A Sociedade Brasileira de Astrobiologia reúne cientistas de todo o país para estudar a origem dos seres vivos no nosso planeta e espaço a fora
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7 set 2017, 14h02 - Publicado em 7 set 2017, 13h59
Veja/Abril
O Brasil acaba de ganhar mais um nome para sua lista de associações científicas — a Sociedade Brasileira de Astrobiologia (SBA). O anúncio foi feito nesta quarta-feira, em cerimônia realizada durante a XLI Reunião da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB). A astrobiologia, área relativamente recente da ciência que estuda a origem e evolução da vida dentro e, principalmente, fora da Terra, é um tema crescente no universo de pesquisas sobre espaço
e cosmos. Segundo o presidente da nova associação, Eduardo Janot
Pacheco, do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São
Paulo (USP), nesse cenário, a SBA tem como objetivo reunir pesquisadores
da área para facilitar o desenvolvimento de projetos conjuntos,
viabilizar a troca de experiências e ajudar a conseguir bolsas e
recursos para financiar pesquisas.
“Já temos pelo menos 100 pessoas ou mais
trabalhando com astrobiologia no Brasil”, disse Janot a VEJA,
adicionando que a fundação da SBA veio da necessidade de organizar e
difundir o conhecimento que estava sendo produzido. “Além disso, todos
os países desenvolvidos têm uma sociedade para pesquisa em
astrobiologia. Nós estamos tirando esse atraso.” Entre os objetivos da
associação, o presidente destaca que pretende criar um programa de
pós-graduação em astrobiologia — que ainda não existe, apesar do
crescente número de estudos na área –, mapear e catalogar iniciativas de
ensino do tema em todo país e ajudar associados a conseguir o
financiamento necessário para suas pesquisas.
Janot destaca que a astrobiologia se
tornou popular nos últimos anos principalmente por causa do grande
número de descobertas (agora já na casa dos milhares) de exoplanetas
espalhados pela Via Láctea. As principais pesquisas tentam comprovar se
algum desses “novos mundos” teria os ingredientes necessários para
abrigar vida extraterrestre. “Não estamos em busca de ‘homenzinhos’
verdes. Mas é possível que na primeira expedição tripulada a Marte, por
exemplo, planejada para 2020, encontremos no subsolo seres vivos muito
parecidos às bactérias que vemos em algumas partes do nosso planeta.”
Para ele e para um número cada vez maior de pesquisadores, é apenas uma
questão de tempo até que as primeiras formas de vida fora da Terra sejam
descobertas, especialmente para além do sistema solar.
Vida extraterrestre
Um dos pesquisadores que tenta desvendar
esse mistério é o astrônomo Douglas Galante, do Laboratório Nacional de
Luz Síncrotron, em Campinas, no interior de São Paulo. Desde 2011, ele e
sua equipe investigam a possibilidade de Europa, uma das principais
luas de Júpiter, ser habitável. A princípio, estudos anteriores já
haviam indicado a existência de um oceano sob a superfície de gelo do
astro — a água em estado líquido é condição essencial para a existência
de vida. A isso soma-se o fato de que Europa possui uma temperatura e
uma pressão adequadas para abrigar um ser vivo, apesar de não estar na
“zona habitável” do Sol. Mas, mesmo com todos esses indícios, Galante só
se convenceu de que, talvez, a lua pudesse sustentar vida em seu
interior ao observar um grupo de pequenas bactérias (Desulforudis audaxviator), encontradas a 2,8 quilômetros abaixo do solo em uma mina de ouro na África do Sul.
Esses minúsculos microrganismos viviam em
um ambiente tão inóspito que eram a única forma de vida encontrada no
local. “Essas bactérias estavam vivendo isoladas lá, talvez por milhões
de anos”, disse o pesquisador. A uma distância tão abaixo da superfície,
não há luz nem oxigênio suficientes para praticamente qualquer ser vivo
sobreviver — mas, para esses pequenos micróbios, nada disso é
necessário. Como todos os extremófilos, eles conseguem viver em
condições extremamente adversas. Essas bactérias, em especial, se
alimentavam de materiais derivados da desintegração radioativa de
minerais nas rochas que estavam no local.
Foi então que Galante percebeu que a
energia radioativa presente em Europa talvez pudesse servir para
sustentar microrganismos como a D. audaxviator. Para testar sua
hipótese, ele desenvolveu um estudo teórico que calculava a quantidade
de energia necessária para manter as bactérias e comparava com dados da
quantidade de energia que a lua de Júpiter teria a oferecer. Com isso,
ele avaliou a capacidade de carga daquela espécie naquele ambiente — ou
seja, quantos microrganismos aquele meio seria capaz de suportar,
pensando em número de células por quilo de rocha — e descobriu que
Europa teria as condições mínimas para ser considerada habitável. O que
não significa que já existem bactérias vivendo lá.
“Europa parece ter as condições
necessárias para sustentar vida”, diz Galante. “Isso é importante tanto
para a busca de vida em outros planetas quanto para a compreensão de
como os seres vivos surgiram aqui na Terra. Provavelmente, os primeiros
organismos eram muito parecidos com esses que estamos estudando e
surgiram em condições muito parecidas às observadas na mina em que
estavam.”
Pesquisas na Terra
Assim como o estudo de Galante, muitas
pesquisas na área de astrobiologia utilizam microrganismos e habitats
extremos encontrados na Terra para fazer suas investigações. Além de ser
uma saída mais barata, os ambientes inóspitos que encontramos no nosso
planeta mimetizam com suficiente precisão as condições encontradas em
outros astros, possibilitando estudos mais aprofundados do que os que
seriam feitos à distância, por meio de sondas ou espaçonaves. Com tantos
avanços na ciência nas últimas décadas, a descoberta de que não estamos
sozinhos no universo é apenas questão de tempo.
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