Sistema prevê aproveitamento máximo de resíduos; reciclagem tem potencial de R$ 9 bi
Tulio Kruse,
O Estado de S. Paulo
06 Setembro 2017 | 03h00
06 Setembro 2017 | 03h00
“A lição que tiramos da economia circular é essa mudança do processo, pois não é que a gente vai produzir menos e consumir menos. É produzir (de forma) diferente”, diz a engenheira química Beatriz Luz, que fundou a consultoria Exchange 4 Change Brasil e auxilia empresas no Brasil interessadas no tema.
O País recicla menos da metade das embalagens plásticas que renderiam novos produtos. Menos de 9% dos materiais nacionais fabricados são reciclados, conforme os dados mais recentes da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), de 2014. Além disso, a proporção de lixo destinado corretamente diminuiu no País e há queda nos índices de recuperação do plástico.
Para ao menos 20% das embalagens plásticas, no entanto, o reúso e a reciclagem já são alternativas rentáveis. Isso equivale a um potencial econômico de US$ 9 bilhões no mundo que ainda não é aproveitado, segundo pesquisa da fundação Ellen MacArthur, publicada em janeiro. A taxa de recuperação de embalagens de plástico no mundo é de apenas 14%. Essa proporção chegaria a 70% com investimentos em centros de triagem, serviços de coleta, mudanças no design de embalagens e uso de novos materiais. Cada tonelada de plástico recuperado poderia acrescentar até US$ 290 na economia, diz o estudo.
Além de ter a primeira fábrica de filamentos recicláveis para impressoras 3D, a Sinctronics também recebe equipamentos eletroeletrônicos apreendidos pela Receita Federal para dar a eles novo destino. Em vez de uma destruição dos aparelhos contrabandeados e ilegais, sem os devidos cuidados, a empresa desmembra peças e separa os materiais de cada item, para transformá-los em produtos novos, que são revendidos.
Piora. A iniciativa indústria de plástico no Brasil está na contramão da economia circular. Proporcionalmente, o País passou a reciclar menos garrafas PET. De 2012 a 2015, o volume de material reciclado diminuiu mais de 17%, de 331 mil para 274 mil toneladas por ano, enquanto a produção caiu apenas 11% no mesmo período.
Além disso, a proporção de lixo destinado de forma inadequada, em lixões, aumentou no último ano, segundo estudo divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe). Ao menos sete cidades que já destinavam seus resíduos de forma correta, com aterros sanitários, voltaram a utilizar lixões. “Muitas vezes, o processamento do material reciclável sai mais caro do que a fabricação de matéria virgem”, diz o presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, que defende desoneração tributária para as empresas de reciclagem. Para ele, as empresas de embalagens no Brasil, que assinaram um acordo setorial com regras para a reciclagem no fim de 2015, ainda são cobradas com metas muito tímidas. “Deveria haver mais fiscalização, e uma forma de comprometimento mais efetivo com as metas estabelecidas na lei.”
2 PERGUNTAS PARA...
Rodrigo Bautista, representante da ONG Forum for the Future
1.Quais lugares no mundo têm os melhores exemplos desse modelo de economia circular?
Eu vejo que eles estão aparecendo em vários lugares. No México, de onde venho, as sacolas para carregar compras são feitas de árvores, e isso sempre foi comum. E vejo exemplos bons na Escandinávia, na Inglaterra... E na América Latina há uma atitude sustentável. As pessoas aqui querem ser sustentáveis.
2.O que é o conceito design for demand, da organização não governamental Forum For The Future?
É uma ferramenta que permite a equipes de pesquisa e desenvolvimento de produtos, antes de criar uma identidade visual e uma embalagem ou produto, considerar alternativas de materiais e serviços ligados à economia circular./ COLABOROU LEONARDO PINTO
O ESTADÃO
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