Relatório sustenta que é possível alimentar as 9,6 bilhões de pessoas que vão habitar a terra em 2050 sem o uso dessas substâncias
9 mar 2017, 09h54 - Atualizado em 9 mar 2017, 09h59 Fonte: Veja/Abril
Safra deve bater novo recorde em 2014 no Brasil (Cristiano Mariz/VEJA)
“É hora de derrubar o mito de que pesticidas são necessários para alimentar o mundo” afirmou Hilal Elver, relatora da Organização das Nações Unidas (ONU), na semana passada. A especialista em leis ambientais apresentou, junto a Baskut Tuncak, um novo relatório no qual defende que o uso de pesticidas não contribui para a erradicação da fome, sendo ainda prejudicial à saúde e à alimentação. Hial disse também que é hora de se “criar um novo processo global de transição para comidas e modos de produção mais seguros e saudáveis” durante a apresentação do documento, no Conselho de Direitos Humanos da entidade.
A publicação condena o uso de pesticidas e defende que é possível alimentar as 9,6 bilhões de pessoas que vão habitar a terra em 2050, segundo projeções da ONU, sem o uso das substâncias. Isso porque a produção alimentícia atual já têm a capacidade de suprir a demanda de 9 bilhões de indivíduos e que o problema está na “pobreza e desigualdade”, afirmou Hilal. No entanto, para a Associação de Proteção à Colheita, na Grã-Bretanha, segundo dados da própria ONU, sem o uso de ferramentas que protegem as plantações, “se perderia 80% da colheita para insetos, ervas daninhas e doenças”.Riscos dos agrotóxicos
O recente relatório traz dados do impacto dessas substâncias, cujo uso cresceu “dramaticamente” nas últimas décadas, no meio ambiente e na saúde do homem. Ele menciona um estudo da Universidade de Lund, de 2013, que conclui que os praguicidas são responsáveis por, aproximadamente, 200 mil mortes envenenamento agudo. E, 99% delas são em países em desenvolvimento, segundo dados da ONU e da Organização Mundial da Saúde, onde “saúde, segurança e regulações ambientais são mais fracas e aplicadas com menos rigorosidade”, de acordo com o texto da ONU.Conforme divulgado pelo órgão, a exposição crônica a pesticidas tem sido associada ao câncer, ao Alzheimer, ao Parkinson e a distúrbios hormonais, de desenvolvimento e de esterilidade.
Agricultores, comunidades que vivem perto de plantações, indígenas, mulheres grávidas e crianças são os mais vulneráveis à exposição desses componentes químicos e requerem proteções especiais. Para os especialistas, é obrigação dos estados defender sua população desse perigo oferecido. “Sem uma regulamentação harmonizada e rigorosa sobre a produção, venda e níveis aceitáveis de utilização de pesticidas, a carga dos seus efeitos negativos é sentida pelas comunidades pobres e vulneráveis nos países que têm mecanismos de fiscalização menos rigorosos”.
Além disso, esses agrotóxicos são resistentes, persistindo por décadas na natureza e contaminando o solo e a água, o que compromete a biodiversidade e oferece uma ameaça de contaminação para todo o ecossistema. Os especialistas mencionaram que os neonicotinóides, insecticidas derivados da nicotina, são ainda mais assustadores, já que podem estar relacionados ao desaparecimento de abelhas no mundo. Eles disseram que o consequente desbalanço prejudicaria 71% da produção de alimentos polinizados pela espécie.
Essas substâncias também apresentariam um grande risco para os consumidores. “Os maiores níveis de pesticidas são quase sempre encontrados em legumes, folhas verdes e frutas, como maças, morangos e uvas”. Eles também podem “se acumular biologicamente em animais de fazenda” que os consomem e acumulam na gordura corporal, sendo encontrados em ovos e no leite, segundo o texto.
Para a ONU, esses desafios apresentados pelos pesticidas são ainda mais dificultados pelas corporações que os produzem. De acordo com o documento, essa indústria “nega sistematicamente” os danos causados pelos agrotóxicos e as “estratégias de marketing antiéticas” dessas empresas “continuam iguais”.
O parecer ainda acusa o oligopólio, composto por “Monsanto e Bayer, Dow e Dupont e Syngenta e ChemChina” que controla 65% das vendas de pesticidas, de “conflito de interesses”, já que essas corporações também controlam a venda de quase 61% das sementes, conforme o texto. Os relatores também condenam os esforços dessas indústrias em “influenciar políticos e reguladores, obstruindo reformas e paralisando restrições globais à pesticidas”.
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