres
prolibromados (PBDEs), utilizados habitualmente em fluidos dielétricos e
em retardadores de chama, respectivamente.
Estas substâncias poluentes são altamente tóxicas e podem permanecem no
meio ambiente durante longo tempo sem se descompor e ser levado a
grandes distâncias através de água e do ar.
Os autores deste estudo opinam que, provavelmente, os POPs chegaram até
as fossas marinhas através de resíduos plásticos e da carniça que é
depositada em suas profundezas, onde se transformam em alimento dos
crustáceos anfípodas.
Em artigo adjunto ao estudo da Universidade de Aberdeen, a especialista
Katherine Dafforn aborda o impacto do ser humano sobre zonas do planeta
distantes que, no entanto, não escapam da poluição.
"Jamieson e seus colegas apresentaram provas claras de que o oceano
profundo, ao invés de ser remoto, está altamente conectado com a
superfície marinha e está exposto a concentrações significativas de
poluentes fabricados pelo homem", destaca Dafforn, da Escola de Ciências
Biológicas, Terrestres e Ambientais da Universidade de Nova Gales do
Sul, em Sydney (Austrália).
0 comentários:
Postar um comentário