Meio Ambiente & Desenvolvimento Humano

terça-feira, 18 de abril de 2017

Como um imenso rio desapareceu em 4 dias no Canadá

Durante séculos, o Slims fluiu até o mar de Bering - mas entre 26 e 29 de maio do ano passado, ele desapareceu da face da terra.

Kaskawulsh é uma das maiores geleiras do rio Yukón no Canadá (Foto: Dan Shugar/Universidade de Washington Tacoma)
Kaskawulsh é uma das maiores geleiras do rio Yukón no Canadá (Foto: Dan Shugar/Universidade de Washington Tacoma)

O Slims é um rio imenso que se alimenta da água da geleira Kaskawulsh, no noroeste do Canadá. Em suas partes mais largas, ele pode se estender por até 150 metros. 

Mas talvez devêssemos dizer "podia", já que em apenas quatro dias, em maio de 2016, o rio desapareceu subitamente da face da terra. 

Seu inesperado e violento sumiço foi produto de pirataria fluvial, fenômeno pelo qual o leito de um rio é repentinamente desviado até outro curso d'água. 

Isso pode ocorrer ao longo de milhares de anos pela erosão, por causa de movimentos da crosta terrestre ou de deslizamentos de terras. 

As mudanças na geografia do lugar são dramáticas (Foto: Jim Best/Universidade de Illinois)
As mudanças na geografia do lugar são dramáticas (Foto: Jim Best/Universidade de Illinois)
Mas o que aconteceu no Canadá, segundo os pesquisadores que fizeram a descoberta, está diretamente ligado à mudança climática - ou seja, é produto da atividade humana.

Aquecimento

O derretimento intenso da geleira Kaskawulsh durante a primavera do ano passado fez com que a água, em vez de se desviar para o norte (e alimentar o rio Slims, que se une ao rio Yukón e desemboca no mar de Bering), se desviasse para o sul, aumentando o leito do rio Alsek, que desemboca no oceano Pacífico. 

Ou seja, a água do degelo criou um novo canal e desviou seu curso, indo parar a milhares de quilômetros de seu destino original.

Este cânion leva agora quase toda a água do desgelo até o golfo do Alaska, através do Alsek (Foto: Jim Best/Universidade de Illinois)
Este cânion leva agora quase toda a água do desgelo até o golfo do Alaska, através do Alsek (Foto: Jim Best/Universidade de Illinois)
 
De acordo Dan Shugar, geocientista da Universidade de Washington Tacoma, nos Estados Unidos, e autor principal da pesquisa, essa é a primeira vez que se registra um caso de pirataria fluvial na atualidade.
É possível encontrar registros geológicos do fenômeno há milhões de anos, "mas não no século 21, onde isso está acontecendo diante dos nossos narizes", disse o cientista.
"Fomos para aquela região com a intenção de continuar com nossas medições no rio Slims, mas encontramos o leito do rio mais ou menos seco", disse James Best, geólogo da Universidade de Illinois e coautor do estudo.

Plantas e poeira

Após examinar o terreno, os pesquisadores observaram as mudanças dramáticas na paisagem.
O leito do Slims ficou descoberto - onde antes havia água, agora cresce pasto.

A falta de água deixou exposto o leito do rio (Foto: Jim Best/Universidade de Illinois)
A falta de água deixou exposto o leito do rio (Foto: Jim Best/Universidade de Illinois)

O ar, antes límpido, em determinados momentos se transforma em uma poeirada criada pelos fortes ventos que arrastam os sedimentos do rio. 

Enquanto isso, o rio Alsek, que levou as águas do Slims, tornou-se entre 60 e 70 vezes maior do que costumava ser e tem uma vazão muito maior. 

Apesar de os arredores do Slims não serem muito habitados, uma mudança tão drástica terá consequências enormes para os ecossistemas naturais e pode chegar a afetar o abastecimento de água na região, dizem os cientistas. 

De acordo com os pesquisadores, a mudança climática causará mais eventos como este no futuro, e seremos testemunhas da pirataria fluvial como consequência do derretimento das geleiras do Kilimanjaro, em outras regiões do Canadá e do Alaska, assim como dos Andes.
O estudo foi publicado na revista científica Nature Geoscience. 


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VIDHA LINUS

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