Testada em animais, substância evita e reverte o acúmulo da proteína tau no cérebro, condição que contribui para o surgimento de doenças neurodegenerativas
postado em 26/01/2017 06:00
/ atualizado em 26/01/2017 10:18
Paloma Oliveto
Elas são importantes para manter a estabilidade dos neurônios. Porém,
quando se tornam defeituosas, acabam contribuindo para o desenvolvimento
de doenças degenerativas para as quais não existe cura. Entre essas
enfermidades está o Alzheimer, o tipo de demência mais prevalente em
todo o mundo. Agora, pela primeira vez, um grupo de pesquisadores
conseguiu reverter os danos que as chamadas proteínas tau provocam no
cérebro e que estão associados diretamente à destruição progressiva das
funções cognitivas. Segundo os autores do trabalho, publicado na revista
Science Translational Medicine, o resultado abre caminho para o
desenvolvimento de um tratamento direcionado.
Quando a proteína tau se torna defeituosa, ela perde a capacidade de estabilizar o microtúbulo, espécie de esqueleto celular. A consequência é a formação dos emaranhados neurofibrilares — como um novelo de lã desenrolado de qualquer jeito, o cérebro fica tomado por “nós”. Muitas patologias neurológicas estão associadas a esse processo, incluindo a paralisia progressiva supranuclear, um distúrbio do movimento que pode afetar pessoas de todas as idades, e as demências frontotemporais, que geralmente surgem entre 40 e 50 anos.
Embora as chamadas taupatias — doenças neurodegenerativas causadas pelo excesso de proteína tau — sejam alvo de muitos estudos, até agora ninguém tinha conseguido reverter sua ação. “Nós mostramos no estudo um composto sintético que é o primeiro a reverter os danos associados à tau no cérebro. Essa molécula diminui os níveis da proteína circulante, prevenindo e, em alguns casos, eliminando os danos neurológicos”, afirma Timothy Miller, professor da Universidade de Washington em St. Louis (EUA) e principal autor. Os testes, porém, foram realizados com animais e não há previsão de quando — e se — os resultados poderão se aplicar a humanos.
Quando a proteína tau se torna defeituosa, ela perde a capacidade de estabilizar o microtúbulo, espécie de esqueleto celular. A consequência é a formação dos emaranhados neurofibrilares — como um novelo de lã desenrolado de qualquer jeito, o cérebro fica tomado por “nós”. Muitas patologias neurológicas estão associadas a esse processo, incluindo a paralisia progressiva supranuclear, um distúrbio do movimento que pode afetar pessoas de todas as idades, e as demências frontotemporais, que geralmente surgem entre 40 e 50 anos.
Embora as chamadas taupatias — doenças neurodegenerativas causadas pelo excesso de proteína tau — sejam alvo de muitos estudos, até agora ninguém tinha conseguido reverter sua ação. “Nós mostramos no estudo um composto sintético que é o primeiro a reverter os danos associados à tau no cérebro. Essa molécula diminui os níveis da proteína circulante, prevenindo e, em alguns casos, eliminando os danos neurológicos”, afirma Timothy Miller, professor da Universidade de Washington em St. Louis (EUA) e principal autor. Os testes, porém, foram realizados com animais e não há previsão de quando — e se — os resultados poderão se aplicar a humanos.
O que a equipe de Miller fez foi atacar, em ratos manipulados para ter os emaranhados neurofibrilares, uma molécula que atrapalha o processo de fabricação de proteínas. Antes que o gene consiga passar instruções para que as substâncias sejam produzidas corretamente, a molécula destrói o RNA mensageiro. Os cientistas desenvolveram um antídoto para isso.
Todos os dias, ao longo de um mês, eles administravam uma dose do composto aos roedores que, aos 9 meses de idade, já apresentavam problemas neurológicos devido aos emaranhados. Quando os animais tinham 12 meses, os pesquisadores mediram a quantidade de tau, de material genético da tau e de emaranhados da proteína no cérebro das cobaias. Segundo Miller, houve redução significativa dos três parâmetros, comparado aos ratos que receberam placebo.
Como os níveis também estavam mais baixos que os dos roedores de 9 meses, os cientistas acreditam que o tratamento não apenas parou, mas reverteu o acúmulo da tau. “Quando essa linhagem de ratos geneticamente modificados atinge 9 meses, o hipocampo, uma importante área do cérebro associada à memória, tipicamente está encolhido e há morte de neurônios. Mas, com o tratamento, o cérebro não estava mais tão murcho, embora não tenhamos evidência da reversão da morte neuronal”, observa o neurologista.
Medula espinhal
Os pesquisadores também testaram a técnica em um modelo primata, ministrando duas doses de placebo ou do composto no fluido cerebrospinal de macacos cinomolgos saudáveis. De acordo com Miller, no caso de um tratamento com humanos, essa seria a forma de aplicação do medicamento, pois o fluido circula da medula espinhal até o cérebro. Duas semanas depois, foi medida a quantidade de proteína tau e de RNA tau nos animais. Novamente, o composto reduziu ambos os parâmetros.
O neurologista ressalta que tratamentos com oglionucleotídeos, como a substância utilizada nos testes, foram aprovados recentemente nos EUA para tratar distrofia muscular de Duchenne e atrofia muscular espinal. Agora, a Universidade de Washington está em processo de obtenção da patente para reduzir os níveis de tau. “Essa é uma abordagem bastante promissora”, diz.
Otávio Castello, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer, ressalta que o estudo é uma peça a mais no quebra-cabeça das doenças neurodegenerativas. “Para isso ser replicado em humanos, ainda precisa muita coisa. Esse é o primeiro nível da pesquisa. Para virar um remédio de fato, a gente tem uns 10 anos pela frente”, diz. “Eles conseguiram reduzir a quantidade de proteína tau, não só de nova, mas daquela que estava depositada no cérebro em degeneração. Além disso, viram que a quantidade de neurônios mortos era menor. A redução do volume do hipocampo, que com a doença vai murchando, também tinha desacelerado.”
Segundo o especialista, em ratos, o remédio foi promissor em relação a uma das vias pelas quais a doença de Alzheimer se estabelece no cérebro. “É interessante como perspectiva de pesquisa, mas não pode ser replicado imediatamente em humanos”, ressalta. Castello também destaca que atacar um dos mecanismos associados à destruição do cérebro pelo Alzheimer não significa atacar a causa da doença. “Isso representa um novo remédio? Não. Representa a perspectiva do desenvolvimento de novas drogas que consigam trabalhar adequadamente com a proteína tau”.
"Para isso ser replicado em humanos, ainda precisa muita coisa. Esse é o primeiro nível de pesquisa. Para virar um remédio de fato, a gente tem uns 10 anos pela frente”
Otávio Castello, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer e não participante do estudo
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