A imagem de Antares permite enxergar a superfície e a atmosfera do astro. Isso pode ajudar a entender como esses corpos celestes se comportam no fim da vida
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23 ago 2017, 18h21
Até para as estrelas que estão relativamente perto do Sol, sua distância do sistema solar é medida em mais de trilhões de quilômetros. Tirar uma boa foto
desses astros não é tarefa fácil e exige uma tecnologia bastante
avançada. Por esses motivos, cientistas estão animados por terem
conseguido capturar a melhor imagem já captada de uma estrela – sem ser o
Sol –, divulgada nesta quinta-feira pelo Observatório Europeu do Sul
(ESO, na sigla em inglês). Para o público em geral, a foto até pode
parecer um pouco “borrada”, mas ela permite que astrônomos observem a
superfície e a atmosfera de Antares, estrela localizada a quase 620
anos-luz (cada ano-luz equivale a 9,46 trilhões de quilômetros), com uma
definição sem precedentes.
Antares é uma estrela supergigante
vermelha relativamente fria, já nos estágios mais avançados de sua vida.
“Como estrelas parecidas com Antares perderem massa tão rapidamente na
fase final de sua evolução tem sido um problema há mais de meio século”,
disse em comunicado o responsável pela investigação, Keiichi Ohnaka, da
Universidade Católica do Norte, no Chile. Ele e sua equipe estão
utilizando a imagem e outros dados coletados pelo Very Large Telescope Interferometer
(VLTI, na sigla em inglês), do ESO, para medir o movimento do material
presente na superfície do astro. “O VLTI é a única instalação que pode
medir diretamente os movimentos de gás na extensão da atmosfera de
Antares – um passo crucial para esclarecer esse problema. O próximo
desafio é identificar o que está provocando os movimentos turbulentos.”
Para estudar a atmosfera de Antares, os
pesquisadores combinaram o VLTI com três telescópios auxiliares e um
instrumento chamado AMBER, capaz de criar imagens separadas da
superfície da estrela em uma pequena faixa de comprimentos de onda
infravermelhos. Comparando a diferença entre a velocidade do gás
atmosférico em diferentes pontos do astro e a velocidade média em toda a
superfície, a equipe criou o primeiro mapa de velocidade bidimensional
da atmosfera de uma estrela diferente do Sol.
Os astrônomos encontraram gás turbulento
e de baixa densidade muito mais distante da superfície da estrela do
que o previsto. Com isso, eles concluíram que essa movimentação não
poderia resultar de uma convecção, um movimento de matéria em grande
escala que transfere a energia do núcleo para as partes mais externas
das atmosferas das estrelas. Eles afirmam que talvez um novo processo,
atualmente desconhecido, pode ser a explicação desses movimentos nas
atmosferas de supergigantes vermelhas como Antares.
“No futuro, esta técnica de observação
poderá ser aplicada a diferentes tipos de estrelas para estudar suas
superfícies e atmosferas em detalhes sem precedentes. Isto foi limitado
apenas ao Sol até agora”, conclui Ohnaka. “Nosso trabalho traz a
astrofísica estelar para uma outra dimensão e abre uma janela
inteiramente nova para observar as estrelas.”
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