Recaptura de dois exemplares da espécie Eretmochelys imbricata (tartaruga-de-pente) impressiona pesquisadores do Projeto Tamar
Publicado: Sexta, 03 de Março de 2017, 14h00
Brasília (03/03/2017) – Pesquisadores do Projeto Tamar, mantido pela união de esforços da Fundação Pró-Tamar e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Centro Tamar/ICMBio), ficaram impressionados com duas recentes recapturas internacionais de tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata): uma nas Bermudas e outra na ilha Barbados, no Caribe.
As duas tartarugas foram marcadas como juvenis no Atol das Rocas, no Brasil. As recapturas confirmam que os animais desta espécie realizam regularmente longas migrações, durante as diferentes fases de seu ciclo de vida. Os dados obtidos pelo Tamar no País têm contribuído para incrementar o conhecimento sobre a natureza migratória dessa espécie criticamente ameaçada de extinção e ajudado a protegê-la.
As campanhas de marcação no Brasil começaram nas áreas de desova, em 1982, mas desde 1989 esforços também são conduzidos para identificação dos animais juvenis em suas áreas de alimentação. A metodologia envolve a captura e a marcação dos animais utilizando duas anilhas metálicas, aplicadas uma em cada nadadeira anterior da tartaruga.
“A partir daí o animal é individualizado e devolvido ao mar, possibilitando identificá-lo em uma posterior recaptura e comparar os dados, gerando informações valiosas para a conservação, como as taxas de crescimento, deslocamentos e sobrevivência”, diz o coordenador do Tamar em Fernando de Noronha e no Rio Grande do Norte, Armando Barsante.
Bermudas e Barbados
A tartaruga que foi recapturada nas Bermudas, havia sido marcada em janeiro de 2006 com 56 cm de comprimento de casco e ainda vista mais duas vezes no Atol das Rocas em 2008. De acordo com o coordenador, na primeira captura notou-se que a nadadeira posterior esquerda estava quebrada.
“Isto não foi um empecilho para que ela nadasse mais de 5.190 quilômetros até as Bermudas, tendo sido capturada por um pescador que a fisgou em um anzol no dia 22 de maio de 2015. O pescador chamou o resgate e ela foi admitida no programa de reabilitação do Museu e Aquário das Bermudas para remoção do anzol e tratamento. Pelo tamanho que apresentou (62 cm de casco) o animal provavelmente ainda se encontrava em estágio juvenil”, conta Barsante.
A outra recaptura, em Barbados, foi ainda mais extraordinária, segundo o coordenador do Tamar, pois a tartaruga foi avistada desovando em duas ocasiões. Marcada ainda juvenil, em fevereiro de 2005 com 56 cm de comprimento de casco, essa tartaruga migrou mais de 3.400 quilômetros até chegar na sua área de reprodução, medindo 90 cm de casco.
“Esse é um registro raro, de uma tartaruga possível de acompanhar a mudança do estágio de vida de juvenil para adulto”, destaca Barsante. As tartarugas marinhas são conhecidas por crescerem lentamente, levando frequentemente mais de três décadas para atingirem a maturidade sexual.
Outras quatro tartarugas de pente marcadas como juvenis no Atol das Rocas também foram vistas desovando na costa do Brasil, sendo duas no Rio Grande do Norte (nas praias de Malembá e Olho D’água) e outras duas na Bahia (em Ilhéus e Itacimirim).
Na África
Na década de noventa, uma tartaruga-de-pente marcada no Atol das Rocas foi recapturada na Africa, em Dakar, Senegal, a uma distância de aproximadamente 3.680 quilômetros. Pouco depois, duas tartarugas-de-pente marcadas em Fernando de Noronha foram recapturadas na Guiné Equatorial e Gabão, percorrendo uma distância de pouco mais de 4.600 quilômetros.
No Brasil, a tartaruga-de-pente é conhecida por desovar exclusivamente no litoral continental, com concentrações mais expressivas no litoral norte da Bahia e no litoral sul do Rio Grande do Norte, mas existem desovas também em menores concentrações por toda a região Nordeste.
As juvenis estão distribuídas pela costa norte-nordeste e menos frequentemente na costa sul-sudeste. Importantes áreas de alimentação são conhecidas nas ilhas oceânicas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas, onde mais de 700 tartarugas de pente juvenis já foram marcadas.
Para animais que podem se dispersar por uma área tão vasta, são necessários vários métodos que facilitem a sua detecção. As anilhas metálicas são meios muito eficazes, pois permitem que qualquer pessoa, qualquer civil comum que encontre uma tartaruga viva ou morta, identifique visualmente se é um animal marcado ou não.
As anilhas contêm informações de contato do Projeto Tamar, possibilitando que a pessoa entre em contato para repassar a informação. Esses retornos de dados são considerados preciosos pelos pesquisadores e podem contribuir muito para ampliar o conhecimento sobre esses animais e ajudar a protegê-los. Veja como entrar em contato aqui.
O Tamar
O Projeto Tamar começou nos anos 80 a proteger as tartarugas marinhas no Brasil. Com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, hoje o projeto é a soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarutas Marinhas, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Centro Tamar/ICMBio).
Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
Comunicação ICMBio – (61) 2028-9280 – com informações do Projeto Tamar
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