Meio Ambiente & Desenvolvimento Humano

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O ESTUDO PARTNER, OS INOCENTES DO LEBLON E A EXPLOSÃO DA EPIDEMIA DE HIV ENTRE OS JOVENS GAYS.


Dr Fábio Araujo é Médico Infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Centro de Referência e Treinamento em DST / Aids em São Paulo, Capital.

05 Fev 2017
Desde o início da epidemia de HIV nos anos 1980, os portadores e notadamente a comunidade gay, tragicamente atingida, foram marcados por estigma e segregação. "Peste Gay" foi um dos primeiros nomes que a imprensa norte-americana deu à então nova doença.
Muitos esforços têm sido feitos ao longo dos anos para gerar empatia e aceitação social aos portadores de HIV; leis anti-segregacionistas foram criadas em vários países, bem como campanhas esclarecendo que o convívio com pessoas HIV+ não é contagioso: "abraçar um soropositivo" não transmite HIV.
No entanto, os esforços para gerar empatia e aceitação não podem se revestir de "meias-verdades", que possam expor outros indivíduos ao risco de infecção.

Após o advento das medicações antirretrovirais potentes (coqueteis), vários estudos têm demonstrado que quando os pacientes HIV positivos estão em tratamento e com Carga Viral de HIV indetectável, menor é o risco de transmissão                                                                                               no nível populacional.
Visando melhor compreender esse fenômeno, o Estudo Partner foi conduzido em diversos centros da Europa e envolveu de 2010 a 2014 um total de 1166 casais sorodiscordantes (nos quais um dos parceiros é infectado pelo HIV e o outro não), e que já admitiam terem relações sexuais sem camisinhas.

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Imagem: Google
O principal critério para participar do estudo era que o indivíduo HIV+ estivesse em tratamento e com Carga Viral (CV) do HIV indetectável no momento em que iniciou a sua participação. Este estudo concluiu que não houve nenhuma transmissão de HIV entre os quais o portador PERMANECEU COM CARGA INDETECTÁVEL AO LONGO DE TODO O ESTUDO.

Políticas de saúde pública estão sendo desenhadas baseando-se nos achados deste estudo e de outros semelhantes, mas sobretudo, a Militância HIV e os Inocentes do Leblon estão apregoando aos sete cantos sobre o "Risco Zero" de se transar com um HIV+. Os aplicativos de paquera gay já trazem frequentemente a informação "Indetectável" ou "tratamento como prevenção" - inferindo-se que o proponente é HIV+ e que não há nada de mais em fazer sexo com o mesmo sem preservativos.

Esses resultados do estudo Partner são formidáveis! No entanto, a interpretação equivocada dos mesmos tem levado a uma explosão de novas infecções pelo HIV entre os jovens gays - e até mesmo entre aqueles que passaram incólumes pelos anos 1980 - 2000, por terem aberto a guarda face ao "Risco Zero" (mais uma vez o "Zero" entra na Epidemia de HIV fazendo estragos.. Quem se lembra do Paciente Zero, o comissário Canadense que teria sido o responsável pela disseminação do HIV nos Estados Unidos? (mas essa é outra história..)).

Existem algumas peculiaridades que escaparam aos "cientistas de orelhada" - aqueles que ouvem dizer mas não leram o artigo, que foram ao Congresso mas não tinham inglês suficiente para entender a palestra - mas também aos que têm discernimento para entender mas preferem fazer de conta que não viram a parte "chata" do artigo ou do estudo, por não servir ao argumento que eles abraçam de maneira passional.

Dissecando o Estudo Partner constatamos que dos 1166 casais inicialmente inscritos, somente 888 foram "recortados" para fazer a análise, dos quais, apenas 340 casais eram de Homens que fazem Sexo com Homens (HSH). Dentre os critérios para excluir casais da análise, estava o de o parceiro ter ficado com a carga viral detectável durante o estudo (55), ou não ter uma Carga Viral disponível (17). Ou seja, o estudo Partner omite o que aconteceu com 72 parceiros de pacientes que NÃO PERMANECERAM COM CARGA INDETECTÁVEL AO LONGO DE TODO O ESTUDO, ou 6% da população inicialmente incluída, de 1166.

Outo dado importante é que o Estudo detectou 6% de incorreção na informação da CV Indetectável. Ou seja, 6% dos indivíduos informaram que a CV estava indetectável, quando na verdade, não estava.

Além disso, os dados de Carga Viral do Estudo foram coletados "da vida real", ou seja, dos exames que os médicos dos pacientes no estudo lhes solicitavam rotineiramente, e não em datas pré-definidas, como em um estudo de desenvolvimento de novas drogas. E, "na vida real", nós médicos Infectologistas criamos um viés para que os nossos pacientes sempre tenham CV de HIV indetectável: nós os orientamos a não colher o exame após terem sido acometidos de doenças como resfriados, diarreias, bem como após terem tomado vacinas, pois sabemos que nestas circunstâncias a CV do HIV pode voltar a ficar detectável, o que gera transtornos para o paciente e para os serviços.

O Estudo Partner mostra que 1/5 dos pacientes envolvidos - tanto os positivos quanto os negativos - foram diagnosticados com alguma Doença Sexualmente Transmissível (DST) ao longo do Estudo, sobretudo na população HSH. Destes, 33% relataram terem feito sexo desprotegido com outros paceiros além do seu fixo.

Doze pessoas dos 888 casais avaliados foram infectadas por HIV durante o Estudo Partner, sendo 11 Gays e 1 Heterossexual, contudo foram feitas análises filogenéitcas que atestaram que o vírus com que essas pessoas foram infectadas não era o mesmo vírus do seu parceiro fixo. No entanto, três destas pessoas negaram terem tido relações extraconjugais.

Por fim, o Estudo Partner afirma em sua Discussão que "esses resultados não podem prover diretamente uma resposta para a questão se é seguro para um casal sorodiscordante praticar sexo sem preservativos".
JAMA: 2016:316(2): 171-181
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VIDHA LINUS

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