Berlim quer instalar mictórios femininos nos banheiros públicos
Por Ana Carolina Leonardi SUPER INTERESSANTE/ABRIL
24 ago 2017, 16h55
Berlim vai mostrar ao mundo que é uma cidade inovadora – a começar pelo seu xixi. Um estudo de 99 páginas de “conceito urbano de banheiros” mostrou o plano de construir uma categoria alternativa de privada: um mictório feminino.
Mas nem adianta imaginar um urinol ao lado do outro em uma fila aberta. Mictórios femininos já foram produzidos no Japão, na Itália e na China e, na maioria dos casos, eles ficam dentro de um cubículo.
O mictório da empresa italiana Matteo Thun & Partners é a opção de design citada pelo relatório. Bem fininho, seu criador destaca que ele tem a vantagem de evitar o contato entre a pessoa e o vaso, além de permitir uma a posição mais “natural e confortável” à usuária. Você pode conferir o produto aqui.
Outra possibilidade que pode ser imitada por Berlin é o urinol feminino usado na Suíça, vizinha da Alemanha. Vista de cima, ela até parece uma privada tradicional, mas também é fina e com menos espaço para apoio (até porque encostar não é a ideia). O mictório, mais baixo que o tradicional masculino, seria usado com a mulher de costas para a parede, como em uma privada, mas agachada em posição “de esquiar”, com os joelhos dobrados para chegar no ângulo certo.
Mas porque se dar ao trabalho de criar um mictório feminino? O relatório aponta três motivos. O primeiro deles é facilitar a vida das mulheres. Em vários locais públicos, há banheiros que só atendem aos homens, com mictórios masculinos, por uma questão de espaço. Quando há banheiro femininos apropriados, as filas são enormes – e esse é um fenômeno que se repete em vários países. Segundo um estudo belga, os banheiros femininos tradicionais têm 30% menos “postos”, porque privadas ocupam mais espaço que os mictórios, então menos gente pode usar o banheiro ao mesmo tempo. A introdução do urinol feminino pode mudar isso.
O segundo motivo é economia de água. Segundo os berlinenses, mulheres chegam a dar descarga até 3 vezes por visita ao banheiro. O maior culpado disso é a necessidade de forrar o assento com papel, por motivos higiênicos. Esse papel, depois, é jogado na privada, e pode demorar umas descargas até descer inteiro (lembrando que fora do Brasil é raro ter um baldinho para jogar lixo no cubículo). Com o mictório, a necessidade de contato com o vaso diminui, e o gasto com água também.
Essa ideia já foi comprada por festivais e universidades na China. A Universidade Normal Shanxi, em Xian, afirma que dá para economizar até 162 mil litros de água por dia se todas as alunas fizerem xixi de pé, usando o mictório feminino.
O último motivo é que o mictório feminino pode ser uma ferramenta para promover banheiros neutros com relação à gênero – ou seja, que pode ser usado por homens, mulheres ou pessoas que não se adequam a nenhum desses grupos. Para isso, falta testar e implantar o design perfeito, adequado para todo mundo.
Mas o objetivo não é abraçar os banheiros neutros de uma vez e, sim, de pouco a pouco. A primeira medida, definida no laboratório, visa dar mais proteção e conforto para pessoas trans ou não-binárias que são obrigadas a usar banheiros masculinos. Portanto, para cada local público em Berlim que oferece banheiros masculinos com mictórios, será obrigatório oferecer banheiros unisex, com cubículos fechados, para quem quiser usar.
Segundo aquele estudo belga citado ali em cima, as mulheres também ganham com isso: em um banheiro unisex, a espera na fila cai de 6 minutos para apenas um minuto e meio.
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