A semente do abacate pode ser usada na produção de plásticos, anticancerígenos e remédios para tratar problemas cardíacos, indica estudo norte-americano
postado em 29/08/2017 06:00
A semente do abacate é geralmente jogada fora após o consumo da fruta. Um desperdício, alertam pesquisadores da Sociedade Americana de Química (ACS, pela sigla em inglês). Os caroços e a casca que os envolve podem ser usados na produção de substâncias com aplicações diversas, da medicina a soluções industriais. A descoberta soma-se aos já conhecidos benefícios da fruta para a saúde, como a grande quantidade de potássio e fibras, além da diminuição dos níveis de colesterol e triglicerídeos no sangue, e a uma recente constatação relacionada à melhora cognitiva na meia-idade.
No
caso da equipe norte-americana, a proposta é usar as toneladas de
sementes desperdiçadas na produção de medicamentos antivirais,
suplementos alimentares, plásticos e cosméticos. De acordo com a
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, cerca de 5
milhões de toneladas de abacates foram produzidas no mundo em 2014. Na
maioria dos casos, apenas a polpa tem aproveitamento. Mesmo para os
produtores que usam os caroços para extrair o óleo de abacate, a casca é
descartada antes do processamento.
“É possível
que as cascas das sementes de abacates sejam, na verdade, uma grande
preciosidade, pois os componentes medicinais dentro delas podem
eventualmente ser usados para tratar cânceres, doenças cardíacas e
outras complicações para a saúde. Nossos resultados também sugerem que
as cascas são uma fonte em potencial de substâncias usadas em plásticos e
outros produtos industriais”, diz Debasish Bandyopadhyay, da
Universidade do Texas no Vale do Rio Grande e participante do estudo,
apresentado no Encontro e Exposição Nacional da Sociedade Americana de
Química, em Washington.
Para chegar às
conclusões, Bandyopadhyay e a equipe moeram 300 cascas secas do fruto, o
que rendeu em torno de 595 gramas de pó, transformados no equivalente a
três colheres de chá de óleo e 28 gramas de cera. Usando duas técnicas
de análise — cromatografia gasosa e espectrometria de massa —, os
investigadores detectaram 116 componentes químicos no óleo e 16, na
cera. Muitos deles, inclusive, não foram encontrados nas próprias
sementes.
Entre os achados do óleo estavam
ácido behênico, usado em cosméticos e medicamentos antivirais;
heptacosano, com potencial para inibir o crescimento de células
tumorais; e ácido dodecanoico, que aumenta o colesterol bom e reduz o
risco de aterosclerose. Na cera, foram descobertas substâncias usadas na
produção de plásticos, cosméticos e aditivos alimentares.
Bandyopadhyay conta que a equipe trabalha, agora, manipulando os
componentes descobertos a fim de otimizar o seu uso, como no
desenvolvimento de remédios com menos efeitos colaterais.
Cérebro turbinado
Os
admiradores da polpa do fruto também têm mais um motivo para
apreciá-lo. Pesquisa publicada neste mês, na revista Nutrients, mostrou
que o consumo diário de abacate aumentou seus efeitos benéficos para
quem chegou aos 50 anos. São os reflexos da ação da luteína, um pigmento
encontrado em frutas e vegetais que se acumula no sangue, nos olhos e
no cérebro e pode agir como um agente anti-inflamatório e antioxidante.
Segundo
estudo da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, os participantes que
seguiram a dieta proposta tiveram aumento da concentração da substância
nos olhos em 25%, além de melhora significativa na memória de curto
prazo e na habilidade de resolver problemas. “Os resultados desse estudo
sugerem que as gorduras monoinsaturadas, as fibras, a luteína e outros
componentes do abacate tornam a fruta especialmente eficaz em enriquecer
os níveis neurais de luteína, o que pode trazer benefícios não só para a
saúde dos olhos, mas também para a do cérebro”, enfatiza Elizabeth
Johnson, principal pesquisadora do estudo.
A
investigadora conta que os experimentos indicam que é melhor comer a
fruta. Os níveis de luteína nos olhos mais do que dobraram nos
participantes que fizeram isso se comparados aos que ingeriram
suplemento. “Logo, uma dieta balanceada que inclui essa fruta pode ser
uma estratégia efetiva para a saúde cognitiva”, ressalta. Participaram
da pesquisa 40 adultos saudáveis, com em média 50 anos, que comeram um
abacate fresco por dia durante seis meses. Os pesquisadores monitoraram o
aumento gradual da quantidade de luteína nos olhos dos voluntários e a
melhora em testes de memória, velocidade de processamento e nível de
atenção.
No lugar do abacate, o grupo de
controle comeu uma batata ou um copo de grão-de-bico por dia, que
possuem o mesmo nível de calorias, mas não contêm luteína. Esse grupo
apresentou melhora mais tímida na capacidade cognitiva. Segundo os
autores, como os resultados se baseiam no consumo de um abacate inteiro
por dia, são necessárias novas pesquisas a fim de determinar se os
benefícios podem ser replicados com o consumo da porção diária
recomendada: um terço da fruta, que contém 136 microgramas de luteína.
“Enquanto
as conclusões de um único estudo não podem ser generalizadas para todas
as populações, o resultado da pesquisa ajuda a reforçar e a avançar o
corpo de publicações sobre os benefícios do abacate no dia a dia”, diz
Nikki Ford, diretora de nutrição do Conselho do Abacate Hass, grupo que
promove o consumo da fruta nos Estados Unidos. “Abacates são nutritivos e
sem colesterol, com gorduras naturalmente boas. Por isso, são uma forma
fácil e deliciosa de se somar mais frutas ao consumo diário saudável de
plantas.”
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