Meio Ambiente & Desenvolvimento Humano

sábado, 2 de setembro de 2017

Um euro basta para comprar uma casa nas aldeias italianas

Autarcas lutam contra a desertificação e degradação urbana com vendas de imóveis abandonados e em ruínas. Preço é simbólico e obriga a reabilitar

Ana Margarida Pinheiro 02.09.2017 / 08:00

DINHEIRO VIVO/PORTUGAL

Fotografia: D.R.
Fotografia: D.R.
No centro histórico de Patrica – “o mais belo da Ciociaria” – o silêncio “é ensurdecedor”. À semelhança de outras cidades e vilas italianas, os moradores trocaram a calma do campo pelos grandes centros urbanos. 
Resultado: Só no centro histórico existem 38 moradias por ocupar. A maioria das casas foi abandonada há vários anos e, sem dono, estão à beira da ruína. Mas por pouco tempo, acredita Lucio Fiordalisio, presidente da Câmara. É que está em campo a nova campanha de reabilitação da cidade: “Em Patrica, casas a um euro”. 
O slogan deixa pouca margem para dúvidas e quer ser o chamariz de novos moradores. “Fiordalisio está a iniciar aqui uma das mais importantes e ambiciosas iniciativas já realizadas”, conta First, morador da cidade. 
Na prática, a iniciativa que foi lançada no mês passado dá “a oportunidade para comprar uma casa no centro histórico por um preço simbólico de um euro”, refere o município na sua página de internet. Em troca o novo dono “assume-se empenhado em realizar obras de requalificação” num período de três anos e, enquanto isso, está isento de impostos. 
Fiordalisio não é o único autarca italiano a lutar contra a desertificação das zonas históricas nas aldeias e cidades de pequena dimensão. Mais uma dúzia de aldeias, a começar pela Sicília, em 2008, têm utilizado o imobiliário para contrariar o declínio demográfico e relançar a economia. 
A campanha foi iniciada por Vittorio Sgarbi, presidente da câmara de Salemi, na Sicília. Com várias moradias em risco de colapsar e para evitar a infiltração da máfia, o autarca fez a primeira liquidação de imóveis. Gangi, na província de Palermo seguiu-lhe as pisadas e entre as várias campanhas realizadas já conseguiu novos donos para 100 moradias. Os pedidos, no entanto, são dez vezes mais. “As pessoas compraram, tanto que agora há já poucas casas disponíveis”, disse recentemente Giuseppe Pane, autarca local. 
Carrega Ligure em Alessandria, L’Aquila no Parque Nacional de Abruzzo, Montieri, Pizzone na Isernia, Maremma Montieri em Grosseto. Em todas estas cidades há imóveis a preço de saldo, com o objetivo da requalificação como critério essencial. Apenas o tempo para o fazer varia entre elas: pode ir de 6 meses a dois anos. 
Os compradores estão a chegar de todos os países do mundo, com especial apetite pelas ilhas. Em Portugal, os governos têm optado pela criação de programas habitacionais com menos impostos, ou incentivos a trabalhar fora das grandes cidades. O problema demográfico, por cá, afecta o interior do País.
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