A produção de gás carbônico pela atividade vulcânica durante a formação do Atlântico Norte explicaria um dos maiores aumentos de temperatura da história
1 set 2017, 13h54
Um período dramático de aquecimento global há 56 milhões de anos, que provocou aumentos de até cinco graus Celsius nas temperaturas e extinguiu várias espécies de organismos marinhos, foi causado por erupções vulcânicas, aponta um estudo publicado nesta quinta-feira na revista Nature.
Segundo a pesquisa, durante esse período foi observado um dos
aquecimentos mais acentuados na história da Terra, que ficou conhecido
como máximo térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM, na sigla em inglês). Os resultados sugerem que ele teria ocorrido em decorrência da liberação de gás carbônico a partir de erupções vulcânicas, enquanto a Groenlândia ainda se separava da Europa.
“Como o antigo sistema da Terra
respondeu a essa injeção de carbono durante o PETM pode nos dizer muito
sobre como o planeta poderá responder no futuro às mudanças climáticas
feitas pelo homem”, diz em comunicado o geólogo e co-autor do estudo
Gavin Foster, da Universidade de Southampton, no Reino Unido. Ainda
assim, os cientistas alertam que a evolução das emissões e da
temperatura há milhões de anos foi muito diferente da mudança climática
atual. “Em comparação com as emissões de carbono produzidas por humanos
hoje, a taxa de produção de carbono durante o PETM foi muito mais
lenta”, acrescenta Marcus Gutjahr, líder da pesquisa e geólogo do Centro
Helmholtz de Pesquisa Oceânica, na Alemanha.
Dados apontam que 150.000 anos depois do
PETM as temperaturas retornaram aos níveis anteriores ao evento – fato
que poderia indicar que há uma chance de o mesmo ocorrer com o
aquecimento observado hoje dentro de alguns milhares de anos. Porém, os
cientistas pedem mais cautela antes de fazer a comparação, pois as
causas que levaram ao PETM, que até então eram desconhecidas e agora
sabe-se que tinham relações com sucessivas erupções vulcânicas, não são
as mesmas que provocam o aumento das temperaturas atuais.
Erupções
Cientistas já sabiam que o PETM
provavelmente coincidiu com a formação de “inundações de basalto” –
grandes trechos do oceano e os continentes revestidos em lava,
resultantes de uma série de grandes erupções. Eles teriam surgido em
consequência da separação da Gronelândia e América do Norte do noroeste
da Europa, criando o Oceano Atlântico Norte.
Para verificar se esse processo seria
responsável por desencadear uma grande produção de gás carbônico, capaz
de provocar o aumento das temperaturas, Gutjahr e sua equipe
reconstruíram os valores do pH do oceano durante o período analisado,
medindo isótopos (átomos de um mesmo elemento químico que diferem em
massa) de boro e carbono em fósseis marinhos.
As análises mostraram que, durante o
PETM, mais de 12 bilhões de toneladas de carbono foram liberados para a
atmosfera. Isso é cerca de 30 vezes mais do que todos os combustíveis
fósseis queimados até o momento somados a todas as reservas
remanescentes para combustíveis fósseis. Na modelo climático produzido
pelos pesquisadores, os níveis atmosféricos de CO2 aumentaram de cerca
de 800 ppm (partes por milhão) para mais de 2000 ppm. Atualmente, a
concentração de dióxido de carbono da atmosfera da Terra é 400 ppm.
“O pH do oceano diz muito sobre a
quantidade de carbono absorvido pela água do mar no passado, mas podemos
obter ainda mais informações considerando também mudanças na composição
do carbono, pois isso fornece uma indicação de sua fonte”, explica o
geólogo Andy Ridgwell, da Universidade da Califórnia, nos Estados
Unidos, que está envolvido no estudo. “Se considerarmos as duas análises
em um modelo de clima global, apenas o vulcanismo em larga escala
durante a abertura do Atlântico Norte poderia ter sido a explicação para
desencadear o PETM”.
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