Antropólogos norte-americanos provam associação entre o tamanho médio dos narizes de uma população e a temperatura e umidade do local que ela vive
Por Bruno Vaiano
17 mar 2017, 20h12 Fonte: Super Interessante/Abril
Se você não conhece alguém que acha o próprio nariz muito grande, então é provável que você seja essa pessoa. Mas não amaldiçoe seus pais por essa herança respiratória de dar inveja no Pinóquio: eles são só vítimas das napas homéricas de seus avós, que, em última instância, são culpa do clima do lugar onde viveram seus antepassados mais remotos. É o que acabam de descobrir antropólogos da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA. O artigo científico foi publicado no periódico PLOS Genetics na última quinta.
O que dá a cada um de nós um conjunto de características faciais tão único ainda é um mistério para a ciência. É muito difícil concluir se um formato específico de olho ou de boca é produto da seleção natural ou de um processo chamado deriva genética — quando as mutações são completamente aleatórias e não caminham necessariamente em direção a uma adaptação vantajosa para espécie. Mark D. Shriver, líder dessa nova pesquisa, não gosta da ideia de que Deus joga dados. E aposta que a evolução deu mais utilidade ao seu nasal sensual do que você imagina.
Para provar, Shriver analisou a largura das narinas e formato do nariz de pessoas de diferentes grupos étnicos — e percebeu que as variações eram previsíveis demais para serem resultado de mutações aleatórias. Uma das funções do seu nariz é tornar o ar que você respira mais quente e úmido, do jeito que os pulmões gostam. Em clima frios e secos, narinas estreitas fazem isso com mais eficiência. Em climas quentes e úmidos, narinas mais largas dão conta do recado. O resultado é que conforme o ser humano se estabeleceu em áreas mais e mais distantes da linha do Equador, seus pré-requisitos respiratórios mudaram — e a pressão evolutiva sobre os narizes também.
“Isso só confirma a regra de Arthur Thompson (naturalista escocês)”, contou Shriver à assessoria da universidade. “No final do século 19, ele notou que narizes longos e estreitos eram mais comuns em áreas secas e frias, e que narizes curtos e largos ocorriam em áreas quentes e úmidas. Muitas pessoas testaram a hipótese medindo crânios, mas ninguém havia analisado pessoas vivas.”
O antropólogo lembra que, nesse caso, os critérios estéticos para a seleção de parceiros sexuais podem ter dado uma mãozinha para a evolução de Darwin. Em uma comunidade que dá preferência a napas de porte, pessoas de nariz pequeno terão dificuldades de se reproduzir e deixarão menos descendentes. Embora esse tipo de pressão cultural possa ser aleatória, é mais provável que um determinado tipo de nariz tenha sido adotado como padrão de beleza justamente por se adaptar melhor à geografia local.
Moral da história? Não fique mal. Seu nariz é do jeito que é para o seu próprio bem. Ele não queria te magoar.
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