Meio Ambiente & Desenvolvimento Humano

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Caroço do abacate pode ser usado na medicina e em soluções industriais

A semente do abacate pode ser usada na produção de plásticos, anticancerígenos e remédios para tratar problemas cardíacos, indica estudo norte-americano

postado em 29/08/2017 06:00


Reprodução


A semente do abacate é geralmente jogada fora após o consumo da fruta. Um desperdício, alertam pesquisadores da Sociedade Americana de Química (ACS, pela sigla em inglês). Os caroços e a casca que os envolve podem ser usados na produção de substâncias com aplicações diversas, da medicina a soluções industriais. A descoberta soma-se aos já conhecidos benefícios da fruta para a saúde, como a grande quantidade de potássio e fibras, além da diminuição dos níveis de colesterol e triglicerídeos no sangue, e a uma recente constatação relacionada à melhora cognitiva na meia-idade.

No caso da equipe norte-americana, a proposta é usar as toneladas de sementes desperdiçadas na produção de medicamentos antivirais, suplementos alimentares, plásticos e cosméticos. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, cerca de 5 milhões de toneladas de abacates foram produzidas no mundo em 2014. Na maioria dos casos, apenas a polpa tem aproveitamento. Mesmo para os produtores que usam os caroços para extrair o óleo de abacate, a casca é descartada antes do processamento.

“É possível que as cascas das sementes de abacates sejam, na verdade, uma grande preciosidade, pois os componentes medicinais dentro delas podem eventualmente ser usados para tratar cânceres, doenças cardíacas e outras complicações para a saúde. Nossos resultados também sugerem que as cascas são uma fonte em potencial de substâncias usadas em plásticos e outros produtos industriais”, diz Debasish Bandyopadhyay, da Universidade do Texas no Vale do Rio Grande e participante do estudo, apresentado no Encontro e Exposição Nacional da Sociedade Americana de Química, em Washington.

Para chegar às conclusões, Bandyopadhyay e a equipe moeram 300 cascas secas do fruto, o que rendeu em torno de 595 gramas de pó, transformados no equivalente a três colheres de chá de óleo e 28 gramas de cera. Usando duas técnicas de análise — cromatografia gasosa e espectrometria de massa —, os investigadores detectaram 116 componentes químicos no óleo e 16, na cera. Muitos deles, inclusive, não foram encontrados nas próprias sementes.

Entre os achados do óleo estavam ácido behênico, usado em cosméticos e medicamentos antivirais; heptacosano, com potencial para inibir o crescimento de células tumorais; e ácido dodecanoico, que aumenta o colesterol bom e reduz o risco de aterosclerose. Na cera, foram descobertas substâncias usadas na produção de plásticos, cosméticos e aditivos alimentares.  Bandyopadhyay conta que a equipe trabalha, agora, manipulando os componentes descobertos a fim de otimizar o seu uso, como no desenvolvimento de remédios com menos efeitos colaterais.


Cérebro turbinado

Os admiradores da polpa do fruto também têm mais um motivo para apreciá-lo. Pesquisa publicada neste mês, na revista Nutrients, mostrou que o consumo diário de abacate aumentou seus efeitos benéficos para quem chegou aos 50 anos. São os reflexos da ação da luteína, um pigmento encontrado em frutas e vegetais que se acumula no sangue, nos olhos e no cérebro e pode agir como um agente anti-inflamatório e antioxidante.

Segundo estudo da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, os participantes que seguiram a dieta proposta tiveram aumento da concentração da substância nos olhos em 25%, além de melhora significativa na memória de curto prazo e na habilidade de resolver problemas. “Os resultados desse estudo sugerem que as gorduras monoinsaturadas, as fibras, a luteína e outros componentes do abacate tornam a fruta especialmente eficaz em enriquecer os níveis neurais de luteína, o que pode trazer benefícios não só para a saúde dos olhos, mas também para a do cérebro”, enfatiza Elizabeth Johnson, principal pesquisadora do estudo.

A investigadora conta que os experimentos indicam que é melhor comer a fruta. Os níveis de luteína nos olhos mais do que dobraram nos participantes que fizeram isso se comparados aos que ingeriram suplemento.  “Logo, uma dieta balanceada que inclui essa fruta pode ser uma estratégia efetiva para a saúde cognitiva”, ressalta. Participaram da pesquisa 40 adultos saudáveis, com em média 50 anos, que comeram um abacate fresco por dia durante seis meses. Os pesquisadores monitoraram o aumento gradual da quantidade de luteína nos olhos dos voluntários e a melhora em testes de memória, velocidade de processamento e nível de atenção.

No lugar do abacate, o grupo de controle comeu uma batata ou um copo de grão-de-bico por dia, que possuem o mesmo nível de calorias, mas não contêm luteína. Esse grupo apresentou melhora mais tímida na capacidade cognitiva. Segundo os autores, como os resultados se baseiam no consumo de um abacate inteiro por dia, são necessárias novas pesquisas a fim de determinar se os benefícios podem ser replicados com o consumo da porção diária recomendada: um terço da fruta, que contém 136 microgramas de luteína.

“Enquanto as conclusões de um único estudo não podem ser generalizadas para todas as populações, o resultado da pesquisa ajuda a reforçar e a avançar o corpo de publicações sobre os benefícios do abacate no dia a dia”, diz Nikki Ford, diretora de nutrição do Conselho do Abacate Hass, grupo que promove o consumo da fruta nos Estados Unidos. “Abacates são nutritivos e sem colesterol, com gorduras naturalmente boas. Por isso, são uma forma fácil e deliciosa de se somar mais frutas ao consumo diário saudável de plantas.”
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VIDHA LINUS

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