De acordo com uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de uma em cada quatro brasileiras apresenta sintomas de depressão pós-parto. O estudo, que entrevistou cerca de 23 mil mulheres entre 6 e 18 meses após o parto, foi publicado no Journal of Affective Disorders e analisou fatores por trás dessa estatística.
O trabalho foi liderado pela pesquisadora Mariza Theme, e apontou que, no Brasil, o índice de mulheres com sintomas é de 26,3%, número maior do que o registrado nos Estados Unidos, Austrália e em países da Europa.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a média de casos de depressão pós-parto em países de baixa renda é de 19,8%. Tamires Dalcol, operadora de telemarketing, conta que começou a ver a própria morte: “Vou morrer, mas pelo menos meus pais estão aí para cuidar e amar meu filho”.
Uma pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que a depressão pós-parto atinge mulheres de forma duradoura e as desarranja. O enfermeiro Hudson Pires de Oliveira Santos Júnior, defendeu a tese.
“Desanimei pra vida. Choro demais, sofro por tudo, dói o peito, me sinto fraca, pressão sempre tá alta por causa das crises. Agora estou desempregada por não conseguir creche e não ter quem fique com ele, isso me faz ficar em casa e sinto que a crise está voltando”, conclui Tamires.
Segundo Hudson, o Ministério da Saúde não estabelece estratégias para tratar as mulheres afetadas, portanto, os profissionais da saúde da Estratégia Saúde da Família não estão preparados para diagnosticar e tratar as mães que sofrem da doença.
Procurado, o Ministério da Saúde, não se pronunciou sobre o assunto.
A estudante universitária, Michelli Cristini de Oliveira, conta que hoje não consegue se imaginar sem a filha, mas que, na época, a situação foi diferente: “Vi como se minha vida estivesse acabando. Tive que trancar a faculdade e fui voltar quando ela estava com 5 anos. Quase morri no parto e ainda tive que ouvir da equipe médica que ela nasceu sem respirar porque fui mole. Acho que todos esses fatores ajudaram para eu entrar em depressão”, disse.
É importante diferenciar tristeza de depressão pós-parto, como salienta a médica Cássia Rosário: “A tristeza é uma estado afetivo caracterizado pela falta de alegria, ou seja, ficamos tristes por não conseguirmos algo que queríamos, mas passa. Na depressão pós-parto, apesar de também ter a tristeza, os sintomas presentes são irritabilidade leve ou severa, ansiedade, oscilação de humor, fadiga e sentimento de abandono e vontade de prejudicar seus bebês”, explica.
A depressão pós-parto acontece, principalmente, devido às alterações hormonais decorrentes do término da gravidez, mas o cenário em que essa mãe está inserida também influencia o quadro, tais como as condições financeiras, a presença ou ausência do pai.
O estudo da Fiocruz detalhou um perfil que pode ajudar a explicar quem são as mulheres mais propensas a desenvolver o problema. A maioria das mulheres que sofre com depressão pós-parto no Brasil é da cor parda, tem em média 25 anos, baixa condição econômica, hábitos não saudáveis, já tinham outros filhos e não planejaram a gravidez.
Sintomas
A depressão pós-parto pode se manifestar de diferentes formas. Alguns sintomas são sentidos pela maioria das mães após o parto, mas na depressão pós-parto eles são mais graves.
Sentir-se acabada e triste a maior parte do tempo, falta de concentração, ter pensamentos suicidas, sentir-se inútil e incapaz de desejar coisas e exaustão permanente (mesmo quando consegue descansar um pouco), são alguns dos sintomas que podem indicar a doença.
Para a psicóloga Brenda Rocco “é normal ter dias ruins. Mas, se a mulher está tendo esses sentimentos na maioria dos dias, e não parece estar melhorando, provavelmente está com depressão pós parto”, alerta.
Baby Blues
Segundo cartilha distribuída pelo Instituto de Psicologia da USP, a tristeza materna, conhecida também por baby blues, é a forma mais comum e leve de depressão. Alguns dias após o parto, você pode se sentir exultante em alguns momentos e logo em seguida muito sentimental e chateada, chorando sem nenhum motivo em particular.
Essa tristeza pode ser causada, em parte, pelas mudanças repentinas nos níveis de hormônio feminino após o parto; e, em parte, pelo próprio choque emocional do parto, que marca o início da percepção concreta da responsabilidade de ter que cuidar de um pequenino ser e de todas as mudanças.
Disponível: http://atarde.uol.com.br/cienciaevida/noticias/1845275-uma-a-cada-quatro-brasileiras-sofre-de-depressao-posparto
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