Diante do descrdito generalizado com a classe poltica brasileira, jovens tm direcionado sua formao acadmica para entrar na poltica pela porta da frente. Prefeito, deputado e at presidente so cargos que no passam s por um sonho: so objetivos de carreira.
Com Lava Jato, um polmico processo de impeachment e a exposio de acordos polticos de autopreservao, a conjuntura no muito inspiradora para a poltica. Mas esse cenrio tem sido visto como uma “janela de oportunidades” para esses jovens. Eles tm construdo currculos acadmicos com os quais poderiam almejar cargos cobiados em grandes empresas, mas a vontade de querer mudar as coisas tem sido maior.
Na sala da coordenao do curso de administrao pblica da FGV, em So Paulo, os professores Fernando Abrucio e Marco Antonio Carvalho Teixeira j apresentam reportagem, em tom de brincadeira, um grupo de alunos pelos futuros cargos: ministro, prefeita de Curitiba, prefeito do Rio, presidente.
Marcus Leoni/Folhapress | ||
Estudantes da FGV-SP tm ambies de serem prefeitos, ministros e at presidente |
A menos de um semestre de se formar no curso, Fernanda Quiroga, 22, tem uma meta traada. Em 2020, prximas eleies municipais, deve sair candidata a uma vaga na Cmara Municipal de SP. “Ao mesmo tempo em que a populao est descrente da poltica, est tambm ansiando encontrar novas pessoas”, diz.
No ltimo pleito, Fernanda trabalhou na campanha de Marina Helou, que concorreu pela Rede e na chamada Bancada Ativista, mas no se elegeu vereadora. Atuou ainda na criao de um coletivo feminista na faculdade e tambm iniciou uma segunda graduao de direito. “Sei que legislao importante no governo, ser mais uma ferramenta para mim.”
Ainda no ensino mdio, Fernanda viajou com a escola para a cidade de Imperatriz, no interior do Maranho. O contato com a realidade pobre do local, como falta de mdicos, despertou nela a ansiedade de tentar colaborar.
“Foi a primeira vez que vi a falta do Estado na vida das pessoas. Tive a sensao de que o governo era um multiplicador. O que o Estado faz de bom e de ruim vai impactar na vida das pessoas”, diz.
Esse reflexo das aes do Estado no cotidiano foi decisivo para o estudante carioca Pedro Berto, 25.
Esse reflexo das aes do Estado no cotidiano foi decisivo para o estudante carioca Pedro Berto, 25.
As obras da Olimpada provocaram remoes na Vila Autdromo, zona oeste, onde morava. Berto e a me, lder de um importante centro de candombl no local, no aceitaram a oferta de dinheiro para sair. Ento aluno de cincias contbeis com o objetivo inicial de atuar no mercado financeiro, o jovem acabou se tornando uma referncia na mobilizao contra as remoes foradas a partir de 2014.
“Percebi que a vida era muito mais que o mercado financeiro e que existiam mais coisas do que eu entendia como felicidade e bem-estar. A larguei o curso e tive outro objetivo, que s fazia sentido se tivesse na rea pblica”, diz.
Com apoio financeiro de uma jornalista estrangeira que o entrevistou durante a resistncia, fez cursinho para o vestibular de administrao pblica na FGV. Passou no ano passado. Mudou-se para So Paulo com ajuda da ONG Educafro, onde tambm deu aulas para refugiados, e hoje estuda com bolsa de 100%. Ainda recebe auxlio-moradia e transporte.
PARTIDO
Marco Antonio Teixeira, da FGV, refora que h uma parcela da juventude preocupada com questes coletivas, imbuda de valores solidrios. “A decepo com a poltica no est sendo confundida com a negao da poltica”, diz. “Para muitos, mais um fator de necessidade de mudana e de melhoria da qualidade da interveno.”
Mas a transio entre a formao e a vida prtica da poltica passa pela entrada em um partido. E, no geral, a escolha de uma legenda ainda uma angstia para os jovens.
Estudante do 1 ano de direito na USP, Leonardo Hidalgo Racy, 18, j tem frequentado alguns encontros de partidos. Sabe que ter que se filiar para entrar no jogo: ele pretende chegar a Braslia, mas planeja uma candidatura Cmara Municipal.
“Honestamente, nenhum partido atual me atrai, no me arriscaria a escolher um agora. Mas acredito que podemos provocar renovaes”, diz.
Marcus Leoni/Folhapress | ||
O estudante de direito da USP, Leonardo Hidalgo Racy, 18 |
Pablo Ortellado, docente do curso de gesto de polticas pblicas da USP, lembra que, de fato, as estruturas partidrias so muito fechadas. “O sistema no poroso para esse tipo de relao, muito difcil a entrada de pessoas novas”, diz. Ele pondera, entretanto, que h um perfil bastante comum de jovens brilhantes que esto ocupando espao na gesto pblica.
Tbata Amaral, 23, faz parte de um movimento incipiente de renovao poltica que rene outros jovens e busca se consolidar para as eleies de 2018. Ela ainda no tem partido, mas j desenha uma forma de atuao nessas estruturas.
Vinda de uma famlia pobre, Tbata ganhou uma bolsa para estudar em escola particular quando ainda estava no ensino fundamental ao ser destaque em olimpadas de matemtica de escolas pblicas. Sua trajetria desaguou em Harvard, onde foi estudar astrofsica e acabou se matriculando tambm em cincia poltica.
“Eu me esforcei, claro, mas tive oportunidades que outros no tiveram. Percebi que no podia ser cientista e que tinha que voltar para o Brasil para me envolver”, diz ela, que fundou a plataforma de mobilizao Mapa Educao.
At o meio do ano ela decide se vai se candidatar em 2018 a uma vaga na Assembleia de So Paulo. Mas, em palestras e debates, repete seu objetivo a longo prazo. “Quero ser presidente do Brasil”.
Créditos: FOLHA
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