No maior congresso mundial sobre câncer, pesquisadores apresentam abordagens comportamentais que melhoram a qualidade de vida dos doentes
postado em 17/06/2017 08:00
/ atualizado em 17/06/2017 11:52CORREIO BRAZILIENSE
Jane Beith, oncologista clínica da Universidade de Sydney, apresentou o resultado da fase II de uma intervenção psicológica, chamada Conquer Fear (Conquistando o medo), voltada a pacientes que já passaram pelo tratamento, mas temem a recorrência do câncer. “Por enquanto, faltam intervenções para aliviar esse sentimento”, diz.
O estudo coordenado por Beith incluiu 222 sobreviventes de câncer de mama nos estágios 1,2 e 3; câncer colorretal e melanoma, que afirmavam temer a recorrência do tumor. Eles foram divididos, aleatoriamente, para participar do Conquer Fear ou em um treinamento de relaxamento, que serviu como grupo de controle. Todos haviam terminado o tratamento entre dois meses a cinco anos antes de entrar na pesquisa, e estavam livres da doença. Os participantes do segundo grupo receberam sessões individuais de 60 minutos, ao longo de 10 semanas. Os demais entraram no grupo do Conquer Fear.
Trata-se de uma intervenção baseada em uma abordagem teórica desenvolvida pelos autores, que ainda não está pronta para uso clínico. Terapeutas treinados conduziram as sessões individuais, que duravam de 60 a 90 minutos, também por 10 semanas. O foco era a aceitação da incerteza sobre a recorrência do câncer, o ensino de estratégias de controle da preocupação, e a ajuda a se concentrar nos objetivos de vida, entre outros.
No fim, os pesquisadores avaliaram as respostas de um questionário de 42 itens sobre o medo da volta do câncer, que foi preenchido por ambos os grupos. A pontuação ia de 0 a 168, em ordem crescente de temor. O inquérito foi realizado logo após as intervenções, e três e seis meses depois. De acordo com Jane Beith, a redução do medo de recorrência foi significativamente maior entre aqueles que participaram do Conquer Fear (em média, 18,1 pontos a menos em relação ao primeiro questionário), comparado aos que fizeram as sessões de relaxamento (7,6 pontos a menos).
Tecnologia
Já Viviane Hess, oncologista clínica do Hospital Universitário de Basel, na Suíça, investigou um método de controle do estresse de pacientes que acabaram de receber o diagnóstico. “A maior parte das pessoas exibe níveis significativos de estresse quando são diagnosticadas, o que afeta não apenas a qualidade de vida, mas também pode impactar negativamente o curso da doença e a habilidade de o paciente tolerar o tratamento. Ainda assim, poucos recebem suporte psicológico”, afirma.
Hess conduziu uma intervenção, a Stream, de oito semanas, realizada pela internet, e desenvolvida por oncologistas e psicólogos. Ela é baseada em abordagens já conhecidas da terapia cognitiva, aplicadas pessoalmente, e cobre oito tópicos, como interação social, sentimentos, redução cognitiva do estresse e reação corporal ao esgotamento mental. Para cada ponto, os participantes receberam informações escritas e em áudio e, depois, completaram exercícios e questionários.
No estudo, 129 pacientes de câncer de mama, pulmão, ovário, gastrointestinal, melanoma e linfoma que haviam iniciado o tratamento médico em até 12 semanas, foram divididos em dois grupos. Parte recebeu a intervenção Stream e o restante não teve apoio psicológico. Depois de dois meses, os que participaram do programa haviam alcançado uma melhora significativa na qualidade de vida, avaliada em questionários sobre estresse e depressão.
Os pesquisadores usaram uma escala de 0 a 10, em ordem decrescente de satisfação (de 0 a 4 nível baixo de estresse, e de 5 a 10, nível alto). No fim, a pontuação daqueles que participaram do Stream caiu de 6 para 4, e continuou a mesma (6) no grupo de controle. “As novas tecnologias abrem oportunidades”, acredita Hess. “Com essas intervenções, podemos dar o tão importante suporte psicológico para os pacientes no conforto de suas salas de estar ou em outros locais com acesso à internet. E, mesmo o contato sendo on-line, parece que os laços terapêuticos entre pacientes e psicólogos são mantidos”, diz.
Tecnologia
Já Viviane Hess, oncologista clínica do Hospital Universitário de Basel, na Suíça, investigou um método de controle do estresse de pacientes que acabaram de receber o diagnóstico. “A maior parte das pessoas exibe níveis significativos de estresse quando são diagnosticadas, o que afeta não apenas a qualidade de vida, mas também pode impactar negativamente o curso da doença e a habilidade de o paciente tolerar o tratamento. Ainda assim, poucos recebem suporte psicológico”, afirma.
Hess conduziu uma intervenção, a Stream, de oito semanas, realizada pela internet, e desenvolvida por oncologistas e psicólogos. Ela é baseada em abordagens já conhecidas da terapia cognitiva, aplicadas pessoalmente, e cobre oito tópicos, como interação social, sentimentos, redução cognitiva do estresse e reação corporal ao esgotamento mental. Para cada ponto, os participantes receberam informações escritas e em áudio e, depois, completaram exercícios e questionários.
No estudo, 129 pacientes de câncer de mama, pulmão, ovário, gastrointestinal, melanoma e linfoma que haviam iniciado o tratamento médico em até 12 semanas, foram divididos em dois grupos. Parte recebeu a intervenção Stream e o restante não teve apoio psicológico. Depois de dois meses, os que participaram do programa haviam alcançado uma melhora significativa na qualidade de vida, avaliada em questionários sobre estresse e depressão.
Os pesquisadores usaram uma escala de 0 a 10, em ordem decrescente de satisfação (de 0 a 4 nível baixo de estresse, e de 5 a 10, nível alto). No fim, a pontuação daqueles que participaram do Stream caiu de 6 para 4, e continuou a mesma (6) no grupo de controle. “As novas tecnologias abrem oportunidades”, acredita Hess. “Com essas intervenções, podemos dar o tão importante suporte psicológico para os pacientes no conforto de suas salas de estar ou em outros locais com acesso à internet. E, mesmo o contato sendo on-line, parece que os laços terapêuticos entre pacientes e psicólogos são mantidos”, diz.
Palavra de especialista - Cuidado global
“Essas pesquisas vêm para confirmar ainda mais a importância do suporte psicológico e dos bons resultados que se obtém com as técnicas de intervenções psicológicas aplicadas. Quando atuamos em oncologia, sabemos que é imprescindível cuidar do paciente de forma global. Tudo que interfere na qualidade de vida do paciente oncológico está cada vez mais sendo estudado e valorizado. Tratar da doença, cuidar dos aspectos nutricionais, preocupações com a reabilitação pós-tratamento são alguns dos aspectos fundamentais para o paciente. Da mesma forma, é importante cuidar do emocional e do mundo interno do paciente. É maravilhoso constatar que cresce a cada ano, a cada evento da Asco, que é o maior congresso mundial de oncologia, o reconhecimento dos aspectos psicológicos e a importância dos estudos sobre as intervenções psicológicas que possam beneficiar ainda mais o paciente. É visível o crescimento da Psico-Oncologia e, acredito que as contribuições dessa especialidade só tendem a crescer e se fortalecer ainda mais. Graças aos profissionais da área e dos estudos realizados, a Psico-Oncologia tem obtido a valorização e reconhecimento tão necessários dentro da oncologia.”Gláucia Flores, psicóloga oncológica do Instituto Aliança de Oncologia e membro da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia
Três perguntas
O que há de mais eficaz para ajudar o paciente de câncer a lidar com o diagnóstico?
O momento do diagnóstico de uma doença como o câncer é caracterizado normalmente por sentimentos que podem ocasionar grande desequilíbrio emocional e familiar, pois é um momento de grande impacto. As pessoas lidam com o câncer como lidam com muitos outros problemas na vida — cada uma à sua maneira. Contudo, se é possível sugerir uma forma eficaz de ajudar o paciente a enfrentar esse momento, seria buscar apoio, tanto da família, dos amigos, bem como ajuda profissional, e, nesse aspecto, o suporte psicológico pode contribuir significativamente. Obter informações corretas junto a equipe profissional, estar a par do que poderá acontecer pode aliviar a ansiedade, pois a pessoa terá maior sensação de controle. Em resumo: expressar e compartilhar as emoções e sentimentos, cuidar de si próprio; se possível e autorizado pelo médico, fazer alguma atividade física e também buscar alguma outra atividade que proporcione prazer e bem-estar são algumas dicas para enfrentar esse momento difícil. E lembrar que há vida além da doença e tratamento, e que é possível viver e realizar muitas das suas atividades cotidianas apesar de estar passando por um tratamento oncológico.
A gravidade da doença influencia no nível de estresse?
Quando o paciente tem consciência da gravidade da doença, os sentimentos de angústia, medo e insegurança se intensificam, o que, consequentemente, acaba aumentando o nível de estresse. Por isso, a importância de também cuidar dos aspectos emocionais e psicológicos, pois eles também interferem na resposta e na aderência do paciente ao tratamento.
Mulheres e homens lidam de forma parecida?
Os sentimentos e angústias despertados frente ao adoecimento são, de certa forma, comuns as mulheres e homens. Porém, a forma de lidar e enfrentar a situação difere, devido, principalmente às imposições sociais que ainda existem na nossa cultura. Vivemos numa sociedade que ainda associa o cuidado com a saúde, consigo e o cuidado com o outro ao âmbito feminino, tanto que os serviços de saúde são pouco frequentados pelos homens. Dessa forma, os homens têm maior dificuldade de reconhecer e expressar seus sentimentos, o que acarreta maior dificuldade de se apropriar do suporte familiar, social ou mesmo psicológico. Já as mulheres expressam melhor suas emoções, porque, socialmente, é “permitido” e “aceitável” que a mulher demonstre mais suas fragilidades e exponha seus sentimentos. Essa é uma questão que merece atenção, pois, independentemente do gênero, há sofrimento, há angústias que precisam ser expressas, ouvidas, acolhidas e cuidadas. É preciso e necessário que o paciente, homem ou mulher, possa obter o adequado suporte para atravessar esse momento.
* A repórter viajou a convite da Sirtex
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