Estudos colecionam várias evidências de que a leitura é um poderoso estimulante do desenvolvimento infantil, principalmente nos primeiros anos de vida
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18 mar 2017, 17h54 VEJA/ABRIL
Educação infantil é responsável por desenvolver habilidades que serão fundamentais para o progresso escolar da criança (Thinkstock/VEJA/VEJA)
Pare e pense por um minuto: nas últimas semanas, quantas vezes você leu uma história para seu filho pequeno e quantas vezes você optou por colocar um vídeo em DVD ou na internet para eles? Se a segunda opção tem sido mais frequente por aí, a ciência tem bons motivos para você considerar uma mudança de hábito.
Há pelo menos duas décadas, borbulham evidências de que a leitura é um poderoso estimulante do desenvolvimento infantil, principalmente nos primeiros anos de vida, quando a criança não sabe ler e precisa da ajuda dos pais. Recentemente, três pesquisas sobre o tema reforçam achados mais antigos da ciência.
A primeira delas, publicada na revista americana Pediatrics, uma referência em saúde e desenvolvimento infantil, mostrou pela primeira vez que quando uma criança ouve uma história a partir de um livro, ela ativa uma parte do cérebro (hemisfério esquerdo) voltada à integração multissensorial, que integra som, estimulação visual e apreensão de sentido. Isso significa que com a leitura em voz alta realizada por um adulto ela consegue “enxergar” a história dentro de suas cabeças e entende-la, mesmo sem ler ou ver figuras.
Pode parecer óbvio, mas esta é uma habilidade essencial para que no futuro a criança possa compreender a leitura de livros sem imagens, por exemplo. Crianças que não ouvem muitas histórias na infância ou não têm contato com livros podem ter dificuldades com esta atividade no futuro. Ainda que alguns programas ofereçam conteúdo educativo, nenhuma animação ou desenho poderá substituir o impacto positivo no cérebro da criança causado pela leitura em voz alta realizada por um adulto.
Outra pesquisa recente, esta publicada no periódico JAMA Pediatrics, analisou o impacto de brinquedos tradicionais versus eletrônicos na comunicação entre pais e bebês. Isso porque a forma de comunicação dos pais com seus filhos desde o nascimento é fundamental para o desenvolvimento da linguagem deles. Quanto mais os pais conversam com os pequenos – e na medida em que esta conversa é de qualidade, maior será a capacidade da criança de se comunicar.
O que o estudo aponta é que brinquedos eletrônicos tendem a prejudicar a comunicação entre pais e filhos. Quando brincam estes brinquedos, eles se comunicam menos e com menos qualidade. Nesta mesma investigação, os pesquisadores descobriram que os livros são os brinquedos que mais estimulam a conversa: com eles, os pais falaram mais palavras, utilizaram um vocabulário mais rico e responderam mais aos balbucios dos bebês do que com qualquer outro tipo de brinquedo. Os bebês também vocalizaram mais quando brincavam com livros.
Por fim, uma outra pesquisa, esta coordenada pela Universidade de Nova York e pelo Instituto Alfa e Beto aqui no Brasil, descobriu avaliando um programa de leitura desenvolvido com famílias de baixa renda de Boa Vista, que as crianças cujos pais leem para elas em voz alta tendem a ter menos problemas comportamentais e a sofrer menos punições físicas em casa, indícios de que a leitura fortalece as relações familiares. Além disso, elas tiveram um incremento significativo de 14% na memória de trabalho, que a capacidade de armazenar e manipular informações necessárias para a realização de tarefas complexas.
O recado destes três estudos é simples: ler desde o início da vida faz a diferença na vida escolar das crianças; sempre que possível troque o brinquedo eletrônico ou a televisão por um livro; ler ajuda na escola, mas também em casa, estreitando laços afetivos.
E então, qual vai ser a história de hoje?
Disponível: http://veja.abril.com.br/educacao/livros-e-criancas-pequenas-tres-recados-da-ciencia-para-os-pais/
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